Liliana Valente –
Jornal i
Avaliação da troika
já terminou. Passos diz que vai defender no Conselho Europeu o crescimento
económico
A troika mostrou-se
preocupada com a comunicação do governo e com a coesão social, e o executivo
tentou emendar a mão e tentar falar mais para (e das) pessoas. Ontem, no debate
de preparação do Conselho Europeu de hoje e de amanhã, o primeiro-ministro, apesar
de focar o seu discurso nas questões económicas e financeiras, falou por três
vezes na necessidade de apaziguar “as consequências sociais da crise” e o CDS
lembrou que “o desespero” pode agravar um problema político. A austeridade,
essa é para continuar, mesmo que haja uma extensão de prazos para o cumprimento
do défice.
A manifestação nas
ruas foi há cerca de 15 dias, mas as marcas da contestação social ficaram no
discurso da maioria. É que, depois do aviso da troika para uma melhor
comunicação, de acordo com o “Expresso”, o executivo deixa escapar algumas
intervenções nesse sentido. Ontem, Passos Coelho falou três vezes nas
“consequências sociais” da crise, e o CDS no “desespero”. Nuno Magalhães, líder
parlamentar do CDS, avisou que é necessário ter em atenção que o “desespero”
social pode levar ao aparecimento de movimentos radicais que agravem um
“problema político” e que, por isso, “é bom que esta Europa, e estou certo que
também este governo, tenha em conta o problema que não é só económico e social,
mas também político”.
Passos mostrou-se
preocupado com a ideia: “Há, hoje em dia, uma corrente de opinião que
justamente põe em causa a nossa resiliência democrática face à dimensão das
consequências sociais da crise”, disse. Apesar disso, o caminho é o mesmo. Numa
resposta à deputada do PEV Heloísa Apolónia, o primeiro-ministro garantiu que a
negociação dos prazos com os parceiros é muito importante para mitigar os
riscos, mas “não tem efeito directo na austeridade”.
O governo, através
de Paulo Portas e de Vítor Gaspar, já tinha feito uma tentativa de mudar o
discurso falando na necessidade de manter o “consenso político” e o “acordo
social” no debate de urgência marcado pelo PS no início do mês, mas depois
Passos saiu da rota na intervenção na semana passada. Ontem, apesar de ter sido
um debate mais quente sobre questões mais económicas, frisou, nas respostas às
bancadas da maioria, essa necessidade de responder às “consequências sociais”
da crise.
Crescimento Hoje, o
primeiro-ministro terá um papel mais reservado no Conselho Europeu, uma vez que
este é dedicado ao Semestre Europeu, mas sobretudo para os países que não estão
sujeitos a programas de ajustamento. E aos deputados garantiu que o que irá
dizer mais não é do que pedir uma “resposta muito importante relativamente ao
desemprego e às consequências sociais, modernizar a administração pública e
promover o crescimento e a competitividade”, numa altura em que, em Portugal, o
ministro das Finanças dá conta, numa conferência de imprensa marcada para
sexta-feira de manhã, dos resultados da sétima avaliação da troika ao
cumprimento do Memorando.
Sobre a avaliação
da troika, Passos Coelho pouco disse, apenas que estava a ser concluída, que o
essencial estava fechado. A confirmação do final chegou à tarde, à hora a que,
na televisão, aparecia o fumo branco e era anunciado que tinha sido eleito o
novo Papa. Desta vez, o governo enveredou pela estratégia de passar a ideia de
que pressionou a troika para flexibilizar alguns pontos (daí a demora na
conclusão da avaliação). No debate, Passos lembrou que a pressão foi feita, não
só com os técnicos, no sentido de uma “necessidade de fazer uma flexibilização
do nosso programa em termos que nos permitam realizar, tornar estáveis e
duráveis os esforços de correcção dos desequilíbrios e a nossa aposta em termos
estruturais para que a economia torne a crescer”.
Palavras que não
agradaram ao líder socialista, que salientou o facto de o primeiro-ministro até
falar agora em crescimento económico - “quem o via e quem o vê”, disse -, mas
que isso de nada serve se continuar com a mesma política. E questionou: “Vai manter
a sua opção de fazer um corte de quatro mil milhões de euros nas funções do
Estado?” Do outro lado, não obteve resposta sobre o corte na despesa, apenas
uma lista dos “resultados positivos” que o governo vai mostrar aos parceiros
europeus - isto porque António José Seguro tinha questionado que resultados
tinha o governo para mostrar, falando no desemprego, no défice e na dívida.
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