Susana Otão* - Jornal de Notícias
William McKinney, que vendeu os terrenos em Alcochete para a construção do Freeport, disse, esta segunda-feira, por videoconferência desde a Irlanda do Norte, que antes do licenciamento do outlet decorreram diversas negociações secretas, entre as quais reuniões entre o ministro José Sócrates e Charles Smith para fazer aprovar o projeto, pelo que foi com surpresa que viu a recusa do projeto.
Também esta segunda-feira, Rui Nobre Gonçalves, ex-secretário de Estado do Ambiente, testemunhou no julgamento do caso Freeport e confirmou uma reunião com os preponentes do Freeport mas não se lembra quem eram. Diz que nessa reunião esteve também presente o então ministro José Sócrates.
Essa reunião foi pedida pelo presidente da Câmara de Alcochete e teve como objetivo fazer sentir ao Ministério do Ambiente a importância do projeto face chumbo do outlet, explicou Rui Nobre Gonçalves no Tribunal do Barreiro.
A testemunha não esclareceu, no entanto, se os representantes do Freeport presentes nessa reunião foram os arguidos Charles Smith e Manuel Pedro (consultores do projeto) ou os administradores estrangeiros do Freeport.
O ex-secretário de Estado do Ambiente, que exerceu o cargo entre 1999 e Abril de 2002, altura em que o projeto foi aprovado, disse ainda que não teve conhecimento de qualquer solicitação de dinheiro.
A testemunha justificou que o projeto acabou por ser aprovado com base no último parecer da Comissão de Avaliação de Impacto Ambiental, depois de os promotores do Freeport terem respondido às exigências do Ministério do Ambiente. Considerou que o processo foi "público e transparente".
O tribunal ouviu também, como testemunha, José Pedro Ferreirinha, do escritório de advogados Vieira de Almeida, que acompanhou a mediação jurídica que envolveu o Freeport e os consultores Smith & Pedro, entre 2000 e 2004.
José Pedro Ferreira assegurou desconhecer qualquer situação relacionada com tentativa de extorsão, notando que a situação é de tal maneira "grave" que teria sido levado ao seu conhecimento pelas partes envolvidas no negócio se caso tivesse ocorrido.
Sobre eventuais subornos ou pagamentos ilícitos para aprovação do outlet de Alcochete disse também nada saber.
A testemunha explicou que a complexidade do projeto Freeport requereu a participação de vários advogados do escritório e que antes de assumir a coordenação o caso estava entregue à sua colega Maria Luísa Couto.
*Com Agência Lusa
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