Na Amadora - Perante
a indiferença das autoridades portuguesas e cabo-verdianas
Liberal (cv) – com foto
A ocupação do
instituto governamental que trata do realojamento, de pouco serviu aos
desalojados do Bairro de Santa Filomena, cujas modestas habitações, em muitos
casos, foram demolidas sem a presença dos moradores e sem o seu conhecimento.
Uma idosa teve mesmo um AVC, quando era arrancada à força de sua casa
Praia, 25 novembro
2012 – Na última terça-feira, 21, cerca de 20 moradores do Bairro de Santa
Filomena, na Amadora (Portugal), que haviam sido despejados no dia anterior
(segunda-feira) ocuparam as instalações do Instituto da Habitação e da
Reabilitação Urbana, em Lisboa, esperaram em vão que responsáveis daquela
instituição dessem qualquer sinal que fosse ao encontro das suas reivindicações
a um teto para passarem as frias noites que se fazem sentir em Portugal. Já passava
das 20 horas (19 horas em
Cabo Verde ) quando os desalojados abandonaram o edifício, não
sem antes deixarem lavrados os seus protestos por a maioria deles ir passar
mais uma noite ao relento.
VOZES DESESPERADAS
Uma das moradoras,
Isabel Lopes, em declarações prestadas ao “Jornal de Notícias” (JN), contou a
sua desdita, envergando apenas um casaco para se proteger do frio lisboeta:
"A nossa casa foi demolida sem que tivéssemos oportunidade de tirar nada.
Nem a minha medicação, nem nada. Sou uma pessoa doente. Desde ontem que estou a
dormir na rua. As minhas coisas estão na Câmara. Sou uma trabalhadora. Respeito
o Estado e o Estado não me respeitou a mim. Um animal está em melhores
condições que eu. Sou uma trabalhadora. Desconto para o Estado", pranteou
na companhia do marido.
Cristina Coelho, 35
anos, mãe solteira, está ainda em pior situação. Com três filhos, de dois anos
e meio, 14 e 16, Cristina estava a trabalhar quando os filhos mais velhos lhe
telefonaram dizendo que as máquinas já tinham avançado contra a modesta
habitação. "Às nove da manhã o meu filho ligou para mim. Que estavam a
dormir, quando chegou a Polícia e um fiscal da Câmara que os mandou vestir. E
que depois ficaram na rua, porque a casa ia abaixo", contou a jovem mãe ao
repórter do JN, avançando ainda: "A Segurança Social perguntou se o meu
filho tinha fome mas eu recusei comida. Eu não quero comida, eu quero uma casa
para morar. Para o comer, eu trabalho", acrescentando ainda que aufere de
um ordenado de 321 euros, muito abaixo do salário mínimo praticado em Portugal.
DEMOLIÇÕES
CONTINUAM
Segundo a Câmara
Municipal da Amadora, que parece não atender a avisadas vozes que alertam para
o drama social que está a ser provocado, as demolições irão continuar. Uma
declaração proferida logo na segunda-feira, após a demolição de seis habitações
onde residiam 22 pessoas, incluindo 11 crianças e vários idosos, alguns deles
com uma saúde precária.
Sob o aparato
policial, que montou um cordão de segurança à volta do bairro, para impedir o
acesso dos moradores, houve mesmo uma idosa que sofreu um AVC quando era
retirada de sua habitação, à força, pelos agentes policiais, tendo sida
assistida no local por uma equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Muitos destes
moradores residiam no Bairro de Santa Filomena há cerca de vinte anos, tendo
por várias vezes solicitado à Câmara da Amadora uma resolução que passasse pela
concessão de uma casa de habitação social (de valor mais baixo e calculado em
função do rendimento familiar), em
vão. A autarquia, dirigida pelo dirigente do Partido
Socialista Joaquim Raposo, alega que os despejados não integram os agregados
contemplados pelo Programa Especial de Realojamento (PER), que remonta a 1993…
Aos desalojados, a
maioria deles cabo-verdianos, tem valido a solidariedade de cidadãos e organizações
cívicas e movimentos sociais portugueses, porque as instituições públicas e a
própria Embaixada de Cabo Verde nada têm feito para acudir ao seu desespero.
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