Martim Silva, diretor-adjunto | Expresso (curto)
Bom dia
Seja muito bem-vindo ao Expresso Curto, a sua newsletter matinal desta quarta-feira, 6 de novembro. Hoje falamos e muito das eleições nos EUA e do quase quase certo regresso de Donald Trump à Casa Branca quatro anos depois de ter sido dela afastado.
Venha daí comigo,
Antes de mais um convite: hoje, às 14h00, "Junte-se à Conversa" com
David Dinis e Pedro Cordeiro, para falar sobre as "Eleições nos EUA: o dia
seguinte ". Inscreva-se aqui.
Durante anos, uma candidatura presidencial de Donald Trump, o magnata da construção civil e dono de casinos e clubes de golf, parecia do reino do anedótico. Depois, a possibilidade de ganhar umas eleições parecia impossível. Depois, ainda, o seu regresso à Casa Branca também parecia menos provável do que ser condenado judicialmente num de vários casos em que foi investigado e indiciado.
Mas a tudo isto Trump sobreviveu, conseguindo sempre manter-se à tona e sair por cima (um pouco à semelhança do que foi fazendo durante décadas nos seus negócios, sobrevivendo a sucessivas falências e investigações).
Na última noite, a candidatura de Trump mostrou-se bastante mais resistente no eleitorado norte-americano do que se esperava e, uma a uma, as esperanças de uma vitória de Kamala Harris, foram-se esfumando. Primeiro, na Carolina do Norte, depois na Geórgia, depois no Arizona, finalmente com a dificuldade em segurar os estados da cintura industrial no nordeste dos EUA.
Seguir a noite eleitoral das presidenciais norte-americanas em direto é um
exercício fascinante, que me habituei a fazer ao longo do último quarto de
século. Desta vez, a emissão da SIC Notícias e da CNN Internacional estiveram
sempre ligadas (televisão e Ipad), com as notícias de última hora a serem lidas
no site do Expresso e do The New York Times.
Como sempre, a noite começou forte em tons vermelhos (cor dos Republicanos),
com a contagem inicial dos votos mais rurais, e aos poucos foi ganhando algumas
tonalidades azuis (cor dos Democratas), embora muito esbatidos.
Sete Estados pareciam desta vez decisivos: Michigan, Wisconsin,
Pensilvânia (nordeste), Geórgia, Carolina do Norte (sudeste), Nevada e Arizona
(zona ocidental dos EUA). Quanto ao comportamento eleitoral, esperava-se que o
voto feminino, tal como o latino, pudesse ser decisivo quanto ao nome do
vencedor.
Pelas 3 da manhã, hora de Lisboa, a tendência começou a definir-se. E era de
uma maior resistência eleitoral de Trump. O caminho para Kamala parecia mais
estreito, e resumia-se a conseguir manter os três estados industriais do
nordeste como forma de conseguir chegar à Casa Branca. Ou seja, Trump
estava agora melhor e a resistir mais do que na eleição contra Biden, em 2020.
E Kamala parecia estar a ter, um pouco em todo o lado, resultados ligeiramente
abaixo dos de há quatro anos do ainda Presidente dos EUA - Kamala, uma
política liberal (no jargão americano quer dizer de esquerda) da Califórnia,
não terá sido tão eficaz como Biden junto de largas faixas do eleitorado,
nomeadamente em estados industriais.
A junção destes dois factores
pode ajudar a explicar o que sucedeu. Tal como ajuda a explicar o que sucedeu a
maior resistência de Trump, face ao esperado, no eleitorado branco, urbano e
com mais qualificações (o que aliado à sua forte implantação na América rural
ajuda a explicar o sucedido).
Eram quase seis da manhã de Lisboa quando, no quartel-general da candidata
Democrata, sem qualquer ambiente festivo, ficou a saber-se que Kamala
Harris não vai falar nas próximas horas, aguardando as contagens finais dos
estados ainda por apurar para se dirigir aos norte-americanos.
Quando já passava das seis da manhã, hora de Lisboa, Trump seguia na
frente nos quatro swing states que faltam apurar: Pensilvânia, Michigan,
Winsconsin e Arizona, nos três primeiros com vantagem de mais de 200 mil votos.
Pouco depois, a Fox News, canal
de TV por cabo claramente pró-Trump, dizia que o Republicano tinha ganho na
Pensilvânia. O caminho estreito de Kamala tornava-se inexistente. E Trump
preparava-se para a declaração de vitória, a partir da Flórida.
Sobre a campanha de Trump, Ricardo Lourenço, o nosso correspondente nos EUA, já
escreveu: Escaramuças internas na campanha de Trump, apesar do “cheiro” a
“vitória histórica”
Paralelamente, na útima noite, decorreram várias eleições para o Congresso
e Senado norte-americanos, essenciais para se perceber o equilíbrio de poder
político nos EUA nos próximos anos. Aqui, os Republicanos ganharam o controlo
da câmara alta, o Senado. A câmara baixa, o Congresso, ainda estava por
determinar. Se os Republicanos ficarem com o controlo total do Congresso, a
Administração Trump terá carta branca total doravante.
Ao longo da última noite, uma completa equipa da redação do Expresso esteve a
acompanhar momento a momento, tudo o que ia acontecendo numa eleição
presidencial de um país com mais de 300 milhões de pessoas. AQUI pode ver o nosso ‘Direto’, que continua
naturalmente ativo hoje à medida que se contam mais votos e se sabem mais
detalhes dos resultados.
Durante a manhã desta quarta-feira, vai poder ler as reportagens, análises e
opinião que vamos publicar. Temos, entre outros, o olhar do editor do
Internacional, Pedro Cordeiro, e dos nossos jornalistas nos EUA, Ricardo
Lourenço, Hélder Gomes e Paula Alves Silva.
Aqui pode ouvir já o podcast Expresso da Manhã: Trump perto de ganhar, Kamala ficou
à espera de um milagre na “parede azul” que não chegou
A confirmar-se que vamos mesmo assistir nos próximos quatro anos à sequela do
filme Trump na Casa Branca, torna-se essencial perceber o que será a versão 2.0
de Trump a liderar a maior democracia e a maior economia do planeta.
Este texto da nossa jornalista Salomé Fernandes traz algumas luzes quanto ao
que esperar: Se Trump vencer… promete cortar impostos, deportar imigrantes ilegais, aumentar
tarifas para bens importados e resolver a guerra na Ucrânia
OUTRAS NOTÍCIAS
CÁ DENTRO
O Governo leva pouco tempo de vida e, grosso modo, não se pode dizer que as
coisas lhe têm corrido mal. Talvez a ministra Margarida Blasco seja
uma (pouco) honrosa excepção, com sucessivas intervenções em que se atirou para
fora de pé. Neste artigo, “Montenegro segura a ministra da Administração Interna”, a
jornalista Paula Caeiro Varela conta-lhe o que se passa no Executivo depois da
ministra ter admitido negociar o direito à greve nas polícias, para logo a
seguir recuar.
As polémicas relacionadas com a segurança na Área Metropolitana de Lisboa
continuam. Marcelo quer Governo nos bairros mas só com “alguma ideia para
dizer” e nega ter combinado com Montenegro
Já houve alguns referendos locais pelo país, ao longo dos últimos anos, mas
nunca aconteceu os municípes do maior concelho terem sido chamados a
pronunciar-se. Será que é desta? Leia aqui o que está a acontecer, e que tem
que ver com Alojamento Local: Mais de 11 mil pessoas pedem um referendo pelo fim do
Alojamento Local em Lisboa
Maternidade do Santa Maria reforçada até ao final do
ano com mais sete obstetras
O ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, esteve no Parlamento onde os
governantes estão a ser ouvidos a propósito do Orçamento do Estado para 2025. “Governo reforça direções regionais de agricultura, alerta para
a urgência do armazenamento de água e critica as “entidades que
complicam””
Economia terá de crescer ao ritmo mais rápido em quase dois
anos para atingir a meta do Governo para 2024
Crescimento abaixo do esperado no verão obriga a forte impulso da economia no
quarto trimestre deste ano para atingir a meta anual do Governo de 1,8%
Mais um ministro que esteve esta terça-feira no Parlamento foi o da Educação. “12 mil crianças estão à espera de um lugar no ensino
pré-escolar” é o título do artigo da jornalista Isabel Leiria, depois
de ter ouvido Fernando Alexandre.
“Não consegui conter-me”: ex-KPMG acusou contabilista do Grupo
Espírito Santo de “fraude” e diz ter sido “ameaçado”
Sikander Sattar, que presidiu à KPMG Portugal durante 15 anos, foi a tribunal contar
que acusou Machado da Cruz de “fraude” em 2014, ainda que admita que este não o
fez por iniciativa própria
Ainda sobre o julgamento em tribunal do caso BES, o nosso jornalista Diogo
Cavaleiro escreveu igualmente outro artigo interessante: Defesa de Ricardo Salgado mantém porta aberta a processar
Portugal: Estado será "humilhantemente condenado"
Peugeot liderou vendas de carros elétricos em outubro,
seguida pela BMW e pela Tesla
Uma multinacional pode cortar empregos na Europa e
engordar em Portugal? As Caldas da Rainha acreditam que sim
LÁ FORA
Em Israel, Netanyahu demite ministro da Defesa
“As catástrofes e as emergências suscitam atos de heroísmo e
também erros”: a luta dos valencianos para renascer do lodo
O jornalista Gorka Castillo está na região de Valência a acompanhar o rescaldo
da terrível tragédia da última semana. Nesta reportagem, feita esta
terça-feira, conta como “o presidente da região valenciana, o conservador
Carlos Mazón, começa a sentir a solidão de um derrotado mesmo dentro do seu
próprio Partido Popular.”
Crise climática acelera eventos extremos como o de Valência: em
20 anos estes fenómenos já mataram 576 mil pessoas
As chuvas e inundações que devastaram a região espanhola de Valência são mais
um exemplo de como as alterações climáticas “estão a tornar a nossa vida mais
perigosa”, segundo um cientista da World Weather Attribution
Rússia subiu juros para máximo históricoem outubro e
protagonizou a única subida no meio de uma vaga mundial de cortes das taxas
Vimos os ‘novos’ Linkin Park ao vivo em Paris: 40 mil
pessoas não podem estar erradas
Quincy Jones (1933-2024): o homem que veio do jazz para
inventar uma nova pop
Tocou com Billie Holiday, orquestrou Frank Sinatra, produziu o inatacável
“Thriller”, obra-prima de Michael Jackson: Quincy Jones foi uma das mais
influentes figuras do universo da música, um criador incansável que marcou
diferentes culturas, do jazz ao hip hop, e que se deu com presidentes e com a elite
artística da América e do mundo. Morreu esta semana aos 91 anos
TRIBUNA
Se alguém antecipasse o guião da noite de terça feira no Estádio de Alvalade,
dificilmente escreveria o que se passou com maior exatidão: o Sporting
goleou o super-poderoso Manchester City de Guardiola por
Se era a última noite de Rúben Amorim, então o Sporting deu-lhe
a melhor noite do melhor período da sua vida - eis a crónica do jogo,
escrita pelo nosso editor da Tribuna, Diogo Pombo.
Como viu Rúben Amorim a sua despedida de sonho? “Estava escrito. Há dias em que as coisas têm de acontecer de
uma certa maneira”
PODCASTS
O que se passa com a industria automóvel europeia?
Sobre o povo escolhido: Ricardo Araújo Pereira e Daniel Blaufuks trocam piadas e
ideias a propósito do humor judaico
Sabe qual a percentagem que deve poupar para a entrada da casa, para o filho e para a
reforma? Pedro Andersson ajuda
Juan Domingo Péron, o presidente mais controverso da Argentina
O QUE ANDO A LER
Nas últimas semanas andrei a ler vários livros relacionados com a política
norte-americana
‘War’, de Bob Woodward, o mais aclamado jornalista internacional, que há
décadas acompanha e detalha as várias presidências norte-americanas. O seu
‘War’ é dedicado ao mandato de Joe Biden na Casa Branca, muito marcado pela
resposta à agressão russa na Ucrânia (e sempre com Donald Trump, o seu
antecessor, como pano de fundo).
Confidence Man: The Making of Donald Trump and the Breaking of America, de
Maggie Haberman, é um relato da vida de Trump e do seu período na Casa Branca,
feito pela jornalista do The New York Times que provavelmente melhor o conhece
e há mais tempo o acompanha (primeiro
E ainda
The Divider: Trump in the White House, 2017-2021, de Peter Baker e Susan
Glasser, provavelmente o mais detalhado e precioso relato dos quatro anos de
Trump como presidente dos EUA.
Mas, se há mais vida para além do défice, também há mais vida para além da
política americana e nos últimos dias tem sido com um enorme sorriso no rosto
que ando a devorar “A Década Prodigiosa, crescer em Portugal nos anos
Por hoje é tudo. Tenha um excelente dia e um fantástico resto de semana
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