quarta-feira, 4 de junho de 2014

Manhã "normal" em Pequim, com segurança reforçada




Pequim, 04 jun (lusa) - A atmosfera no centro de Pequim parecia hoje igual à dos outros dias, com o calor abafado próprio da época, mas o motorista estava a estranhar o número de polícias ao longo da principal avenida da cidade.

"Tantos polícias! Não percebo o que se passa", comentou o taxista ao entrar na "ChangAn", a larga artéria de mais de dez faixas que atravessa Pequim de leste a oeste e que passa no topo norte da Praça Tiananmen.

Quando o passageiro lhe lembrou que hoje é o "Liu Si" ("4 de junho"), o motorista percebeu logo: "É isso. Já me tinha esquecido".

O motorista, nascido e criado em Pequim, não é caso único: cerca de um terço dos seus compatriotas nasceu depois da sangrenta repressão militar do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, no dia 4 de junho de 1989, uma data sistematicamente ignorada na imprensa e discursos oficiais.

"Já tiramos as pertinentes conclusões acerca do referido incidente", disse um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros ao ser questionado na terça-feira sobre os acontecimentos ocorridos em Pequim há 25 anos.

Desde o ataque suicida do passado dia 23 maio, que causou 43 mortos num mercado de Xinjiang, região de maioria muçulmana no noroeste do país, a China está a promover uma campanha nacional contra o terrorismo.

Em Pequim, cerca das 10:00 (03:00 em Lisboa), os sinais do anunciado "reforço da segurança" pareciam mais evidentes do que antes.

Nas imediações da Praça Tiananmen, o espaço urbano mais sensível da China, situado no centro físico e político da capital chinesa, viam-se dezenas de viaturas da polícia estacionadas, incluindo os veículos pretos usados pela unidade especial antimotim.

Como todos os dias, mas em menor número do que é habitual, grupos de turistas da província visitavam a Praça acompanhados pelos respetivos guias e faziam-se fotografar tendo em fundo a imponente tribuna de cor púrpura que dá o nome ao local: Tiananmen (Porta da Paz Celestial).

Nos candeeiros do topo norte da praça viam-se bandeiras da China e do Koweit, cujo primeiro-ministro, Sheik Jaber al-Murabak al-Hamad al-Sabah, está a efetuar uma visita oficial ao país.

Para o governo chinês, o movimento pró-democracia de 1989, iniciado por estudantes de Pequim, mas se estendeu rapidamente a dezenas de cidades, com o apoio de intelectuais e outras camadas da população, foi "uma rebelião contrarrevolucionária".

Centenas de pessoas morreram e milhares de outras foram presas ou exilaram-se.

A China, entretanto, tornou-se a segunda maior economia mundial, com milhões de pessoas a ascenderem anualmente à classe média e a passarem férias fora do país, mas o "4 de Junho" continua a ser uma data tabu.

AC // JCS - Lusa

Jornal chinês acusa"forças anti-china" de tentarem "desestabilizar" o país

Pequim, 04 jun (Lusa) - Um jornal de Pequim quebrou hoje o silêncio da imprensa oficial acerca do 25.º aniversário da repressão militar do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, acusando "forças anti-China" ocidentais de utilizarem a efeméride para tentar "desestabilizar" o país.

"A sociedade chinesa não esqueceu o incidente de há 25 anos, mas o facto de não falar sobre isso mostra a atitude da sociedade", diz o Global Times, uma publicação em inglês do grupo Diário do Povo, órgão central do Partido Comunista Chines (PCC).

Num raro editorial sobre os dramáticos acontecimentos de 04 de junho de 1989, o dia em que o exército chinês esmagou um movimento de contestação iniciado por estudantes, o Global Times afirma que "as novas gerações têm evitado ser manipuladas por forças contrárias ao atual sistema político da China".

"A maioria dos chineses confia no progresso da China e na vontade de mudar o país através de um processo geral de reformas. Não está interessada nos apelos revolucionários vindos do estrangeiro", afirma o jornal.

"Só um pequeno número de chineses quer dançar ao ritmo do Ocidente", acrescenta.

Centenas de pessoas morreram naquele 04 de Junho - o "Liu Si" ("4 do 6"), como dizem os chineses - mas o número exato de mortos continua a ser segredo de Estado.

"A China bloqueou informação relevante para impedir que isso influenciasse o bom desenvolvimento da política de reforma económica e abertura ao exterior", justifica o Global Times.

Segundo realça o jornal, a China, entretanto, "transformou-se na segunda economia mundial", logo a seguir aos Estados Unidos da América, enquanto a "União Soviética se dissolveu" e "o comunismo caiu na Europa de leste".

"A sociedade chinesa ainda se lembra como era pobre há 25 anos (...) o que está a acontecer na Ucrânia e na Tailândia afetou-nos mais do que os sermões e apelos do Ocidente (...) Nunca seguiremos os passos do Ocidente", proclama o jornal.

Oficialmente, o movimento pró-democracia de 1989 é considerado "uma rebelião contrarrevolucionária".

As Mães de Tiananmen, grupo fundado por mulheres que perderam os filhos no "Liu Si" (04 de Junho), e que reclama a reavaliação do veredito oficial sobre aquele dia, já identificaram 202 mortos.

Milhares de outros foram presos ou exilaram-se.

AC // VM - Lusa

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