Luís Rainha* –
Jornal i, opinião
Para o nosso
cardeal patriarca, isto das greves é um incómodo a evitar pelas formigas
industriosas que todos deveríamos ser. Para iluminados como a directora do
“Destak”, no lado dos “fura-greves” é que encontraremos “coragem e convicção” –
mesmo que depois aqueles costumem ser lestos a aproveitar as conquistas dos que
se deram ao incómodo de agir. Esta ideia já faz parte do sedimento de detritos
vários que compõe o nosso senso-comum: precisamos de vergar a mola, de labutar
até ao desfalecimento, para tirar Portugal da crise, para crescer, para amanhã
acordarmos ricos como alemães.
E se a tripulação
do Titanic se tivesse revoltado contra um comandante apostado em bater recordes
de velocidade a todo o custo? E se uma greve tem eclodido antes do previsível
encontro com a montanha de gelo? Os braços cruzados, ignorando previsões de
derivas sinistras, teriam sido afinal a única manifestação de sanidade naquela
noite. Menos um tema para xaropadas cinematográficas; mas milhares de vidas
teriam sido poupadas à condição de adereços fúnebres no mito.
Por falar em fitas
manhosas, que dizer da obra encomendada pelo omnisciente Marcelo? A procissão
de figurantes em fuga do Parque Mayer, coreografando truísmos para sossegar a
Führerin, é talvez o espectáculo mais deprimente e sabujo do ano; chegando a um
clímax quase erótico ao garantir que até as nossas manifestações acabam em
beijinhos entre polícias e ninfetas de subúrbio. Mais uma bela ocasião para
greve que se perdeu.
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