Nicolau Santos –
Expresso, opinião em Blogues
O título é provocatório, mas tem a ver com o facto de ter sido dito e redito
que a banca portuguesa não só está sólida como nada tem a ver com o que se
passa noutros países, onde os escândalos se sucedem com regularidade.
Quanto à solidez,
estamos conversados. Três bancos portugueses recorreram já a ajudas estatais
(BCP - 2000 milhões, BPI - 1500 milhões, Banif - 1100 milhões), sem as quais
não conseguiriam cumprir os rácios exigidos pela EBA, Associação Bancária
Europeia.
Quanto aos
escândalos, façamos um esforço de memória. Em 2003, Tavares Moreira, presidente
não executivo do CBI, é suspenso pelo Banco de Portugal de exercer funções em
conselhos de administração de empresas financeiras sob a acusação de
declarações falsas, manipulação e falsificação de contas (em 2006, o Ministério
Público arquivou o processo).
João Rendeiro,
ex-presidente do BPP, que em dezembro de 2008 pediu uma ajuda estatal de 750
milhões para salvar o banco, é acusado pela CMVM de criação de títulos fictícios,
violação de deveres relativos à qualidade de informação prestada aos clientes,
entre outras irregularidades graves e muito graves.
José Oliveira e
Costa, ex-presidente do BPN, foi detido no final de 2008. Há dois anos que está
a ser julgado por sete crimes, devido a ter criado uma contabilidade paralela
num banco virtual. A fatura para os contribuintes ronda neste momento os 6000
milhões de euros.
Jorge Jardim
Gonçalves, presidente do BCP, acaba de ser condenado a pagar uma coima de um
milhão de euros pelo crime de manipulação de mercado, mediante a criação de
offshores e falsificação de documentos. Com ele, foram condenados Filipe
Pinhal, Christopher de Beck, António Rodrigues, Paulo Teixeira Pinto e Al+ipio
Dias. Todos vão recorrer das sentenças.
O atual presidente
do Banif, Jorge Tomé, é arguido num processo relativo à altura em que exerceu
funções como administrador da Caixa Geral de Depósitos.
Mais recentemente o
presidente do BESI, José Maria Ricciardi, e o administrador do BES, Amílcar
Pires, foram constituídos arguidos na sequência de uma queixa da CMVM
envolvendo a transação de ações da EDP e um alegado crime de abuso de
informação privilegiada.
Finalmente, o
presidente do BES, Ricardo Salgado, apressou-se a pagar os impostos devidos por
dinheiro que tinha colocado no exterior sem ter sido declarado ao fisco.
Várias destas
situações podem redundar em nada e alguns destes responsáveis estarem
inocentes. Mas convenhamos que é preocupante o número de banqueiros portugueses
que neste momento estão a contas com a justiça.
E a não ser que se
considere que o Banco de Portugal e a CMVM estão contra a estabilidade do
mercado, talvez seja melhor os banqueiros meterem a mão na consciência e
reforçarem os seus códigos de comportamentos.
O bem mais precioso
que um banco tem é a confiança dos seus clientes. Quando ela se perde, o banco
está perdido. Mas a confiança nos bancos é a confiança naqueles que os dirigem.
É bom que os banqueiros nacionais meditem nisso.
Relacionado em Expresso: Administradores
do BES a contas com a Justiça
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