Jornal de Angola,
editorial
Há muito que o país
se debate com o desafio de tornar as unidades penitenciárias em espaços humanos
de ressocialização e reeducação.
Os números da
população penal são ainda preocupantes um pouco por todo o país, mas são
animadoras as informações ligadas aos esforços do Executivo, do Ministério do
Interior e dos órgãos por este tutelados, sobre reformas e melhoria das
condições nas prisões e centros de detenção.
Recentemente, comemorou-se mais um aniversário dos Serviços Prisionais, uma
unidade afecta ao Ministério do Interior que cumpre, entre outras funções,
medidas ligadas à privação de liberdade a todos quantos entrem em conflito com a
lei.
A privação temporária da liberdade, obedecendo aos parâmetros jurídicos e
legais, visa essencialmente reorientar, reeducar e proporcionar, à pessoa
detida ou presa, condições que o habilitem a regressar normalmente para a
sociedade. Não pode haver outra interpretação na medida em que cumpre ao Estado
e às suas instituições a criação de condições para o exercício dos Direitos,
Liberdades e Garantias Fundamentais dos Cidadãos, tal como está escrito na
Constituição.
É compreensível a complexidade do funcionamento dos Serviços Prisionais,
entendido por uns como decorrente da simples privação da liberdade e por outros
como parte do processo de ressocialização e reeducação de quem um dia entrou em
conflito com a lei. É do interesse do Estado que as pessoas presas ou detidas
saiam das instituições prisionais reabilitadas e úteis para a sociedade. Nesta
senda, importa realçar os esforços feitos para uma correcta gestão da população
prisional, ainda em números consideráveis, e enaltecer os passos dados pelo Executivo
para a inversão deste quadro e a humanização das cadeias.
Os níveis de incumprimento dos prazos relacionados com a prisão preventiva
baixaram significativamente em todo o país e, ao contrário do que sucedia com
alguma frequência há alguns anos, hoje há maior celeridade na articulação entre
a investigação, procuradoria e tribunais.
É verdade que em determinadas regiões do país ainda há casos de excesso
no cumprimento da prisão preventiva. Acreditamos que esta situação vai, com a
reforma penal em curso, conhecer outros contornos.
Relativamente ao funcionamento dos Serviços Prisionais, da existência de
condições prisionais, bem como as condições infraestruturais, muitas províncias
vivem ainda redobrados desafios. Atento a estes problemas, o Executivo promove,
no quadro dos esforços para levar a justiça a todos os recônditos do país, um
amplo programa para dignificar o funcionamento dos Serviços Prisionais. A
expansão e alargamento das infra-estruturas prisionais, reabilitação,
construção e ampliação das cadeias, criação de novos campos de produção, entre
outras infra-estruturas sociais, tal como anunciadas pela direcção do
Ministério do Interior, são essenciais para proporcionar habitabilidade e
dignidade aos presos e detidos.
São esforços encorajadores que indicam que o recurso à prisão preventiva pode
conhecer uma outra realidade que, além de diminuir, vai contribuir para dar
condições dignas às pessoas que constituem população penal em muitas unidades
penitenciárias.
O anúncio da direcção do Ministério do Interior, por via do secretário de
Estado do Interior, sobre o desenvolvimento de acções que contribuam para a
expansão e alargamento das infra-estruturas prisionais, bem como a formação e
melhoria de condições dos funcionários, revela bem o empenho do Estado. O
crescimento e ampliação de novos campos de produção, entre outras
infra-estruturas sociais que aceleram o processo de ressocialização e
reinserção das pessoas em conflito com a lei, vai ajudar o processo de humanização
das cadeias. O crescimento da população penal um pouco por todo o país
representa também grande preocupação para toda a sociedade.
O recurso às campanhas de sensibilização, à promoção da educação, da
alfabetização, criação de condições para empregar grande parte da população
economicamente activa, entre outras medidas, contribuem para olharmos de
maneira diferente os Serviços Prisionais.
A formação contínua do pessoal afecto aos Serviços Prisionais, acompanhada da
dignificação das suas condições laborais e salariais, constitui igualmente uma
via para melhorar as relações entre os que se encontram privados de liberdade e
os funcionários das cadeias. Não temos a menor dúvida de que a humanização das
cadeias com projectos de reeducação e reinserção dos presos e detidos vai
resultar em benefícios para o país. A inserção de homens detidos e condenados
em actividades com potencial de dotá-los de competências e ocupação
profissional constitui passo fundamental para evidenciar o lado benéfico da
privação temporária da liberdade. Que a privação da liberdade, as unidades
penitenciárias e os seus funcionários sejam encarados como factores através dos
quais o processo de humanização, ressocialização e reeducação é uma realidade.
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