domingo, 23 de março de 2014

Angola: CUITO CUANAVALE É UMA INCONTORNÁVEL VIRAGEM



Martinho Júnior, Luanda

1 – Assinala-se hoje, dia 23 de Março de 2004, o 26º aniversário da batalha do Cuito Cunavale e a cada ano que passa, mais elementos vêm sendo dados a conhecer.

A história dos acontecimentos ainda não foi suficientemente abordada, conforme eu já havia assinalado antes, em 2008, por alturas do 20º aniversário da batalha.

Os investigadores que se têm empenhado na história dos acontecimentos não têm tido acesso suficiente em relação a depoimentos e documentos, um trabalho que deveria contar com a abertura de arquivos militares e pesquisa pessoal em Angola, na África do Sul, em Cuba e na Rússia.

É evidente que dada a sua ligação em relação à política, à diplomacia, à economia e à intligência, as investigações teriam de ser ainda muito mais vastas.

2 – Há um investigador-históriador que muito tem contribuído para o conhecimento de algumas questões referentes à batalha, mas ele tem trabalhado aparentemente e apenas em função do seu acesso aos arquivos das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba.

Trata-se de Piero Gleijeses.

O seu trabalho está relativamente avançado no que diz respeito a Cuba, uma vez que ele tem interesse primordial em debruçar-se no estudo histórico dos relacionamentos de Cuba com os Estados Unidos e isso poderá restringir o seu possível acesso ao cômputo documental que há a fazer em relação aos acontecimentos da longa batalha do Cuito Cuanavale.

Angola tem-se limitado a evocar a data a cada ano que passa, mas ainda não levou a cabo um trabalho de pesquisa histórica-militar de fundo, que deveria aliás contagiar a África do Sul e a Rússia, para além do que Cuba já fez.

Os resultados da ausência dessa pesquisa estão a aparecer, por exemplo: o General José Maria realçou o facto de não constar o nome de angolano algum no monumento do Parque da Liberdade em Pretória, um monumento que faz alusão aos heróis de Cuito Cuanavale!

É evidente que isso tem de ver com a sensibilidade corrente na África do Sul, uma África do Sul que não se libertou do culto de inteligência de determinadas elites que desse modo, além do mais, têm particular interesse em omitir a história.

3 – Em Angola há vocações disponíveis para trabalhos de investigação histórica que não estão a ser utilizados e, se os angolanos conhecedores dos acontecimentos se estão a queixar, parece deliberadamente esquecerem-se também dessas vocações, estando agora perante o dilema: os acontecimentos estão a ser omitidos, por que nem sequer os pesquisadores angolanos de história alguma vez terem sido mobilizados para estudar os próprios arquivos militares angolanos!

A “ATD” é uma das vocações tecnicamente mais conhecidas que podem tornar-se disponíveis, mas é um exemplo do facto de não ter havido mobilização para o efeito.

Essa Associação deveria ser reforçada e uma das suas pesquisas poderia recair sobre os acontecimentos do Cuito Cuanavale, até por que muitos dos seus associados são antigos combatentes angolanos, alguns deles heróis de longas batalhas!

O facto de, por razões políticas e geo estratégicas, se ter acabado com as FAPLA, tem sido também um dos factores inibidores em Angola, em relação à história da batalha do Cuito Cuanavale!

4 – De qualquer modo urge que se possa tirar partido dos trabalhos de Piero Gleijeses, abrindo a possibilidade de ele também vir a consultar os aquivos militares das gloriosas FAPLA e ter acesso a depoimentos de muitos sobreviventes angolanos da batalha, de ambos os lados do “front”…

Esse esforço deveria também ser aberto na África do Sul e na Rússia, na parte que toca à história-militar dos acontecimentos.

Outra iniciativa seria a de produzir no Cuito Cuanavale, ou num monumento alusivo á data, a instalar noutro ponto de Angola, o que por omissão não foi espelhado em Pretória no Parque da Liberdade e em relação aos angolanos, tendo em conta a legitimidade da reclamação por parte de Angola!

O repto está em cima da mesa e só as entidades que se têm debruçado sobre estes assuntos se poderão determinar a dar a melhor resposta.

Se assim não for o risco maior é o de que a história esteja a ser “mal contada”… o que aliás interessa a muita gente interessada nesse tipo de omissões… alguns deles angolanos!

A consultar:
- Cuba en África – história olvidada – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=181746

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