Liliana Valente –
Jornal i
Maioria vai criar
uma comissão eventual para acompanhar o corte na despesa de quatro mil milhõs
no parlamento, revela Marques Mendes
Um ano e meio
depois das eleições, o PS prepara-se para novo sufrágio. Ontem, o
vice-presidente da bancada parlamentar José Junqueiro falou em eleições
antecipadas caso o governo decida levar a cabo a proposta de corte na despesa
de quatro mil milhões. Para os socialistas, o governo não tem mandato para
fazer este corte que não passa, disse, de um “outro programa de governo”. Por
isso, o “primeiro-ministro voluntariamente deveria submeter-se ao sufrágio
universal”.
No plenário, José
Junqueiro criticava a intenção do governo de fazer este corte na despesa e de,
para isso, apoiar-se no relatório do FMI. “Não acha que o governo, ao
apresentar com este relatório um outro programa de governo, ao apresentá-lo nas
costas dos portugueses, não acha que este primeiro-ministro voluntariamente se
deveria submeter ao sufrágio universal para ver se as pessoas queriam ou não aprovar
estas medidas?”, questionou a deputada do Bloco de Esquerda Catarina Martins.
As palavras de Junqueiro levantaram dúvidas no plenário e o deputado do PSD
Emídio Guerreiro chegou mesmo a ironizar, perguntando se o pedido de eleições
antecipadas era “a resposta às movimentações do presidente da Câmara de Lisboa,
António Costa, e dos seus apoiantes”. Na resposta, a deputada Odete João
corrigiu o discurso de Junqueiro dizendo que não se tratava de pedir eleições
antecipadas, mas de defender que o governo não tem mandato para cortar no
Estado.
Não é a primeira
vez que os socialistas falam – sem defenderem directamente – na hipótese de
regressarem ao poder mais cedo através de eleições antecipadas. No final do
ano, o líder parlamentar Carlos Zorrinho já tinha dito que o PS está preparado
para “um ciclo de governação que se iniciará em 2015 ou mais cedo se os
portugueses assim o entenderem”.
Se no parlamento a
discussão aqueceu com o relatório do FMI como pano de fundo, o secretário-geral
do PS, apesar de crítico, não foi tão longe. Durante uma visita a Ferreira do
Alentejo, António José Seguro disse que o primeiro- -ministro “está hoje
isolado do consenso nacional que existe” e que o governo “é um factor de
instabilidade”. O líder socialista criticava sobretudo o facto de o governo ter
elogiado o relatório do FMI através do secretário de Estado adjunto do
primeiro-ministro, Carlos Moedas. “Quando o governo vem elogiar o relatório do
FMI, acho que isso é uma ofensa aos portugueses.” No comentário, Seguro voltou
a repetir que é necessário apostar no crescimento económico e que o que o
primeiro-ministro faz é apenas apresentar uma proposta: “Cortes e mais cortes,
com a brutalidade daqueles que encomendou ao FMI.”
CRÍTICAS As
críticas ao relatório dos técnicos do FMI e do Banco Mundial continuaram
durante o dia de ontem e tiveram resposta do governo, através do
secretário-geral da Presidência do Conselho de Ministros, Marques Guedes. “Sei
que ontem houve algumas declarações, umas excessivas, outras acaloradas, outras
até a roçar o absurdo, mas, com toda a franqueza, não é momento de estar a
responder a essas questões”, disse. O responsável do governo voltou depois a
chamar os partidos e a sociedade para o debate: “Era bom que todos, e
principalmente os dirigentes partidários e os dirigentes políticos, se
empenhassem também em formular os seus contributos, porque o que está em causa
é demasiado sério.”
Depois do coro de
vozes que se levantou nos últimos dois dias contra o relatório do FMI, o PSD e
o CDS vão criar uma comissão eventual de acompanhamento dos cortes na despesa
na Assembleia da República. A revelação foi feita por Marques Mendes no
programa da TVI24 “Política mesmo”, onde disse que esta era a medida da maioria
para “corrigir o tiro”. O ex-líder do PSD criticou o facto de o relatório ter
saído na imprensa antes de ter sido entregue aos partidos da oposição, em
especial ao PS, apesar de, defende, o PS já não aceitar nada porque se encontra
em “campanha eleitoral”.
As vozes contra o
documento surgiram também dentro do campo político da maioria. Num artigo de
opinião no “Diário de Notícias”, o eurodeputado do CDS Nuno Melo lembra que “há
despesas e há despesas” em que se pode cortar. E o eurodeputado Diogo Feio, num
vídeo publicado no Facebook, diz que os cortes “têm de ser selectivos” e aponta
o dedo à comunicação do governo.
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