Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Portugal tem, a começar no presidente da República, os reformados mais pessimistas e mais mal pagos da Europa. Mas a situação é transitória. O Governo garante que vai… piorar.
Agora os portugueses podem continuara atazanar o excelso sumo pontífice do PSD e primeiro-ministro do reino lusitano, Pedro Miguel Passos Relvas Coelho, mas terão de o fazer à luz da vela o que, aliás, é salutar. Desde logo porque dessa forma é mais difícil ver que os pratos estão vazios.
Mas nada disto, é claro, preocupa Passos Coelho os portugueses de primeira, de que são exemplos – entre outros, Eduardo Catroga, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Faria de Oliveira, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Mexia, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões ou Duarte Lima.
Esses, como convém, vão continuar a ter mais milhões e para que isso assim aconteça os milhões que têm pouco ou nada vão continuar a ter… cada vez menos.
Qualidade de vida dos reformados abaixo da média na Europa Ocidental? Pode lá ser? Bom. Mas mesmo que seja, sempre está uns pontitos acima do que se passa no Burkina Faso, não é senhor Aníbal Cavaco Silva?
Dois terços dos portugueses considera que o valor da reforma que têm é insuficiente para suprir as necessidades (para pagar as despesas, diz Cavaco Silva), uma proporção que aumenta entre as mulheres e as classes sociais mais baixas.
É portanto chegada a altura de Pedro Miguel Passos Relvas Coelho dizer o que dizia José Sócrates. Ou seja, os portugueses são uns mal agradecidos. Pelo menos não lhes é dito, para já, (utilizando a frase do ministro angolano Kundy Paihama) que comam farelo “porque os porcos também comem e não morrem”.
Não lhes é dito, por enquanto. Creio, contudo, que um dia destes – se calhar pela boca do pobre presidente da República - vão mesmo ter de escolher entre as duas únicas alternativas possíveis: viver sem comer ou investir em farelo.
A seguir à Hungria e à República Checa, Portugal é o país europeu onde as pensões são as mais baixas e seriam precisos em média mais 110 euros por pessoa para fazer face às despesas domésticas básicas, uma realidade que mais uma vez tem maior incidência nas classes sociais mais baixas.
Não está mal. Se Portugal é baixo em quase tudo, está por baixo em quase tudo, até por uma questão de coerência deve continuar assim. Não é isso, senhor primeiro-ministro? Não é isso, senhor presidente da República?
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: CAVACO QUEIXA-SE DE BARRIGA CHEIA
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