quarta-feira, 24 de abril de 2013

Portugal: MEXIDAS AOS SOLAVANCOS




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

A remodelação foi um processo cheio de trapalhadas, com governantes a caírem da carruagem em andamento e Santos Pereira a aguentar firme

A mexida verificada no governo nada teve a ver com uma remodelação pensada. Começou mal, quando Miguel Relvas se fartou e ditou o timing de saída, entre a moção de censura e a decisão do Tribunal Constitucional. Acabou, pelo menos assim parece, quando alguns secretários de Estado caíram da carruagem em andamento, alegadamente por envolvimento em operações financeiras duvidosas em empresas do Estado onde trabalharam e que as Finanças, a Procuradoria e certamente os portugueses em geral querem agora averiguar.

Aparentemente, os secretários têm responsabilidades por contratos de alto risco que podem ter custado milhões de euros. Não é certo que o assunto não se estenda a outros protagonistas, dado circularem informações segundo as quais há mais dois governantes com eventuais responsabilidades nessa matéria - uma porque terá aconselhado operações semelhantes, outro porque, estando do lado das PPP e dos bancos, terá aconselhado essas operações swap e outros derivados, que terão gerado perdas substanciais de uma quantidade de milhões que, mais uma vez, ultrapassa os cortes do Tribunal Constitucional.

Há um problema de fundo subjacente a este assunto:

a falta de esclarecimento. Depois das notícias vindas a público, não é minimamente aceitável este ficar-se por um comunicado do Ministério das Finanças e que o primeiro-ministro não venha a público explicar o que se passou em concreto que o tenha levado a indicar a porta de saída aos governantes, uma vez que não há nota de terem sido eles a tomar a iniciativa.

Quanto às outras movimentações governativas pouco há questionar. São normais por isto ou por aquilo. Mas há um facto incontroverso. O CDS não teve direito a rigorosamente nada do que queria. Santos Pereira foi segurado e teve ontem o seu momento de glória quando apresentou um pacote para o crescimento que impõe à Caixa Geral de Depósitos uma cartilha de oxigenação às pequenas e médias empresas, além de um apoio às exportações até mil milhões e uma reforma do IRC (tudo coisas hipotéticas e tardias). Seja como for, o facto é que Passos Coelho fechou as portas às pretensões dos centristas, que queriam à viva força tomar conta da área económica, como proclamaram dirigentes seus.

A forma caótica como tudo foi acontecendo recorda trapalhadas caricatas verificadas em governos anteriores, o que é gravíssimo em qualquer circunstância mas ainda mais quando estamos numa situação dramática do ponto de vista político, económico e financeiro.

Esperava-se que Passos Coelho e Paulo Portas, mesmo não abdicando de figuras como Vítor Gaspar, conseguissem dar ao governo uma nova dinâmica e uma perspectiva optimista aos portugueses, ansiosos por factores de esperança.

Mas salvo um ou outro nome, como os de Manuel Castro Almeida e Luís Marques Guedes, ambos políticos experientes e competentes, há que convir que as expectativas geradas pelas novas entradas são claramente reduzidas e que as primeiras impressões quanto aos outros elementos não são especialmente positivas.

Quando as expectativas são baixas, às vezes há boas surpresas. Era bom que assim fosse, mas nada indica que tal possa mesmo acontecer. Antes pelo contrário.

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