Pelo terceiro dia consecutivo, a Venezuela foi palco de graves confrontos neste sábado (15). Setores de oposição voltaram a apostar na violência com o objetivo explícito de derrubar o presidente Nicolás Maduro, democraticamente eleito no ano passado. Estes grupos, alguns de conotação fascista, pregam abertamente “A saída”, a deposição do atual governante. Diante da gravidade da situação, o governo alertou que está em curso uma nova tentativa de golpe – a exemplo da investida fracassada de abril de 2002 – e prometeu resistir para defender a democracia. Em discurso durante a “marcha pela paz” em Caracas, Nicolás Maduro acusou de “fascista” o principal líder da oposição, Leopoldo López.
Após os conflitos
do meio da semana, que resultaram em três mortes e 66 pessoas gravemente
feridas, a Justiça venezuelana decretou a prisão de três líderes da oposição
fascistóide – entre eles, de Leopoldo López, ex-prefeito de Chacao, cidade da
região metropolitana de Caracas. Ele é acusado de incitar a violência e de
participar diretamente dos atos de vandalismo. Nicolás Maduro também decidiu
apostar na mobilização de rua “contra o fascismo, a violência e o golpismo” e
reforçou a convocação da “marcha da paz”, organizada pelos movimentos sociais e
os partidos de esquerda. O clima de radicalização política é cada vez mais
acirrado e preocupante na nação vizinha.
A mídia
venezuelana, que andava meio tímida, voltou à carga e tem convocado
euforicamente os protestos da direita. Já setores empresariais investem no caos
da economia, desabastecendo os mercados de produtos básicos e pressionando pelo
aumento dos preços. No front externo, velhos inimigos da revolução bolivariana
também se agitam. Na sexta-feira (14), o secretário de Estado dos EUA, John
Kerry, disse estar “profundamente preocupado” com o aumento das tensões. Já a
Alta Representante da União Europeia para a Política Externa, Catherine Ashton,
“pediu às partes que desenvolvam um diálogo pacífico”, mas não escondeu a sua
simpatia pelos atos oposicionistas.
A ofensiva golpista
do agrupamento “La Salida”, porém, não é assim tão homogênea. Na própria
oposição há quem critique seus métodos violentos e sua tentativa de derrubar o
governo. Até o direitista Henrique Capriles, que foi derrotado nas duas últimas
eleições presidenciais, tem divergido da tática adotada pelo grupo fascista.
Ele teme que a oposição se desgaste com as práticas de vandalismo e insiste que
o único caminho possível é o da “via eleitoral”. Segundo reportagem do jornal
espanhol El País, os episódios recentes podem até resultar num racha da Mesa da
Unidade Democrática (MUD), que havia conseguido o feito inédito de unir todas
as forças oposicionistas da Venezuela.
A matéria especula
que os protestos recentes “parecem oficializar uma crise na liderança opositora
que ameaça levar ao fracasso a trabalhosa unidade construída durante os últimos
dois anos”. A fragorosa derrota do MUD nas eleições municipais de dezembro
passado já tinha acirrado a divisão interna. “O triunfo do governo nesse
pleito, ao qual a oposição havia outorgado caráter plebiscitário, foi
interpretado como revés pessoal de Capriles” e serviu de estopim para que
outros integrantes da aliança oposicionista “começassem a atuar de maneira
autônoma”. Isto talvez explique a radicalização terrorista destas lideranças,
que também possuem “aspirações presidenciais”, segundo o El País.
Altamiro Borges – Pátria
Latina
Ilustração:
Osval/Rebelión
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