Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
A remodelação foi
um processo cheio de trapalhadas, com governantes a caírem da carruagem em
andamento e Santos Pereira a aguentar firme
A mexida verificada
no governo nada teve a ver com uma remodelação pensada. Começou mal, quando
Miguel Relvas se fartou e ditou o timing de saída, entre a moção de censura e a
decisão do Tribunal Constitucional. Acabou, pelo menos assim parece, quando
alguns secretários de Estado caíram da carruagem em andamento, alegadamente por
envolvimento em operações financeiras duvidosas em empresas do Estado onde
trabalharam e que as Finanças, a Procuradoria e certamente os portugueses em
geral querem agora averiguar.
Aparentemente, os
secretários têm responsabilidades por contratos de alto risco que podem ter
custado milhões de euros. Não é certo que o assunto não se estenda a outros protagonistas,
dado circularem informações segundo as quais há mais dois governantes com
eventuais responsabilidades nessa matéria - uma porque terá aconselhado
operações semelhantes, outro porque, estando do lado das PPP e dos bancos, terá
aconselhado essas operações swap e outros derivados, que terão gerado perdas
substanciais de uma quantidade de milhões que, mais uma vez, ultrapassa os
cortes do Tribunal Constitucional.
Há um problema de
fundo subjacente a este assunto:
a falta de
esclarecimento. Depois das notícias vindas a público, não é minimamente
aceitável este ficar-se por um comunicado do Ministério das Finanças e que o
primeiro-ministro não venha a público explicar o que se passou em concreto que
o tenha levado a indicar a porta de saída aos governantes, uma vez que não há
nota de terem sido eles a tomar a iniciativa.
Quanto às outras
movimentações governativas pouco há questionar. São normais por isto ou por
aquilo. Mas há um facto incontroverso. O CDS não teve direito a rigorosamente
nada do que queria. Santos Pereira foi segurado e teve ontem o seu momento de
glória quando apresentou um pacote para o crescimento que impõe à Caixa Geral
de Depósitos uma cartilha de oxigenação às pequenas e médias empresas, além de
um apoio às exportações até mil milhões e uma reforma do IRC (tudo coisas
hipotéticas e tardias). Seja como for, o facto é que Passos Coelho fechou as
portas às pretensões dos centristas, que queriam à viva força tomar conta da
área económica, como proclamaram dirigentes seus.
A forma caótica
como tudo foi acontecendo recorda trapalhadas caricatas verificadas em governos
anteriores, o que é gravíssimo em qualquer circunstância mas ainda mais quando
estamos numa situação dramática do ponto de vista político, económico e
financeiro.
Esperava-se que
Passos Coelho e Paulo Portas, mesmo não abdicando de figuras como Vítor Gaspar,
conseguissem dar ao governo uma nova dinâmica e uma perspectiva optimista aos
portugueses, ansiosos por factores de esperança.
Mas salvo um ou
outro nome, como os de Manuel Castro Almeida e Luís Marques Guedes, ambos
políticos experientes e competentes, há que convir que as expectativas geradas
pelas novas entradas são claramente reduzidas e que as primeiras impressões
quanto aos outros elementos não são especialmente positivas.
Quando as
expectativas são baixas, às vezes há boas surpresas. Era bom que assim fosse,
mas nada indica que tal possa mesmo acontecer. Antes pelo contrário.
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