quinta-feira, 14 de março de 2013

O ESCRAVO E A MADAME

 


Luís Rosa – Jornal i, opinião
 
Portugal tem de lutar abertamente pelas mesmas ajudas europeias que a Irlanda vai ter
 
Se há princípios que nunca foram praticados na União Europeia (UE), o da igualdade entre os Estados- -membros é certamente um deles. A principal regra da realpolitik da velha Europa é simples: Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Espanha decidem entre si e os restantes obedecem em maior ou menor grau de submissão.
 
Portugal sempre foi dos países mais submissos - uma espécie de escravo que obedece sem pestanejar a todas as ordens da madame Bruxelas. Com sorte, receberá alguns fundos monetários. É um hábito introduzido pelos nossos políticos desde que entrámos para a CEE e que nasce do complexo de inferioridade do nosso povo perante tudo o que é estrangeiro.
 
O grau de subserviência que o governo de Passos Coelho tem demonstrado perante a troika (União Europeia e FMI) insere-se nessa linha estratégica da diplomacia portuguesa, não contendo, em si mesmo, nenhuma novidade.
 
Vem isto a propósito das melhorias das condições dos programas de assistência financeira da Grécia, Irlanda e Portugal. Desde o início do Mecanismo Europeu de Estabilidade e do Fundo de Estabilidade Financeira que ficou estabelecido que os países beneficiam de igual tratamento. Logo, se a Grécia conseguiu em Dezembro de 2012 um acréscimo de 30 anos para pagar a parte europeia do empréstimo da troika e uma moratória de 10 anos para pagar os respectivos juros, seria de esperar que essas condições fossem estendidas a Portugal e à Irlanda. Seria uma decisão lógica, atendendo a que os três países têm problemas em comum: a insustentabilidade da dívida pública, claramente acima dos 120% do PIB, agravada pelos programas da troika, e a necessidade de reduzir o seu valor total.
 
Passados três meses, não é nada disso que está em discussão. Sem nenhuma decisão ainda tomada, Portugal arrisca-se mesmo a ser o país mais prejudicado. Os irlandeses querem mais 15 anos para pagarem a dívida, tendo já conseguido a aprovação da troika para uma troca de dívida que lhes permitirá chegar a um défice de 2,4% em 2015.
 
Ao pé destas condições, ter mais um ano para corrigir o défice, cinco anos para pagar a dívida ou mais alguns anos para fazer a reforma do Estado parece uma esmola inaceitável. Não chega Vítor Gaspar afirmar subliminarmente que um prazo de 15 anos (para os irlandeses) é inaceitável. Portugal tem de lutar abertamente por condições iguais às da Irlanda. Ficar calado em vez de lutar abertamente representa um exercício de masoquismo político - a juntar a muitos outros desde 1986.
 

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