sábado, 31 de maio de 2014

ANGOLA, ASSIM ATÉ QUANDO?



Hélder Semedo, Coimbra

Grandes e pequenos países da União Europeia, sempre com os olhos postos em Angola e nos interesses económicos que o país lhes pode proporcionar, têm tido a precaução de registar em grandes pedras de gelo violações dos Direitos Humanos, irregularidades eleitorais, “lavagens de capitais” denunciadas e outros pendores de défice democrático. Quando o gelo derrete tudo se perde. E o gelo derrete rapidamente, principalmente e com oportunidade quando Angola acena com negócios. Então é ver o corrupio de líderes europeus rumo a Angola em visitas de Estado. Caso da alemã Ângela Merkel, entre outros.

Também líderes angolanos visitam os países europeus em resposta a convites e na leva de muito calor na bagagem para que o gelo derreta mais fácil e mais rapidamente. Afinal são relações de Estado. E seriam naturais, normalíssimas, se por acaso esses países (caso da Alemanha) anteriormente não viessem pôr em questão as relações económicas entre Portugal e Angola – ou entidades de topo na governação de Angola. Mais precisamente entre personalidades angolanas que investem em Portugal e que aqui del-rei estão a lavar capitais. Curioso é que se em vez de em Portugal essas ou outras entidades empresariais - mas também políticas e governamentais – investirem milhares ou milhões noutros (certos) países europeus já nada de opaco está a acontecer e as ilegalidades não existem. Pelo visto as ilegalidades só acontecem (ou são suspeitas) entre Angola e Portugal, ou entre poucos mais. Essas “histórias” são conhecidas e dispenso-me de aqui as enunciar.

Os indícios de irregularidades e enriquecimentos ilícitos existem. Uns quantos ativistas angolanos não se têm cansado de apontar. Alguns até têm pago com língua de palmo a coragem que demonstram nas suas denúncias. Processos em tribunal, por isto e por aquilo, são frequentes. A repressão existe em Angola. Os músculos do regime têm sido bastante evidentes. Opositores têm perdido a vida, têm “desaparecido”, ou têm aparecido com o corpo crivado de maus-tratos policiais ou de “gorilas” que se dispõem a fazer os trabalhos sujos.

Não se trata aqui de limpar imagens de alguns dos que sendo afetos ao regime enriqueceram de modo dantesco, quase que de um dia para o outro. Eles existem e são apontados pelos angolanos atentos e opositores de tais métodos de “negócios”. Mas não podemos esquecer a Alemanha, agora caladinha que nem uma ratinha do Mikey, após ter visitado Angola e, transparentemente (?), ter feito uns quantos negócios com Angola. A partir daí as “lavagens de capitais” foram para o Maneta – que é um personagem rico se atentarmos naquilo que para ele vai e sempre recebe sorridente.

Conforme se pode citar a Alemanha outros países europeus e do mundo também cabem no figurino. Sempre foi dito: ou há moral ou comem todos. A rigorosa Alemanha e outros países, afinal… No colonialismo levavam contas de vidro e traziam ouro e diamantes. Agora é tempo do neocolonialismo. Outros métodos. Que até se assemelham.

Os jovens opositores angolanos

Tem sido notícia a repressão às manifestações de jovens opositores ao regime angolano. Igualmente têm sido referidos raptos, espancamentos, detenções, penas de prisão injustas e até assassinatos a alguns elementos dessa juventude opositora. Um regime que tem a prosápia de se declarar democrático e depois tem no seu historial mais recente (não se vá agora ao antigo) casos macabros e de completa prepotência, iniludivelmente não tem nada que se assemelhe a democracia. E se a deseja na realidade tem de começar por reformar mentalidades e, consequentemente, atitudes e políticas. Por exemplo, a atitude das polícias. E se deve acontecer deste modo com as polícias também o mesmo é recomendável aos políticos dominantes, assim como a todos os opositores que precisem dessa reforma. Certo é que a juventude merece e deve ver uma linha de horizonte promissora que inclua boa formação social, académica e profissional que desagúe num emprego ou iniciativa empresarial que corresponda àquilo que perseguiu com o seu empenho. E na atualidade não é isso que a juventude sente, nem vê. Quase que nem vislumbra oportunidades nesse sentido. O que vê é um país riquíssimo com medonhas, vergonhosas e injustas, assimetrias sociais. O que é avesso ao constante nos estatutos do partido maioritário, o MPLA e à própria Constituição da República de Angola.

Cabritos 

Sabemos que Angola travou guerras durante décadas. Não é fácil em dez anos de paz reconstruir um país imenso depois de tanto tempo no esforço do domínio territorial e político-ideológico… Mas estes dez anos já deviam ter possibilitado muito mais justiça social para os angolanos, muito mais progresso no interior do país, muito mais empenho na formação de empresários e técnicos que visassem a implementação de indústrias que tornassem Angola muito mais auto-suficiente. Consequentemente seria imensamente maior o leque de postos de trabalho e a justa distribuição da riqueza. Em vez disso vimos uns quantos na concentração da riqueza, quase como que por milagre. A fazer lembrar o adágio “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem”. Mistério? Roubo? Corrupção? Sim. Umas vezes sim, outras não. É o que consta e o que deve corresponder a muitos casos. Casos de enriquecimentos ilícitos, imorais. Casos de injustiças que jorram a sua foz nas imensas e gritantes injustiças sociais. Angola, assim até quando?

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