Bissau — O grosso número de deputados do PAIGC que por cinco vezes consecutivos boicotou sessões da ANP em sinal de protesto contra o derrube do governo de Carlos Gomes Júnior decidiu viabilizar segunda-feira o início dos trabalhos da terceira sessão ordinária do parlamento guineense.
O deputado e secretário de mesa da ANP, João Sediba Sané, disse que do conjunto dos cem deputados do Colinas de Boé compareceram 89, constituindo assim o quórum manifesto.
Posto isto, o presidente em exercício da ANP, Braima Sori Djaló, anunciou que, dos pontos constados da agenda do dia, quatro foram suprimidos e os quatro outros irão merecer a análise e consequente aprovação pelos deputados.
“O nosso primeiro trabalho é a aprovação da ordem do dia, da qual podemos discutir só diplomas que haviamos já adotado, que são a aprovação final e global da proposta-lei do código de minas e pedreiras, a aprovação final e global da proposta-lei de petróleo, aprovação final e global do projeto de carreira do pessoal efetivo da ANP e a aprovação final e global da proposta-lei do estatuto de carreira docente universitário”.
Com relação a situação político-militar vigente no país, alguns deputados da bancada do PAIGC sugeriram a inclusão de um debate sobre este assunto no projeto da ordem do dia, o que originou divergências no seio mesmo desta bancada parlamentar.
“Talvez seja hoje o dia mais esperado pelo povo guineense desde o acontecimento de 12 de abril. É o dia mais esperado porque, aqueles que nos elegeram querem ouvir o nosso pronunciamento sobre esta matéria, a qual não foi falado na plenária desde 14 deste mês”, opinou um deputado do PAIGC.
“Nós que aqui estamos sentados, sabemos tudo o quantos e passou na Guiné-Bissau. Foi onde nós haviamos discutido e eu mesmo havia sugerido uma discussão sobre a morte de Hélder Proença, mas as pessoas negaram, e propuseram que a discussão se fizesse sem sua difusão pelas rádios. Porquê então essa discussão hoje com a ideia de que as pessoas esperam isso? Mas, que contradição! Quer dizer, existem questões que as pessoas não podem ouvir, enquanto há outras que elas esperam poder ouvir?”, questionou outro parlamentar.
Contra tais opiniões há a bancada parlamentar do PRS, que rejeitou tudo lembrando não ser esta a primeira que o país conhece casos do género (citando as mortes de Tagme Na Waie e Nino Vieira).
“Este não é o primeiro acontecimento deste género no país. Presidente, eu tenho ainda boa memória: em 2009 logo que se registaram aqueles acontecimentos, nós pedimos um debate sobre esses ocorridos aqui no parlamento. Mas houve uma gente que negou que isso fosse discutido por nós. Presidente, logo que foi espancado Francisco Fadul e foram mortos Baciro Dabó e Hélder Proença, nós pedimos um debate que foi aqui recusado pelos deputados. Ora, que não me venham a dizer que o acontecimento de 12 de abril, em que ninguém foi morto nem maltratado é mais importante do que os assassinatos ocorridos em 2009. Presidente, eu estou perplexo com isso”, lembrou um deputado do PRS presente na sessão, o qual desacordou com a introdução do assunto para discussão.
Como não podia deixar de ser, o líder da bancada parlamentar do PAIGC, Rui Diã de Sousa, voltou a defender a inclusão do tema na agenda dos trabalhos.
“A nossa proposta deve merecer a aceitação da plenária, porque é uma matéria de extrema importância; sobre ela nós pensamos que tem que haver um pronunciamento da ANP enquanto representantes do nosso povo que somos”, referiu.
“Nós entendemos que não podemos nos calar sobre esta matéria, temos que falar dela. Sendo assim, a nossa bancada reitera o seu pedido para inclusão deste ponto na ordem, para logo de seguida passarmos à votação do projeto da ordem do dia”, instou Rui Diã de Sousa.
O deputado Florentino Mendes Pereira, em representação do líder da bancada parlamentar do PRS, disse que não compactua com a tese do PAIGC e alertou o presidente sobre a necessidade do respeito pelo regimento do parlamento.
Braima Sori Djaló contrariou a tese de alguns deputados do PAIGC, ironizou a situação e admitiu a possibilidade de convidar o Comando militar para justificar a razão da sublevação militar de 12 abril último, uma vez que os deputados não são os responsáveis pelo golpe.
“Que o debate de urgência seja feito como mandam as normas. Nós, se se tratar de despachos, despachar-los-emos, mas com condições daquele que virá depois responder sobre o caso de 12 de abril, isso são os militares, porque eles é que fizeram o golpe. Nós não dispomos de informações para explicar nada do golpe de estado. Se concordarmos com isso, então podemos fazê-lo”, ironizou.
Entretanto, notícias da última da hora dizem que a sessão não chegou ao seu término tendo em consideração a complexidade da situação. A promessa de sua retoma é para esta terça-feira.
Fonte: Bombolom-FM
Sem comentários:
Enviar um comentário