terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Angola: REPTO DE CHIVUKUVUKU A EDUARDO DOS SANTOS

 

Folha 8 - 8 de Fevereiro 2014
 
Embora blindado pelos seus servos, nem sem­pre o Pre­sidente da República pode alegar desconhecimento do que se passa no país real. É o caso. No exercício dos seus direitos legais, que não deveria ser preciso referir se acaso fossemos uma democracia, o Presi­dente da CASA-CE escre­veu a Eduardo dos Santos testemunhando o que, in loco, verificou no dia 30 de Janeiro quando visitou o acampa­mento onde foram despejados os ci­dadãos que vi­viam na Chicala e no Kilombo, município das Ingombotas.
 
Embora seja uma prática corrente e recorrente, Abel Epalanga Chivuku­vuku, alertou o Presiden­te da República e chefe do Governo também para a “tentativa de impedimen­to ilegal e por meios vio­lentos, por parte de efec­tivos da Policia Nacional e das Forças Armadas Angolanas, que chegaram a agredir Odeth Ludovina Baca Joaquim, deputada e secretária de Mesa da Assembleia Nacional da CASA-CE”.
 
“Abstenho-me de expli­car-lhe o que pude obser­var no acampamento da Kissama pela dimensão ultrajante do tratamento desumano a que estão su­jeitos os cidadãos Ango­lanos, nossos compatrio­tas”, escreveu o líder da CASA-CE numa clara e inequívoca manifestação de repúdio e dor perante a prepotência e desuma­nidade, quase a raiar a escravatura, dos poderes públicos.
 
“Tenho clara noção das múltiplas responsabili­dades que pesam sobre os Vossos ombros, no âmbito da governação do nosso país”, escreveu Abel Epalanga Chivuku­vuku, acrescentando ter também “plena cons­ciência de que, como humano que Vossa Ex­celência é, provavel­mente pode não ter o total conhecimento do que vai ocorrendo no nosso país e eventual­mente, mesmo aqui em Luanda.”
 
O Presidente da CASA­-CE admite até como provável “que grande par­te dos relatórios de que Vossa Excelência se serve para ter uma imagem do país não correspondam à realidade”.
 
Com essa presunção e dando o benefício da dú­vida a José Eduardo dos Santos, Abel Epalanga Chivukuvuku refere que, “humildemente, vos su­plico, em nome daqueles que sofrem no acampa­mento da Kissama, que consagre uma manhã da sua agenda, por mais carregada que ela esteja, para ir visitar o acampa­mento da Kissama e ver com seus próprios olhos para que confirme se o que tem sido feito com as transferências forçadas de cidadãos, coincide ou não com o Vosso projecto de governação e se coin­cide ou não com as Vos­sas instruções”.
 
Abel Epalanga Chivuku­vuku diz acreditar que, “depois da constatação” que o Presidente da Re­pública possa eventual­mente fazer, “o sofrimen­to e a injustiça contra os angolanos da Chicala e do Kilombo terminarão ime­diatamente”.
 
Recorde-se que mais de mil famílias, que habita­vam nos bairros Kilombo e Chicala foram coerciva­mente transferidas para a comuna do Zango, em Viana, a propósito da dita requalificação urbana de Luanda levada a cabo pelo Governo Provincial.
 
Numa acção que não le­vou em conta a preca­riedade dos moradores em matéria de acesso à informação relativa ao processo, as autoridades iniciaram as demolições resguardadas por um for­te dispositivo militar.
 
Sendo o processo de re­qualificação elaborado em cima do joelho, remenda­do consoante as urgên­cias, até há casos de gente que já vira a sua anterior casa demolida, no bairro do Iraque, por exemplo, e que fora realojada na Chi­cala mas que, agora, volta a ser atirada para outro local.
 
Embora não sejam exi­gentes como deveriam, muitos dos realojados garantem que as novas casas não têm as mínimas condições de habitabili­dade. Se a isso se juntar a inexistência de escolas e de outras estruturas de apoio, como transportes públicos, fica-se certa­mente com a noção de que o inferno deve ser mesmo ali.
 
A
 
Sua Excelência
 
Senhor José Eduardo dos Santos
 
Presidente da República de Angola
 
LUANDA
 
Excelência!
 
Aceite os meus respeitosos cumprimen­tos.
 
Na minha qualidade de Presidente da Con­vergência Ampla de Salvação de Angola – CASA-CE, e de servidor do cidadão, visitei nesta manhã do dia 30 de Janeiro de 2014, o acampamento onde foram despejados os cidadãos que viviam na Chicala e no Kilombo, município das Ingombotas. E, apesar da tentativa de impedimento ilegal e por meios violentos, por parte de efec­tivos da policia nacional e das forças ar­madas angolanas, que chegaram a agredir a senhora Odeth Ludovina Baca Joaquim, Deputada e 4ª Secretária de Mesa da As­sembleia Nacional, consegui fazer a visita.
 
Abstenho-me de explicar-lhe o que pude observar no acampamento da Kissama pela dimensão ultrajante do tratamento desumano a que estão sujeitos os cida­dãos Angolanos, nossos compatriótas.
 
Excelência!
 
Tenho clara noção das múltiplas respon­sabilidades que pesam sobre os Vossos ombros, no âmbito da governação do nos­so país.
 
Também, tenho plena consciência, de que, como humano que Vossa Excelência é, provavelmente pode não ter o total co­nhecimento do que vai ocorrendo no nos­so país e eventualmente, mesmo aqui em Luanda. Até é provavel que grande parte dos relatórios de que Vossa Excelência se serve para ter uma imagem do país não correspondam a realidade.
 
Assim, humildemente, vos suplico, em nome daqueles que sofrem no acampa­mento da Kissama, Senhor Presidente, consagre uma manhã da sua agenda, por mais carregada que ela esteja, para ir visi­tar o acampamento da Kissama e ver com seus proprios olhos para que confirme se o que tem sido feito com as transferencias forçadas de cidadãos, coincide ou não com o Vosso projecto de governação e se coincide ou não com as Vossas instruções.
 
Tenho a certeza de que depois da vossa constatação, e se não coincidir com o Vos­so pensamento, o sofrimento e a injustiça contra os Angolanos da Chicala e do Ki­lombo terminarão imediatemente.
 
Finalmente, informo a Vossa Excelência, que tenciono voltar a visitar o acampanen­to da Kissama para mais uma vez procurar constatar se houve ou não mudança na condição de vida daqueles Angolanos.
 
Luanda, aos 30 de Janeiro de 2014.
 
Respeitosamente
 
Abel Epalanga Chivukuvuku
 
Presidente da CASA-CE
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana