domingo, 25 de novembro de 2012

IDOSOS, MULHERES E CRIANÇAS PASSAM NOITES AO RELENTO DEPOIS DO DESPEJO

 


Na Amadora - Perante a indiferença das autoridades portuguesas e cabo-verdianas
 
Liberal (cv) – com foto
 
A ocupação do instituto governamental que trata do realojamento, de pouco serviu aos desalojados do Bairro de Santa Filomena, cujas modestas habitações, em muitos casos, foram demolidas sem a presença dos moradores e sem o seu conhecimento. Uma idosa teve mesmo um AVC, quando era arrancada à força de sua casa
 
Praia, 25 novembro 2012 – Na última terça-feira, 21, cerca de 20 moradores do Bairro de Santa Filomena, na Amadora (Portugal), que haviam sido despejados no dia anterior (segunda-feira) ocuparam as instalações do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, em Lisboa, esperaram em vão que responsáveis daquela instituição dessem qualquer sinal que fosse ao encontro das suas reivindicações a um teto para passarem as frias noites que se fazem sentir em Portugal. Já passava das 20 horas (19 horas em Cabo Verde) quando os desalojados abandonaram o edifício, não sem antes deixarem lavrados os seus protestos por a maioria deles ir passar mais uma noite ao relento.
 
VOZES DESESPERADAS
 
Uma das moradoras, Isabel Lopes, em declarações prestadas ao “Jornal de Notícias” (JN), contou a sua desdita, envergando apenas um casaco para se proteger do frio lisboeta: "A nossa casa foi demolida sem que tivéssemos oportunidade de tirar nada. Nem a minha medicação, nem nada. Sou uma pessoa doente. Desde ontem que estou a dormir na rua. As minhas coisas estão na Câmara. Sou uma trabalhadora. Respeito o Estado e o Estado não me respeitou a mim. Um animal está em melhores condições que eu. Sou uma trabalhadora. Desconto para o Estado", pranteou na companhia do marido.
 
Cristina Coelho, 35 anos, mãe solteira, está ainda em pior situação. Com três filhos, de dois anos e meio, 14 e 16, Cristina estava a trabalhar quando os filhos mais velhos lhe telefonaram dizendo que as máquinas já tinham avançado contra a modesta habitação. "Às nove da manhã o meu filho ligou para mim. Que estavam a dormir, quando chegou a Polícia e um fiscal da Câmara que os mandou vestir. E que depois ficaram na rua, porque a casa ia abaixo", contou a jovem mãe ao repórter do JN, avançando ainda: "A Segurança Social perguntou se o meu filho tinha fome mas eu recusei comida. Eu não quero comida, eu quero uma casa para morar. Para o comer, eu trabalho", acrescentando ainda que aufere de um ordenado de 321 euros, muito abaixo do salário mínimo praticado em Portugal.
 
DEMOLIÇÕES CONTINUAM
 
Segundo a Câmara Municipal da Amadora, que parece não atender a avisadas vozes que alertam para o drama social que está a ser provocado, as demolições irão continuar. Uma declaração proferida logo na segunda-feira, após a demolição de seis habitações onde residiam 22 pessoas, incluindo 11 crianças e vários idosos, alguns deles com uma saúde precária.
 
Sob o aparato policial, que montou um cordão de segurança à volta do bairro, para impedir o acesso dos moradores, houve mesmo uma idosa que sofreu um AVC quando era retirada de sua habitação, à força, pelos agentes policiais, tendo sida assistida no local por uma equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
 
Muitos destes moradores residiam no Bairro de Santa Filomena há cerca de vinte anos, tendo por várias vezes solicitado à Câmara da Amadora uma resolução que passasse pela concessão de uma casa de habitação social (de valor mais baixo e calculado em função do rendimento familiar), em vão. A autarquia, dirigida pelo dirigente do Partido Socialista Joaquim Raposo, alega que os despejados não integram os agregados contemplados pelo Programa Especial de Realojamento (PER), que remonta a 1993…
 
Aos desalojados, a maioria deles cabo-verdianos, tem valido a solidariedade de cidadãos e organizações cívicas e movimentos sociais portugueses, porque as instituições públicas e a própria Embaixada de Cabo Verde nada têm feito para acudir ao seu desespero.
 

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