Rui Peralta
Cubaneando (1)
A Ericsson e o bloqueio
Pois… Os USA costumam apregoar aos ventos todos (não sei se são 4 ou 7) os seus princípios sobre o comércio livre e depois aparecem estas. Parece que na sucursal panamiana da Ericsson alguém acreditou nos princípios do comércio livre e vai de fazer uns negócios de telefones com Cuba. Só que o Departamento de Comércio dos USA (Que parece ser uma entidade que zela pela forma como a liberdade comercial é aplicada) apercebeu-se do negócio e aplicou uma multa de 1 milhão, 550 mil USD, por violar a restrição de exportação dos USA contra Cuba.
O porta-voz da Ericsson, que é uma empresa dos reinos gelados da social-democracia sueca, mostrou-se indignado com o comportamento da sucursal do Panamá e fez daquelas típicas declarações dos reinos nórdicos (o expoente máximo da utopia reformista- casa real e aristocracia condignas, uma burguesia próspera e trabalhadores amarrados a um alienatório contracto social) que não são carne nem peixe e em que o sim e o não transformam-se em nim. Quanto aos trabalhadores panamianos responsáveis pelo negócio (pobres almas iludidas que acreditavam mesmo no livre comércio), foram despedidos, por ordem expressa da sede no paraíso do estado do bem-estar sueco.
As mentiritas da aldeia global
No dia 22 de Maio poderia ver, ouvir e ler-se uma notícia que rezava assim: “ A ONU pede a Cuba que clarifique as 2400 detenções realizadas este ano”. (New Herald Tribune; La Nacion; Clarín e muitos outros). Já o colombiano El Mundo intitulava a notícia assim: “Cuba, examinada por tortura”. E na Voice of América: “ONU pede conta a Cuba por repressão”. Mas de onde é que estas notícias surgiram? Muito simples. O Comité da ONU Contra a Tortura envia periodicamente aos estados membros da Convenção contra a Tortura e outros tratos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes, um documento onde estes preenchem as informações solicitadas sobre a forma como as disposições da Convenção estão a ser cumpridas e aplicadas. O documento, enviado a todos os estados que assinaram a convenção, diz assim: “O Relator solicita informação sobre o funcionamento dos serviços da polícia, as investigações penais e o processo de detenção destinada a impedir a práctica de tortura”. Mas eis que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, (des) informou qua o Comité da Convenção estava a inquerir Cuba sobre “ (…) um fenómeno conhecido como detenções de curta duração” e que o dito Comité definiu como “detenções arbitrárias”.
O problema é que para alem de mentir, os media do capital e a CIDH (esta de uma forma mais grave, pois os outros já toda a gente sabe que vivem da mentira – A mentira e só a mentira é noticia) omitiram as preocupações do Comité da ONU sobre pena de morte nos USA, a prisão de Guantánamo, a falta de prevenção da violência contra a mulher, a ratificação por parte dos USA sobre os Direitos da Criança, etc., etc., etc. Mas estes não são temas que interessem às multinacionais da comunicação social, nem aos lambe botas da CIDH e outras congéneres do império do capital.
A propósito de omissão. Esqueceram-se de noticiar aquele recente relatório da UNICEF que “acusa” Cuba de ser um paraíso da infância.
Havana, espaço da arte
A XI Bienal de Havana atirou a arte contemporânea (que habitualmente confina-se aos consagrados espaços recônditos, visíveis apenas aos iluminados, afastados dos olhares dos profanos), para a rua, rompeu barreiras, não fez concessões, tornou-se povo, para mágoa dos anjos iluminados da sabedoria estética e do deleite da forma. E foi ver e participar e sentir.
O colombiano Rafael Gómez Barro colocou uma legião de formigas pululando pelas fachadas e interiores do Teatro Fausto, onde foi acolhido pela Conga Irreversible de Los Carpinteros. Um espetáculo multiexpressivo e de múltiplas leituras que culminou com centenas de pessoas cubaneando até La Punta.
Manuel Mendive realizou, em La Punta, a performance Las cabezas, com nus totais. Em San Miguel del Padrón assistiu-se a Macsan, um projecto pluridisciplinar que criou um museu de arte contemporânea numas ruinas abandonadas e atraiu todos os moradores e vizinhança com propostas comunitárias que foram desde a conservação de produtos vegetais até a um tele centro local.
O Premio Nacional de Artes Plásticas, René Francisco Rodriguez e os seus discípulos da Cuarta Pragmática, despertaram o interesse de toda a gente com as suas casas feitas de milhares de materiais, concebidas para o inter-relacionamento e demonstrando o muito que se pode fazer com o pouco que se tem. O projecto apresentado chamava-se Ciudad Generosa. No cine Acapulco o hip-hop cubano foi rei e em Havana Velha e Centro Havana, os franceses JR e José Parlá percorreram as ruas e as praças com uma exposição itinerante intitulada “Los surcos dela ciudad” cujos modelos eram os moradores mais humildes e da terceira-idade, que se tornaram em participantes entusiastas ao verem os seus rostos expostos nas gigantografias colocadas nos espaços públicos.
E por lá andaram também os consagrados a nível mundial a mostrarem as suas obras, os seus projectos, os seus trabalhos, como a sérvia Marina Abramovic, o belga Hermann Nitsch, a brasileira Diana Rodrigues, os mexicanos Orozco e Helguera e mais não vou conseguir escrever porque me falta (é assim que a gente aqui em Angola fala e escreve português, por isso não sabemos nem queremos saber se o governo vai assinar ou não ou se já assinou o acordo ortográfico), dizia eu, porque me falta mesmo a memoria e o espaço, tantos que eles eram.
Biotecnologia
A indústria biotecnológica, iniciada em Cuba nos anos 80, quando apenas emergia em países de maior desenvolvimento, é actualmente um dos mais importantes motores de exportação da economia cubana. A experiencia do polo cientifico (á assim que é conhecida a biotecnologia e a industria farmacêutica avançada, em Cuba) tem uma especificidade no contexto da economia cubana. Inaugurada em 1982, com a criação de um pequeno laboratório com 30 cientistas que produziam Interferon, a indústria biotecnológica cresceu de forma acelerada, até chegar ao que é hoje: 27 entidades que agrupam mais de 10 mil trabalhadores, que operam fábricas em Cuba e no exterior, que produzem 141 produtos no quadro básico de medicamentos e realizam exportações na ordem de várias centenas de milhões de USD, para mais de 50 países.
Esta mola de descolagem da economia cubana, produtiva, factor de desenvolvimento, resistiu ao fatídico Período Especial, quando a economia cubana, devido á impulsão do socialismo real e ao reforço oportunistico do bloqueio yankee, sofria uma importante contracçäo do seu produto interno e dos seus mercados. Assim, as exportações geradas pela biotecnologia cresceram mais de 30% na última década, com diversos destinos de diferentes contornos regulatórios e normativos, o que requereu esquemas de negociação diversificados e inovadores. Mas tudo isso foi feito sem recorrer ao investimento estrangeiro nem aos créditos externos. Foi um investimento público integral, a cargo do Estado.
Este foi um processo que não ocorreu em nenhum outro pais Latino- Americano. Nem noutros sectores da economia cubana. O turismo e a mineração foram executados com outros processos de gestão e de financiamento diferentes. Esta é uma experiencia de considerável êxito económico e uma fonte de conhecimentos gestionários que poderão converter-se em factores decisivos de aplicação nos restantes sectores. Um futuro para o conceito de Empresa socialista de alta tecnologia, projectada e construída no terreno fértil do capital humano e sociabilidade, factores criados pela Revolução.
Fontes
Vincenzo Basile; Como convertir un informe periódico de la ONU en un acto de acusacion contra Cuba; http://cubainformacion.tv
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