sábado, 17 de maio de 2014

Portugal – UE: MUDANÇA




Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

Não haverá maior hipocrisia que a de um partido favorável a todas as políticas estruturantes desta UE apresentar-se às eleições europeias sob a palavra de ordem da mudança. A mentira eleitoral é a regra de ouro que permite essas políticas. Não perturba os mercados.

Na maioria dos países da UE, dois partidos alternam-se no poder investindo milhões em propaganda para parecerem diferentes. Valorizam-se as zaragatas. As suas certezas não são questionadas. Tudo o que paira fora do seu discurso é ridicularizado de modo que quem não tenha intenção de depositar o seu voto neste agregado sinta que a única forma de protesto é a abstenção.

Mas existe quem defenda políticas diferentes.

A extrema-direita ganha terreno por toda a Europa com a ideia simples de que quem está ao nosso lado está a ocupar o lugar que merecemos, que o nosso vizinho nos está a retirar rendimento, que o imposto que pagamos e nos deixa na miséria está a ser entregue a quem o não merece e que "eles" são corruptos e bandidos. O primarismo permite que a ideia se enraíze e propague fora dos canais convencionais.

À esquerda temos duas ideias distintas. Há os que, ainda que críticos, aceitem jogar o jogo sem lhe alterar as regras, procurando demonstrar a sua eficácia táctica a partir da não hostilização de parte do poder vigente. Trabalha-se religiosamente na crença de um momento redentor. Por fim, à esquerda, temos quem faça um discurso político contrário às regras instaladas. Propõe-se um outro caminho. No plano mediático, tudo o que se descreve desse outro caminho é meticulosamente ridicularizado ou silenciado. Transformam-se mentiras em verdades, opiniões contrárias em certezas.

Este outro caminho é certamente árduo de trilhar e difícil de prever. Decidir que nos mantemos neste rumo é bastante mais previsível mas ninguém acreditará que nos leve a um final feliz. 

Escreve ao sábado

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