terça-feira, 6 de março de 2012

Portugal: OS PERIGOS DA POLÍTICA DO MINISTRO VÍTOR GASPAR




Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

Vítor Gaspar nunca disse, suponho que não dirá e aparenta um perfil democrático que me dá esperança de que nunca quererá dizê-lo... Refiro-me à frase "sei muito bem o que quero e para onde vou", ditada pelo ministro das Finanças de 1928, António de Oliveira Salazar. Arrisca-se, no entanto, a ser colocado no patamar dos homens providenciais que os pequenos poderes deste país, sempre à espera de milagreiros predestinados, acabarão por lhe destinar, caso persista este desatino governativo que o episódio da disputa da gestão dos fundos do QREN com o ministro da Economia evidencia.

A exigência de controlo de um dos poucos instrumentos de investimento público que restam tem familiaridade com a imposição, pelo então futuro líder do Estado Novo, de policiamento absoluto de todas as despesas e receitas de todos os ministérios, nos Governos ilusoriamente liderados pelos esquecidos José Vicente de Freitas, Artur Ivens Ferraz e Domingos da Costa Oliveira.

Na questão de agora, segundo a imprensa, estão em jogo cinco mil milhões de euros de investimento. Metade já terão sido destinados pelo ministro Álvaro Santos Pereira, não se sabe se bem ou mal.

Sabe-se é que a restante metade (pelo menos), se nada se intrometer, passará a ser controlada pelo ministério das Finanças. Razão? Usar esses dinheiros de forma a que contribuam como ferramentas indiretas de ajuda à política orçamental e não para o que estavam destinados - estimular o desenvolvimento.

É sempre mais fácil apresentar resultados contabilísticos (basta saber somar, diminuir e fazer cumprir, cegamente, essas contas) do que demonstrar o êxito de um qualquer investimento público, cujos efeitos muitas vezes só se fazem sentir ao fim de vários anos. Salazar, na primeira fase da sua intervenção governativa, percebeu--o e, ao fim de apenas um ano, através de cortes brutais, conseguiu que as contas do Estado tivessem saldo positivo. Esse suposto "milagre económico" deu-lhe a veneração de quem viu ali alguma coisa que, no meio de um clássico caos governativo, corrupto, tinha sentido lógico. Que o País estivesse na miséria já era coisa secundária.

Olhamos para o caos deste tempo e Gaspar aparece como aquele que não cede, que aplica as contas sem vacilar, que mantém o sentido lógico de uma política simplória, é verdade, mas que se percebe. Se lhe passar pela cabeça decidir conquistar o poder total, está a construir o caminho. Que essa política coloque, mesmo contra as suas boas intenções, o País na miséria, arrisca-se, para muitos, a ser coisa irrelevante. Isso é perigoso.

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