Ricardo Araújo
Pereira – Visão, opinião
O ideal seria que
todos os estabelecimentos comerciais portugueses tivessem "banco"
escrito no nome. Nenhum negócio iria à falência, porque o Estado acudiria a
todos
Ser dirigente de um
banco bem sucedido é bom. Ser dirigente de um banco mal sucedido é ainda
melhor. As mercearias falidas não são nacionalizadas e as casas de ferragens
com problemas de tesouraria não se recapitalizam com dinheiro do Estado. O
problema é das mercearias e das casas de ferragens. Toda a gente já percebeu a
diferença entre recapitalizar-se, por um lado, e pedir emprestado porque se
vive acima das suas possibilidades, por outro. O ideal seria que todos os
estabelecimentos comerciais portugueses tivessem "banco" escrito no
nome. Um talho chamado Banco Carnes de Ouro. Uma mercearia chamada Banco Frutas
Idalina. Um restaurante chamado Banco Adega Regional O Botelho. Nenhum negócio
iria à falência, porque o Estado acudiria a todos. Se falisse, pagava o País
inteiro. Só por falta de visão comercial é que continua a haver empresários que
ignoram esta estratégia simples mas vencedora.
O negócio da banca
é duro e complexo. Trata-se de comprar dinheiro barato e vendê-lo mais caro.
Pensando bem, talvez não seja assim tão complexo. Estamos a falar da
comercialização de um produto que toda a gente aprecia. O risco não é muito
grande. E, além disso, é um bem que não se estraga. Ninguém diz, ao levantar um
cheque: "Olhe, desculpe, estas notas são da semana passada."
Ainda assim,
um número bastante elevado de banqueiros consegue reunir a mistura de talento e
obstinação necessária para levar muitas destas instituições à completa ruína.
Não deve ser fácil.
O jornalista
Nicolau Santos fez, há dias, uma lista não exaustiva de banqueiros portugueses
envolvidos em escândalos financeiros e consequentes processos judiciais. São
cerca de dezena e meia. E acrescentou uma lista de bancos que o Estado
português já ajudou, com avultadas injecções de capital. Contando com o BPP e o
BPN, são cinco. Num país com a dimensão de Portugal, 15 banqueiros e cinco
bancos parece muito. Não sei se é o suficiente para estabelecer uma regra, mas
são números um tanto alarmantes. Qualquer dia, banqueiro detido passa a ser um
pleonasmo. Talvez fosse bom remodelar os testes psicotécnicos na admissão de
candidatos ao lugar de banqueiro. Aparentemente, saber de finanças não habilita
ninguém a gerir instituições financeiras.
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