IG (EO) – VM - Lusa
O antigo embaixador
de Angola junto da ONU em Genebra Adriano Parreira considerou hoje, em
Bruxelas, que o país é “governado por criminosos” e as vítimas da corrupção são
os angolanos.
“Angola é governada
por criminosos”, disse Adriano Parreira, num debate promovido pela eurodeputada
portuguesa Ana Gomes (PS), nas instalações do Parlamento Europeu, sobre o
relatório “Deception in High Places”, que denuncia um alegado negócio de
corrupção entre Angola e a Rússia.
“As vítimas são os
angolanos, que continuam a ser empobrecidos pelo seu próprio Governo”,
salientou o ex-embaixador, que interveio no debate, referindo-se às indicações
do relatório das organizações não-governamentais Corruption Watch e a
Associação Mãos Livres.
Segundo o
relatório, altos responsáveis de Luanda – incluindo o Presidente – terão estado
envolvidos num contrato de restruturação de dívida à Rússia, nos anos 1990, que
terá lesado Angola em mais de 700 milhões de dólares.
“É chocante a
facilidade dos negócios sujos, de como são feitos aos olhos de todos”,
salientou, reiterando que foi já apresentada uma queixa junto da
Procuradoria-Geral da República em Luanda, da qual é um dos autores.
De acordo com o
relatório, em causa está um acordo para restruturar a dívida de Angola à Rússia
que data dos anos 1990 e que terá beneficiado várias figuras do regime e
intermediários.
"Como partes
centrais do contrato estiveram Pierre Falcone e Arcadi Gaydamak", dois
empresários envolvidos no escândalo Angolagate, sobre venda ilícita de
armamento francês a Angola nos anos 1990, um caso julgado em 2009 em França,
refere um comunicado da organização anticorrupção com sede no Reino Unido e da
Associação Mãos Livres, defensora de direitos humanos, composta por advogados e
com sede em Luanda.
Angola entregou à
Rússia notas promissórias no valor de 1,5 mil milhões de dólares, que
tencionava pagar ao longo de 15 anos, mas a Rússia envolveu no negócio a
intermediária Abalone Investments (constituída pelos empresários Arcadi
Gaydamak e Pierre Falcone) também envolvidos no escândalo Angolagate, de venda
ilícita de armas) que viria a comprar essas notas à Rússia a metade do preço,
com pagamento durante sete anos.
Luanda, no entanto,
pagou à Abalone os 1,5 mil milhões de dólares para liquidar as 'notas
promissórias', pagamentos que eram provenientes da petrolífera estatal
angolana, Sonangol, e envolveram o banco suíço UBS.
Segundo o relatório
divulgado pelas ONG, o negócio terá beneficiado o Presidente de Angola, José
Eduardo dos Santos, em 36 milhões de dólares, enquanto cerca de 38 milhões de
dólares terão sido distribuídos por quatro outros altos funcionários públicos
angolanos.
Nas recomendações
do relatório, as ONG instam a União Europeia a garantir que a diretiva (lei
europeia) sobre branqueamento de capitais preveja fortes controlos sobre o
registo de proprietários de empresas.
Sem comentários:
Enviar um comentário