Pedro Tadeu –
Diário de Notícias, opinião
Foi consensual
aderir à Comunidade Económica Europeia. Foi consensual aderir à Zona Euro. Foi
consensual vivermos 25 anos a engordar com os investimentos financiados pelos
Quadros Comunitários de Apoio.
Foi consensual
destruirmos inúmeras produções na indústria, na agricultura e nas pescas. Foi
consensual passar a viver de crédito bancário. Foi consensual construir
autoestradas, a Expo 98, o Euro 2004. Foi consensual deixar as câmaras
municipais licenciarem selvas urbanísticas.
Foi consensual
deixar crescer o Estado de uma maneira clientelar, corrompendo o seu papel na
sociedade. Foi consensual desvalorizar a profissão de político até a tornar
atraente, apenas, a malucos idealistas ou a imbecis carreiristas.
Foi consensual
enriquecer a banca, transformando cada família na dona da dívida de uma casa
paga a 30 ou 40 anos.
Foi consensual
desproteger os trabalhadores, descapitalizar a Segurança Social, estabelecer
parcerias público-privadas, colocar na gestão das empresas públicas os amigos
do poder, entregar a parte lucrativa dos serviços de saúde ao investimento
privado. Todos aceitaram que o Estado fosse explorado pela indústria
farmacêutica.
Foi consensual, em
nome da defesa da independência dos tribunais, deixar a Justiça suicidar-se. E
também se achou bem acabar com o Serviço Militar Obrigatório ou culpar os
professores pela balbúrdia curricular.
Foi consensual
aplaudir a assinatura do Tratado de Lisboa, que prometia colocar a Zona Euro na
liderança da economia mundial (que anedota!). Foi consensual apoiar a invasão
do Iraque. Foi consensual nacionalizar o crime BPN. Foi consensual, até a meio
do primeiro mandato de Sócrates, deixar crescer o défice e a dívida.
Foi consensual
entregar a soberania portuguesa ao diretório europeu. Foi consensual governar
sob a batuta de maestros formados no conservatório da ganância financeira. Foi
consensual apoiar efusivamente o memorando da troika. Foi consensual aceitar a
austeridade como inevitável e o acordo de concertação social que a caucionou...
E é, agora, consensual criticar tudo o que antes se apoiou!
As forças
partidárias e sociais, erradamente apelidadas de "responsáveis" -
PSD, PS, CDS, UGT, CIP, CCP e CAP -, que protagonizaram o essencial (com
momentâneas birras inconsequentes) deste consenso com 30 anos, estão a ser
empurradas, mais uma vez, para um entendimento.
Consenso é a ordem,
o credo, dos donos do sistema, como se a palavra fosse sinónima de bom senso.
Mostra a experiência, afinal, que consenso significa apenas senso comum, o
senso míope que desmoraliza e arruína o País.
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