Tomás Vasques –
jornal i, opinião
O PS ganhou, os
partidos de esquerda têm mais de metade dos votos e Marinho e Pinto pode
baralhar os resultados das legislativas
1 - As eleições
realizadas ontem foram para o Parlamento Europeu. Mas só formalmente. À
excepção dos próprios candidatos, dos vários partidos concorrentes, e seus
familiares mais próximos, a que se deve acrescentar Marcelo Rebelo de Sousa, o
qual nos informou que ia votar para eleger Jean-Claude Juncker presidente da
Comissão Europeia, não deve ter havido mais portugueses a deslocarem-se às
urnas de voto com o objectivo de eleger os vinte e um deputados portugueses a
enviar para Bruxelas. A "União Europeia" é uma "entidade"
cada vez mais longínqua e autoritária, completamente desligada da vida e dos
anseios dos seus cidadãos. Quem exerceu o seu direito de voto, e cada vez são
menos a fazê-lo, tais são as desilusões, senão mesmo aversões, que atingem o
regime democrático, foi exprimir o seu apoio ou a sua condenação às políticas
executadas, nos últimos três anos, pelo governo português. E, por isso, os
resultados eleitorais só podem ser interpretados como um julgamento político
deste governo.
2 - Não conheço, no
momento em que escrevo, os resultados definitivos, mas apenas projecções.
Ressalvada desde já qualquer hecatombe não projectada, o que nunca aconteceu, a
primeira leitura que se deve fazer é que os portugueses continuam um povo de
brandos costumes. Face ao empobrecimento que lhes bateu à porta, nem Marinho e
Pinto se aproximou dos 30% de Beppe Grillo, na Itália (apesar de constituir a
grande surpresa destas eleições ao ultrapassar o obtido pelo Bloco de
Esquerda); nem o PCP ou o BE discutiram, voto a voto, a vitória nestas
eleições, como o Siryza, na Grécia; nem sequer a coligação PSD/CDS--PP
desapareceu do mapa partidário, como quase aconteceu aos socialistas gregos,
depois das duríssimas medidas de austeridade que impuseram no seu país. Nem
temos uma extrema-direita organizada que se aproveite do descontentamento, como
a Frente Nacional, em
França. Não houve nenhum terramoto, nem o rotativismo que
sustenta o regime foi sangrado de modo a produzir rupturas significativas a
breve prazo. A segunda leitura tem a ver com o crescente e perigoso
desinteresse dos portugueses pela democracia traduzido numa abstenção a roçar
os 65%. A sistemática falta de palavra, sem vergonha, nem decoro, no
cumprimento de promessas por parte dos candidatos e a pobreza das campanhas
eleitorais, alimentada pelas estranhas decisões da Comissão Nacional de
Eleições, próprias de quem está empenhado em impedir debates televisivos entre
os principais candidatos, não podem conduzir a outro resultado.
3 - Posto isto, a
vitória nestas eleições do maior partido da oposição - o PS -, apesar da margem
que o separa da coligação que, nestas eleições, juntou os dois partidos que
sustentam o governo - PSD/CDS-PP -, não ser tão confortável quando se previa,
significa que a actual maioria no parlamento nacional já não corresponde à
vontade dos eleitores, o que lhe retira legitimidade para prosseguir no mesmo
rumo. Esta perda de legitimidade não devia deixar o senhor Presidente da
República indiferente, tanto mais que a derrota da "maioria" que
governa é clara e inequívoca, não atingido os dois partidos coligados 30 % dos
votos, menos do que o resultado obtido há 5 anos pelo PSD.
4 - A subida do PCP
é significativa, mas relativa. Os comunistas, que controlam grande parte do
movimento sindical e que encabeçam a quase totalidade da contestação de rua,
não foram suficientemente recompensados eleitoralmente por esse esforço, e
mantêm-se acantonados no seu canto, sem arejar o regime. Nem beneficiaram, em
pleno, da perda de eleitores do Bloco de Esquerda, que entrou em fase de
sobrevivência.
5 - Estas eleições
constituíram o ensaio geral das legislativas do ano que vem. Podemos sublinhar
três aspectos: o PS ganhou as eleições; os partidos à esquerda dos partidos no
governo recolhem metade dos votos dos portugueses; Marinho e Pinto pode
baralhar os resultados das legislativas.
Jurista - Escreve à
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