Quer se trate de
expressar a sua posição comum sobre o conflito sírio ou de defender as suas
conquistas no domínio das novas tecnologias, a Europa parece incapaz de reagir
aos desafios que o mundo lhe lança. Ainda será capaz de uma guinada?
Os europeus
precisaram de dezassete dias para fazerem ouvir a sua voz coletiva sobre o
massacre químico de 21 de agosto. Para mais, só o fizeram depois da intervenção
do norte-americano John Kerry. Humilhante!
Ao mesmo tempo, a
Europa, que viu nascer a tecnologia GSM que domina os telefones móveis
mundiais, vê a Nokia, o último grande produtor europeu de smartphones, ser comprada
pela americana Microsoft.
O velho continente
perdeu a batalha da inovação em proveito dos Estados Unidos, mas também com
benefício de novos atores como a Coreia do Sul e a China. A Europa está
condenada a ser apenas um enorme mercado de consumidores depois de ter sonhado
ser uma das potências criadoras do mundo de amanhã?
Toda a gente
conhece a famosa frase atribuída a Henry Kissinger: “A Europa? Qual é o número
de telefone?” A crise síria demonstra que essa piada maldosa continua atual,
apesar das ambições dos europeus de dotarem a sua União com uma “política
externa e de segurança comum”. Os 28 não conseguiram fazer-se ouvir a uma só
voz durante toda esta surpreendente crise desencadeada pelo massacre com armas
químicas em Al Ghouta. A França e o Reino Unidos tomaram posições dianteiras
(até ao voto
da Câmara dos Comuns que obrigou David Cameron a retirar-se do projeto de
retaliação militar) sem esperarem pelos outros 26 países.
Inação da
diplomacia francesa
Ao ponto de, ao
chegar ao G20 de São Petersburgo, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van
Rompuy, de cuja existência nos esquecemos frequentemente, começou por… se
afastar da posição francesa, muito isolada.
Foi necessária a
reunião dos 28 ministros dos Negócios Estrangeiros, em Vilnius, após o G20, em
que participou o secretário de Estado norte-americano John Kerry, para que,
finalmente, Catherine Ashton, a chefe da diplomacia europeia, de cuja
existência também nos esquecemos frequentemente, expressasse uma posição de princípios firme,
condenando o uso de armas químicas.
Isto é, sem dúvida,
fruto de uma espantosa inação da diplomacia francesa que, de facto, nada fez
para mobilizar o apoio dos europeus; e do facto da Alemanha estar em plena
campanha eleitoral, o que explica que tenha levado tanto tempo a tomar uma
posição clara.
Mas é sobretudo a
permanente fraqueza da Europa que está em causa, mesmo antes da última crise
síria. A criação de um aparelho diplomático europeu em virtude das novas
instituições, dirigido pelo muito profissional diplomata francês Pierre Vimont,
não foi suficiente para acordar um animal político fossilizado antes mesmo de
ter dado provas.
É uma das grandes
informações económicas do final deste verão: a Microsoft comprou
a área de telefones móveis da finlandesa Nokia, o último grande produtor de
telemóveis da Europa. Depois da francesa Alcatel, da alemã Siemens e da sueca
Ericsson terem atirado a toalha ao chão, é agora a vez da Nokia passar a ter
bandeira norte-americana, depois de ter reinado durante vários anos no planeta
das telecomunicações. No espaço de alguns anos, o universo dos telefones móveis
mudou completamente de fisionomia, sem que os europeus tenham compreendido o
que lhes estava a acontecer.
Inovação e
criatividade tecnológica
Os europeus, com o
seu sistema GSM de segunda geração, controlavam 80% do mercado mundial, mas o
aparecimento dos smartphones mudou as regras do jogo. Os reis do setor
chamam-se agora Samsung, Apple, Google, e progressivamente marcas chinesas como
Huawei, ZTE ou Xiaomi, ou de Taiwan, como a HTC. Estados Unidos, Coreia do Sul
e China: este trio marginalizou completamente os europeus num setor chave da
inovação tecnológica. Os europeus ainda estão presentes no equipamento de redes
(Alcatel, Siemens, Ericsson, Nokia...) e os mercados fervilham de rumores sobre
fusões entre as empresas em dificuldades.
O naufrágio é
preocupante para a capacidade da Europa em continuar a ser uma terra de
inovação e de criatividade tecnológica, para além da Airbus e de alguns outros,
raríssimos, sucessos. E não apenas um enorme mercado de consumidores cativos e
viciados em máquinas concebidas e fabricadas por outros.
A Europa conseguirá
recuperar ou está condenada a continuar a ser um enorme mercado, tal como
desejam aqueles que, como os britânicos, nunca aderiram ao projeto de uma união
política que entusiasma muitos europeus desde há meio século?
A crise financeira
dos últimos anos minou a solidariedade e a vontade política comum dos agora 28
países (desde a adesão da Croácia, a 1 de julho), cedendo progressivamente
lugar à apatia, no melhor dos casos, e ao aumento dos populismos e dos
nacionalismos, nos piores.
Europa incapaz de
formular projeto comum
Se os líderes
europeus conseguiram evitar o pior durante a tempestade da zona euro, não
deram, no entanto, aos seus povos uma prova da pertinência do projeto europeu.
Pelo contrário, esse projeto tem de enfrentar o ceticismo e a rejeição
crescentes, por ausência de verdadeiras razões para que se acredite nele.
A garantia da paz,
que foi o motor dos pais fundadores após a Segunda Guerra Mundial, não chega
para obter apoio, apesar de – e a forte imagem de Oradour-sur-Glane,
na semana passada, recorda-o – o peso da História não poder ser apagado com um
gesto de mão.
Mas esta Europa que
fez a paz dentro de si própria não é hoje capaz de ter peso no incêndio que se
desencadeou à sua porta, nessa Síria martirizada pela guerra; mais ainda, não é
capaz de formular um novo projeto comum para os seus cidadãos.
Este projeto comum
pode ainda ser formulado por uma França em má situação económica e moral, por
uma Alemanha superpoderosa mas fria, e por alguns outros como a Polónia,
principal história de sucesso dos novos membros?
Os líderes europeus
têm uma janela de oportunidade para uma guinada coletiva, entre as eleições
alemãs do final de setembro e as eleições europeias da próxima primavera, que
se anunciam calamitosas. Mas a análise objetiva do estado da Europa, e dos seus
líderes atuais, deixa-nos grandes dúvidas.
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