quinta-feira, 12 de julho de 2012

Mais de metade do conselho científico da Lusófona diz que não analisou o "caso Relvas"



Público - Lusa

Mais de metade dos nomes divulgados pela Lusófona como fazendo parte do Conselho Científico que deu o aval às equivalências para a licenciatura do ministro Miguel Relvas diz nunca ter participado em qualquer reunião para analisar o caso.

Em respostas por escrito enviadas à Lusa, seis docentes indicados na lista divulgada pela Universidade Lusófona como fazendo parte do Conselho Científico do Departamento de Ciências Socias e Humanas no ano lectivo de 2006/2007 disseram nunca ter participado em qualquer reunião para analisar o assunto, não se lembrar de tal encontro e, num dos casos, são até apontados outros quatro nomes de membros daquele órgão que não participaram em qualquer deliberação.

A professora Selma Calasans Rodrigues afirma que “felizmente” não foi convocada para tal reunião e acrescenta ser contra as equivalências atribuídas, num despacho que é apenas assinado pelo presidente deste conselho científico, Fernando Santos Neves, segundo o processo do aluno consultado pelos jornalistas no início da semana.

“Felizmente não fui convocada para tal ou tais reuniões do conselho científico da universidade, que me deixariam bastante constrangida se lá estivesse e tivesse que votar, principalmente por ser contrária às decisões tomadas”, refere a resposta da docente.

Também o professor Luis Manana de Sousa confirma não ter estado presente em qualquer reunião para atribuição de equivalências.

Nalguns casos, os docentes contactaram os órgãos da Universidade Lusófona antes de responder, como aconteceu com Zoran Roca, que respondeu que, “depois de elucidado” nada tinha a acrescentar.

Houve também casos de docentes que disseram não se lembrar de ter discutido o assunto em sede do conselho científico, como foi o caso de Teotónio de Souza, outro nome indicado pela Lusófona como fazendo parte daquele órgão.

“Estas decisões são tomadas na comissão científica de cada departamento e, neste caso, na comissão científica do departamento de Ciência Política. Não me lembro de ter sido discutido o assunto no conselho científico da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, ou talvez não estive presente nessa reunião”, escreve

Já Manuel Tavares Gomes afirma que, embora os nomes referidos pela Lusófona fizessem parte formalmente do Conselho Científico do Departamento de Ciências Sociais e Humanas no ano letivo de 2006/2007, “há um conjunto de membros que pertencem ao CC [Conselho Científico] do Instituto de Educação”, como é o seu caso, e que “nunca participaram de qualquer conselho científico onde essa matéria tenha sido discutida.

Como exemplos Manuel Tavares Gomes aponta, entre outros, os nomes de José Grosso de Oliveira, José Braz Rodrigues e de Óscar de Sousa. Este último diz não ter memória de tal reunião.

“Já lá vão alguns anos e confesso que não tenho presente se participei nessa reunião e, no caso afirmativo, se me pronunciei sobre o assunto”, afirma o docente, acrescentando: “Posso apenas lembrar que estávamos no início do processo de Bolonha e que a legislação sobre o assunto era vaga”.

A Lusa questionou por diversas vezes nos últimos dias a Lusófona sobre se o conselho científico que a universidade divulgou foi o que analisou o caso das equivalências do ministro Miguel Relvas, mas até ao momento não obteve qualquer resposta.

De acordo com o processo do aluno que a Lusófona disponibilizou para consulta na passada segunda-feira, foram atribuídos 160 créditos ao aluno Miguel Relvas no ano lectivo 2006/2007.

Com as equivalências atribuídas pela universidade, Relvas apenas teve de fazer quatro disciplinas semestrais – Quadros Institucionais da Vida Económica Politica e Administrativa (3.º ano , 2.º semestre), Introdução ao Pensamento Contemporâneo (1.º ano, 2,º semestre), Teoria do Estado da Democracia e da Revolução (2.º ano, 1.º semestre) e Geoestratégia, Geopolítica e relações Internacionais (3.º ano, 2.º semestre).

No mesmo dia, o administrador da Universidade Lusófona, Manuel Damásio, reconheceu que “nenhum processo” teve tantos créditos concedidos por via da experiência profissional como o do ministro Miguel Relvas, considerando que se trata de “um currículo muito rico”. Manuel Damásio disse ainda que, desde 2006, altura em que entrou em vigor a reforma de Bolonha, a Universidade Lusófona avaliou 89 processos de alunos que pediram equivalências de créditos invocando a sua experiência profissional e pessoal.

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