Catarina Falcão com
Lusa – Jornal i
A vereadora quer
novas soluções para o apoio aos sem-abrigo como a criação de cantinas com
ambiente familiar e renovação dos abrigos
“Toda a gente se
oferece para voluntariar e ir para a rua distribuir comida aos sem-abrigo, como
se fossem dar milho aos pombos” disse Helena Roseta, vereadora do
Desenvolvimento Social da Câmara de Lisboa, em entrevista à Lusa para ilustrar
a dificuldade de coordenar as associações que estão no terreno a dar apoio aos
sem-abrigo. Ao i, Roseta explicou que a maneira como se processa a
distribuição da comida em Lisboa “não tem condições nem dignidade”, defendendo
por isso a existência de espaços onde as várias associações possam providenciar
refeições aos sem-abrigo da capital.
“Com a quantidade
de voluntários e associações que há em Lisboa, temos condições para fazer um
trabalho personalizado com as pessoas que estão a dormir na rua” sublinhou
Helena Roseta ao i, acrescentando que associações como a Serve the City Lisboa
já proporcionam jantares comunitários em Alcântara de duas em duas semanas. A
vereadora aposta em novas soluções para apoiar o número crescente de sem-abrigo
na cidade – cerca de 2000, embora aponte a dificuldade de fazer um levantamento
preciso desta população devido ao seu carácter itinerante – como locais com
ambiente familiar” para as refeições, a reconversão de instalações do INATEL na
Infante Santo em hotel social e a renovação dos albergues já existentes.
Uma das apostas da
autarquia, em execução, é a criação de uma unidade de atendimento a sem-abrigo
no Cais do Sodré, onde várias entidades vão procurar ajudar sem abrigo a
resolver problemas de saúde, procurar trabalho ou tratar de documentação. O
espaço foi cedido pela Câmara Municipal e vai ser coordenado pela Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa.
Desemprego
Para
além do aumento de sem-abrigo, Helena Roseta diz que há uma mudança no perfil
das pessoas que vivem actualmente na rua. “Já não falamos só de pessoas que
sofrem de doenças mentais ou com histórias de adicção. Hoje temos pessoas que
perderam o emprego e vão para dormir para a rua, incluindo muitos jovens e
famílias completas” declarou a vereadora.
Segundo Helena
Roseta, foi exactamente o desemprego a consequência da crise que mais teve
impacto na cidade de Lisboa, “com cerca de 1000 novos desempregados todos os
meses” no ano passado. A falta de recursos dos lisboetas, tem feito com que
cada vez mais pessoas recorram à Câmara Municipal para pedirem uma habitação
social. “Andamos à volta dos 1800, 1900 pedidos por ano. Agora a nossa
capacidade de resposta anda à volta de uns 300 fogos por ano”, disse a autarca,
apontando que a Câmara deveria construir e reabilitar entre 500 a mil fogos por ano,
vendendo parte do seu património.
Na entrevista à
Lusa, Helena Roseta não esqueceu as críticas aos cortes levados a cabo pelo
governo. “Isto põe em causa tudo. Tudo o que foi a construção europeia e a
construção democrática de Portugal desde 1974. Nem no tempo de Marcelo Caetano
ou de Oliveira Salazar se tiravam as pensões às pessoas. Isto é terrorismo
social. É uma coisa inacreditável” disse a vereadora.
Sem comentários:
Enviar um comentário