segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Portugal: UM GOVERNO DE “ESTRANHOS”

 
Mural recente numa rua de Lisboa - clicar para ampliar
Tomás Vasques – i online, opinião
 
Em síntese: o governo e o grupo parlamentar do PSD servem “quem lhes paga” e quem lhes paga, no seu retorcido entendimento, é a “troika” e a senhora Merkel. Está tudo dito
 
Quero acreditar que o episódio da bandeira nacional ter sido hasteada ao contrário, na comemoração oficial da Implantação da República, nos Paços do Concelho de Lisboa, tenha sido o resultado de um acto deliberado de protesto e não uma mera desatenção. Esse acto, como rebeldia, honra a memória dos republicanos que, representados por José Relvas, ali proclamaram a liberdade e a democracia. Não só porque este governo inculto, em nome do dinheiro, acabou com a dignidade nacional que aquela data nos merece (e, também com o 1º de Dezembro, outra data que alicerça a nossa identidade enquanto portugueses) mas, também, porque é um governo de “estranhos” – um governo que actua permanentemente contra os portugueses e contra Portugal, em obediência cega, a interesses económicos e financeiros da Alemanha e aos interesses eleitorais da senhora Merkel. Por isso, neste momento, nada mais simbólico, do que inverter a Bandeira Nacional, enquanto acto de resistência.
 
O carácter antipatriótico deste governo não é mera retórica. Na quinta-feira, 4 de Outubro, aquando da discussão das moções de censura apresentadas pelo BE e PCP, na Assembleia da República, uma deputada, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, o principal partido que sustenta este governo, de nome Teresa Leal Coelho, disse com profunda convicção: “este debate está a ser pago, está financiado pela troika que financia os vencimentos de quem aqui falou”. E não foi uma voz isolada. Os seus companheiros de bancada aplaudiram a descabelada intervenção da senhora deputada ou sorriram satisfeitos com tamanha atoarda. Esta curta frase, proferida no Parlamento, um órgão de soberania eleito democraticamente, por um dos seus membros, concentra todo o programa e actuação do governo contra a maioria dos portugueses. Quando o partido que governa Portugal entende que os órgãos de soberania do Estado, desde o Presidente da República aos tribunais, passando pelo governo (deve-se concluir que não são só os deputados), “são pagos” pela “troika”, e não pelos portugueses, compreende-se melhor o que vai na cabeça do primeiro-ministro e dos seus ministros, sobretudo o ministro das Finanças. Em síntese: o governo e o grupo parlamentar do PSD servem “quem lhes paga” e quem lhes paga, no seu retorcido entendimento, é a troika e a senhora Merkel. Está tudo dito. E nem vale a pena lembrar-lhes que se fosse a troika a pagar não era necessário o brutal aumento dos impostos que atiram para a pobreza a maioria dos portugueses. São os portugueses que pagam e com juros elevados, mas o governo e o PSD não entendem o elementar.
 
A senhora deputada do PSD fez o favor de, num momento de sinceridade, dizer tudo sobre este governo de “estranhos” e as suas políticas contra os portugueses e contra Portugal. Chegados a este ponto de degradação política, naturalmente os portugueses massacrados desencantam-se não só com este governo, mas com a actividade política em geral, se não mesmo com a democracia. É o próprio regime democrático que está em causa. Para sairmos deste poço em que caímos, mais do mesmo não chega. Precisamos de uma onda de desassossego democrático, de inconformismo libertário, tarefa a cargo dos cidadãos. Do mesmo modo que precisamos de uma renovação que mobilize os portugueses, de novo, para a liberdade e a democracia, colocando o Estado ao serviço dos cidadãos e da cidadania, tarefa a cargo dos partidos políticos. Se isso não acontecer, este regime moribundo fina-se definitivamente.
 
PS. 1 – O PCP, na sua moção de censura, a leste do que se passa, define este caminho: “uma política alternativa patriótica e de esquerda, que retome os valores de Abril e dê corpo ao projecto de progresso que a Constituição consagra”. O que é que isto quer dizer na situação em que vivemos?
 
PS. 2 – O BE sonha em tomar o lugar eleitoral do PS: “basta olhar para o desaparecimento do PASOK na Grécia e nas sondagens já surge em 5º lugar, atrás da direita nazi e do PKK.” Este é o seu principal objectivo.
 
PS. 3 – O PS tem a tentação de esperar pelo dia em que o poder lhe cairá nas mãos, por esgotamento deste governo, sem cuidar de se transformar na força motriz de uma renovação do regime democrático. Assim, irá na água do banho.
 
PS. 4 - E os portugueses, senhor, porque lhes dais tanta dor? Porque padecem assim?
 
Jurista. Escreve à segunda-feira
 

2 comentários:

Anónimo disse...

ENTRE IGUAIS!!!

"ESTRANHOS"?

NÃO O SÃO TANTO ASSIM!

Há mais de 30 anos que estão com eles e só agora parecem perceber que estes "estranhos" não passam de mercenários?

Se "estranhamente" subsistem tantos anos é por que estão entre iguais!!!

Anónimo disse...

MENTECAPTOS!!!

Na Venezuela, com pouco mais de 200 anos de independência e tão poucos de efectiva democracia, o eleitorado venezuelano percebe o que o eleitorado português, com quase 900 anos de independência, tarda em perceber!

Se os portugueses não são mentecaptos, como se vivessem ainda sob o jugo da Santa Inquisição, é por que são masoquistas!!!

Mais lidas da semana