Henrique Monteiro –
Expresso, opinião, em Blogues
Em Itália, depois
de uma profunda auditoria feita ao Estado, descobriram-se preciosidades como a
existência de um gabinete destinado a pagar pensões aos sobreviventes da guerra
da unificação, que terminou há quase 150 anos. O departamento tinha um diretor,
um motorista e mais um par de pessoas que, literalmente, viviam num dolce far
niente.
Sinceramente, não
sei se a história é totalmente verdade, ou se trata de um mito. De qualquer
modo, tenho a certeza de que uma auditoria séria feita aos departamentos
estatais de Itália, da Espanha e, claro, de Portugal, encontraria muitos
anacronismos, inúmeras duplicações e, muito provavelmente, gabinetes destinados
a causas que já nem existem.
Hoje, que está
reunido o conselho de ministros para discutir o OE para 2013, era interessante
que se colocasse em cima da mesa uma hipótese séria: a de revisitar o monstro
que é o nosso Estado, com olhos de ver. Vendo onde há excessos e onde há faltas
- que também as há e muitas. Em vez de, como é costume, adicionar ou diminuir
verbas em percentagens relacionadas com os orçamentos anteriores, o que na
verdade dá de barato, e por inércia, a necessidade de todos (ou quase) os
serviços.
Há mais de 30 anos
João Salgueiro referia que seria necessário um Orçamento feito na base zero
para compreender exatamente o que era necessário e o que era supérfluo no
Estado português. Jamais foi feito. Mas hoje, que pedem aos portugueses que
paguem uma enormidade para o seu funcionamento, temos de exigir saber o que
estamos, realmente, a pagar. Não se trata de discutir no ar se queremos mais ou
menos Estado. Trata-se de, para começar, saber que Estado temos e a que funções
se dedica.
Talvez, assim,
começássemos a matar o monstro.
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