Luís Rosa – Jornal i,
opinião
Portugal tem de
lutar abertamente pelas mesmas ajudas europeias que a Irlanda vai ter
Se há princípios
que nunca foram praticados na União Europeia (UE), o da igualdade entre os
Estados- -membros é certamente um deles. A principal regra da realpolitik da
velha Europa é simples: Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Espanha
decidem entre si e os restantes obedecem em maior ou menor grau de submissão.
Portugal sempre foi
dos países mais submissos - uma espécie de escravo que obedece sem pestanejar a
todas as ordens da madame Bruxelas. Com sorte, receberá alguns fundos
monetários. É um hábito introduzido pelos nossos políticos desde que entrámos
para a CEE e que nasce do complexo de inferioridade do nosso povo perante tudo
o que é estrangeiro.
O grau de
subserviência que o governo de Passos Coelho tem demonstrado perante a troika
(União Europeia e FMI) insere-se nessa linha estratégica da diplomacia
portuguesa, não contendo, em si mesmo, nenhuma novidade.
Vem isto a
propósito das melhorias das condições dos programas de assistência financeira
da Grécia, Irlanda e Portugal. Desde o início do Mecanismo Europeu de
Estabilidade e do Fundo de Estabilidade Financeira que ficou estabelecido que
os países beneficiam de igual tratamento. Logo, se a Grécia conseguiu em
Dezembro de 2012 um acréscimo de 30 anos para pagar a parte europeia do
empréstimo da troika e uma moratória de 10 anos para pagar os respectivos
juros, seria de esperar que essas condições fossem estendidas a Portugal e à
Irlanda. Seria uma decisão lógica, atendendo a que os três países têm problemas
em comum: a insustentabilidade da dívida pública, claramente acima dos 120% do
PIB, agravada pelos programas da troika, e a necessidade de reduzir o seu valor
total.
Passados três
meses, não é nada disso que está em discussão. Sem nenhuma decisão ainda
tomada, Portugal arrisca-se mesmo a ser o país mais prejudicado. Os irlandeses
querem mais 15 anos para pagarem a dívida, tendo já conseguido a aprovação da
troika para uma troca de dívida que lhes permitirá chegar a um défice de 2,4%
em 2015.
Ao pé destas
condições, ter mais um ano para corrigir o défice, cinco anos para pagar a
dívida ou mais alguns anos para fazer a reforma do Estado parece uma esmola
inaceitável. Não chega Vítor Gaspar afirmar subliminarmente que um prazo de 15
anos (para os irlandeses) é inaceitável. Portugal tem de lutar abertamente por
condições iguais às da Irlanda. Ficar calado em vez de lutar abertamente
representa um exercício de masoquismo político - a juntar a muitos outros desde
1986.
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