Espaço Livre* – Direto da Redação
A média do tamanho dos bebês quando nascem continua muito baixa, apesar da diminuição da mortalidade infantil (aquela que acontece durante o primeiro ano de vida). Porém uma coisa não mudou - a fome ancestral - que assola a maior parte do Povo Brasileiro.
Quando se compara o tamanho dos neonatos nordestinos com os de populações brasileiras de melhor renda, a diferença dos nossos recém-nascidos pobres é gritante. Apesar da diminuição do número de crianças com peso insuficiente ao nascer (menos de 2.500g) tenha diminuído, este é um indicador pouco significativo.
O comprimento médio permanece sendo de 47 centímetros. (Desde 1960 venho alertando que o nordestino tem baixa estatura devido a uma precária nutrição materna e quando falo em desnutrição, englobo todas as mazelas da miséria, conferir no livro de nossa autoria Nordeste Pigmeu publicado em 1987).
Nascer pequeno não é um handicap apenas físico, é também emocional. Diminui a capacidade de aprendizado, aumenta o comportamento antissocial e a violência. Aqueles que nascem com menos de 47 cm são os que têm maior risco, já que um crescimento fetal insatisfatório poderá ter efeitos de longo prazo sobre a química do cérebro.
Em 320 mil crianças nascidas entre 1973 e 1980 na Suécia, o número de tentativas de suicídio, até 1999, era maior nas crianças que nasceram pequenas. É importante saber que os bebês incluídos no estudo tinham, em média, ao nascer, entre 50 cm e 51 cm de comprimento. No grupo analisado, houve 759 tentativas violentas de suicídio - definidas como enforcamento, uso de arma de fogo ou faca, salto de alturas, jogar-se em frente a um veículo ou afogamento.
A ligação entre o comprimento no nascimento e o risco de suicídio mostrou forte associação com o peso inferior a 2,5 kg no nascimento. O baixo peso aumenta a propensão às doenças psicossomáticas, infecciosas, degenerativas, etc.
Um crescimento insatisfatório do bebê no útero influencia a altura do bebê no nascimento e a forma como o cérebro se desenvolve. Além disso, deturpa a produção dos neurotransmissores como a serotonina, também conhecida como a substância "mágica" ligada ao desenvolvimento e ao humor de um modo geral, notadamente baixa em pessoas com depressão.
O pouco crescimento no útero poderia ser causado pelo uso abusivo de drogas, inclusive álcool, pela mãe ou por uma dieta ruim ou mesmo por um ambiente estressógeno - de Miséria. É possível identificar gestações de risco e mães em situação adversa, como aquelas com problemas sociais, mães adolescentes e as com passado criminoso. Há evidências mostrando que uma intervenção nessas mães pode ter efeito no desenvolvimento da criança, no longo prazo.
Por que não tentar agora, melhorando as cestas básicas das gestantes, com mais proteínas e melhores nutrientes, além de outras coisas mais? E pensar em um acompanhamento pré-natal que não se resuma ao fornecimento de cestas básicas ou uma orientação médica de última hora. É o melhor que se pode fazer, no momento, em prol das futuras gerações brasileiras.
Caso contrário a coisa não anda.
- Contribuição de Merado Zisman, médico psicoterapeuta. Email: meraldozisman@uol.com.br
* Este espaço é preenchido com a colaboração dos leitores. Os textos serão publicados de acordo com a oportunidade do tema e/ou seguindo a ordem de recebimento.
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