Martinho Júnior,
Luanda
1 – Assinala-se
hoje, dia 23 de Março de 2004, o 26º aniversário da batalha do Cuito Cunavale e
a cada ano que passa, mais elementos vêm sendo dados a conhecer.
A história dos
acontecimentos ainda não foi suficientemente abordada, conforme eu já havia
assinalado antes, em 2008, por alturas do 20º aniversário da batalha.
Os investigadores
que se têm empenhado na história dos acontecimentos não têm tido acesso suficiente
em relação a depoimentos e documentos, um trabalho que deveria contar com a
abertura de arquivos militares e pesquisa pessoal em Angola, na África do Sul,
em Cuba e na Rússia.
É evidente que dada
a sua ligação em relação à política, à diplomacia, à economia e à intligência,
as investigações teriam de ser ainda muito mais vastas.
2 – Há um
investigador-históriador que muito tem contribuído para o conhecimento de
algumas questões referentes à batalha, mas ele tem trabalhado aparentemente e
apenas em função do seu acesso aos arquivos das Forças Armadas Revolucionárias
de Cuba.
Trata-se de Piero
Gleijeses.
O seu trabalho está
relativamente avançado no que diz respeito a Cuba, uma vez que ele tem
interesse primordial em debruçar-se no estudo histórico dos relacionamentos de
Cuba com os Estados Unidos e isso poderá restringir o seu possível acesso ao
cômputo documental que há a fazer em relação aos acontecimentos da longa
batalha do Cuito Cuanavale.
Angola tem-se
limitado a evocar a data a cada ano que passa, mas ainda não levou a cabo um
trabalho de pesquisa histórica-militar de fundo, que deveria aliás contagiar a
África do Sul e a Rússia, para além do que Cuba já fez.
Os resultados da
ausência dessa pesquisa estão a aparecer, por exemplo: o General José Maria
realçou o facto de não constar o nome de angolano algum no monumento do Parque
da Liberdade em Pretória, um monumento que faz alusão aos heróis de Cuito
Cuanavale!
É evidente que isso
tem de ver com a sensibilidade corrente na África do Sul, uma África do Sul que
não se libertou do culto de inteligência de determinadas elites que desse modo,
além do mais, têm particular interesse em omitir a história.
3 – Em Angola há
vocações disponíveis para trabalhos de investigação histórica que não estão a
ser utilizados e, se os angolanos conhecedores dos acontecimentos se estão a
queixar, parece deliberadamente esquecerem-se também dessas vocações, estando
agora perante o dilema: os acontecimentos estão a ser omitidos, por que nem
sequer os pesquisadores angolanos de história alguma vez terem sido mobilizados
para estudar os próprios arquivos militares angolanos!
A “ATD” é uma das
vocações tecnicamente mais conhecidas que podem tornar-se disponíveis, mas é um
exemplo do facto de não ter havido mobilização para o efeito.
Essa Associação
deveria ser reforçada e uma das suas pesquisas poderia recair sobre os
acontecimentos do Cuito Cuanavale, até por que muitos dos seus associados são
antigos combatentes angolanos, alguns deles heróis de longas batalhas!
O facto de, por
razões políticas e geo estratégicas, se ter acabado com as FAPLA, tem sido
também um dos factores inibidores em Angola, em relação à história da batalha
do Cuito Cuanavale!
4 – De qualquer
modo urge que se possa tirar partido dos trabalhos de Piero Gleijeses, abrindo
a possibilidade de ele também vir a consultar os aquivos militares das
gloriosas FAPLA e ter acesso a depoimentos de muitos sobreviventes angolanos da
batalha, de ambos os lados do “front”…
Esse esforço
deveria também ser aberto na África do Sul e na Rússia, na parte que toca à
história-militar dos acontecimentos.
Outra iniciativa
seria a de produzir no Cuito Cuanavale, ou num monumento alusivo á data, a
instalar noutro ponto de Angola, o que por omissão não foi espelhado em
Pretória no Parque da Liberdade e em relação aos angolanos, tendo em conta a
legitimidade da reclamação por parte de Angola!
O repto está em
cima da mesa e só as entidades que se têm debruçado sobre estes assuntos se
poderão determinar a dar a melhor resposta.
Se assim não for o
risco maior é o de que a história esteja a ser “mal contada”… o que aliás
interessa a muita gente interessada nesse tipo de omissões… alguns deles
angolanos!
A consultar:
- Cuba en África –
história olvidada – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=181746
- Operação Tumpo
resulta de acções sul afrocnas desde 1975 – General José Maria – http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2014/2/12/Cuando-Cubango-Operacao-Tumpo-resulta-accoes-sul-africanas-desde-1975-General-Jose-Maria,ad47ee0e-cbef-4616-b716-ff757d5d317a.html
- Higino Carneiro
realça a importância da batalha do Cuito Cuanavale para Namíbia – http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2014/2/12/Cuando-Cubango-Higino-Carneiro-realca-importancia-batalha-Cuito-Cuanavale-para-Namibia,232a0ce7-c128-4ddc-9cf3-4fa863015c40.html
- Embaixadora rende
homenagem aos angolanos que morreram pela causa da Namíbia – http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2014/2/12/Huila-Embaixadora-rende-homenagem-aos-angolanos-que-morreram-pela-causa-Namibia,ee530bb2-1963-4532-9ffe-e9565c93e115.html
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