quarta-feira, 14 de novembro de 2012

HÁ GENTE SÉRIA E PATRIOTA EM ANGOLA CONTRA A CLEPTOCRACIA, diz Ana Gomes

 


Anabela Natário e Daniel do Rosário, correspondente em Bruxelas - Expresso

O angolano Rafael Marques, jornalista e ativista, foi hoje recebido no Parlamento Europeu. A discussão foi à volta da situação em Angola e da relação deste país com Portugal.

O jornalista e ativista Rafael Marques que investiga há algum tempo os negócios da família de José Eduardo dos Santos foi hoje recebido no Parlamento Europeu pela socialista Ana Gomes, numa iniciativa que teve por objetivo "dar voz às vozes corajosas, aos que têm coragem de denunciar o que está mal e exigir transparência e prestação de contas".
 
Ana Gomes considera-se uma "amiga de Angola, alguém que em Portugal lutou pela independência de Angola e, como responsável socialista, lutou pela entrada do MPLA na Internacional Socialista em 2003".
 
Por isso, a eurodeputada considera ter "particulares exigências em relação a Angola e em relação ao MPLA", onde diz que "há muita gente séria e patriota e não quer ficar silenciosa diante da roubalheira que está a ter lugar por parte de uma cleptocracia".
 
Portugal é a "lavandaria de Angola"
 
No final da reunião promovida por Ana Gomes sobre a situação em Angola, Rafael Marques afirmou que, noutros países europeus, o tipo de operações que Angola faz em Portugal "não é possível, porque as autoridades reagem imediatamente ao fluxo de tanto dinheiro de forma ilegal. Por isso, é que costumamos dizer que Portugal é a lavandaria de Angola".
 
O caso dado como exemplo pelo jornalista, cuja denúncia levou à abertura, em Portugal, de um processo-crime e consequente investigação a altos dirigentes angolanos, é a compra de 25% do BES angola por oficiais da guarda presidencial: "Onde é que militares de uma guarda presidencial encontraram 375 milhões de dólares para investir numa empresa portuguesa?", pergunta. Para Ana Gomes, em Angola houve "um retrocesso com a nova Constituição, no que toca ao equilíbrio de poderes e às possibilidades de controlo democrático do executivo pelo Parlamento". No que diz respeito ao papel de Portugal, Ana Gomes partilha a adjectivação de Rafael Marques: "não há dúvida de que este esquema de desregulação, que está na origem da crise na Europa e que vimos também muito consolidado no sistema financeiro do nosso pais, tem permitido que o nosso pais funcione como lavandaria daqueles que desviam dinheiro do desenvolvimento do povo angolano".
 
Portugal tem "particulares responsabilidades"
 
Para a ex-diplomata Portugal tem, "pelos laços humanos intensíssimos" com este país africano, "particulares responsabilidades para não funcionar como a lavandaria de Angola, lavandaria do dinheiro desviado do desenvolvimento em favor do povo angolano". "As nossas empresas têm que perceber que têm responsabilidades sociais em Portugal mas também em Angola, operando lá. Não é uma política inteligente tornar-se de tal maneira dependente do atual poder angolano que um dia, obviamente, vai ter um fim", acrescentou.
 
Os empresários, na opinião de Ana Gomes, têm que perceber que os angolanos têm "legítimas aspirações à transparência e ao funcionamento democrático, ao controlo democrático dos órgãos de poder, e os portugueses não podem ser cúmplices daqueles que tratam de violar essas regras elementares do funcionamento democrático".
 
Ana Gomes explicou que o encontro com Rafael Marques já está combinado há um mês, muito antes da polémica gerada pela notícia do Expresso sobre a investigação que o Ministério Público português está a fazer a pessoas próximas do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
 
Quanto ao editorial de domingo do "jornal de Angola", publicado na sequência da divulgação da investigação pelo Expresso, Rafael Marques diz que se trata de "politica de má criação" por parte das autoridades angolanas. Estas "contam sempre com a corrupção como a principal alavanca da diplomacia e esperam de forma chantagista que os países com quem cooperam de modo corrupto respondam, também, pela mesma medida, usando e colocando as suas instituições ao serviço dos desígnios da elite angolana".
 
Quanto ao impacto deste episódio nas relações entre os dois países, considera que "em princípio não terá quaisquer consequências porque Angola depende de Portugal, a porta de entrada de Angola para a Europa é Portugal".
 

1 comentário:

Anónimo disse...


PATRIOTAS INCORRUPTÍVEIS!!!

1 ) Há de facto gente séria e honesta em Angola e, por incrível que isso possa parecer, uma parte até está dentro do próprio MPLA!

2 ) Esses patriotas não são corruptíveis, nem pelos Estados Unidos, nem pela União Europeia, nem por qualquer outro interesse e o seu comportamento não é de agora, tem mais anos que a própria república angolana.

3 ) É evidente que ao não serem financiados de fora, não têm voz a não ser em alguns "blogs" como este do Página Global.

4 ) Como um homem que aceita ser financiado pelos norte americanos pode de facto "lutar contra a corrupção"?

5 ) Como um homem que desconhece a história do país, ou faz por desconhecer, pode assumir um papel tão interventivo na opinião pública nacional e internacional?

6 ) Como se aceita um homem desses quando as "receitas" se repetem por toda a parte, em sucessivas "coppy paste", sem qualquer tipo de imaginação?

7 ) Por que raz~ão por exemplo não investigam a corrupção nos Estados Unidos, o "exemplo" que tem sido fornecido a Angola, quando essa corrupção é patente até nas próprias eleições?

8 ) As ingerências e manipulações em Angola têm nomes próprios com pretextos evidentes; entre essas ingerências e manipulações há um instrumento que dá pelo nome de Rafael Marques de Morais!

9 ) Ele faz parte do problema, não da solução!

Martinho Júnior.

Luanda.

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