Verdade (mz) - Editorial
Durante 21 anos,
julgámos que as nossas desinteligências sobre a governação do país estavam
ultrapassadas e o rumo que este devia tomar era o certo. O nosso alento
assentava no Acordo Geral de Paz. Todavia, o mesmo entendimento que se
acreditava ser uma panaceia volta a estar, hoje, na origem da nossa rixa. Os
motivos que nos fazem transformar vias de acesso em campos de combate e as
matas em esconderijos de armas e de nós próprios sob o pretexto de estarmos
ameaçados de morte, como o faz Afonso Dhlakama, são indiscutivelmente fúteis
quando temos gente a morrer e infra-estruturas a serem destruídas.
O conflito armado
que durou 16 anos em Moçambique, do qual poucos compatriotas se querem lembrar,
começou da mesma forma: Um tiro aqui, outro ali e outro ainda acolá. No passado
foi assim e, agora, também, guerreamo-nos pela ganância de controlar o país, e
fazemos tudo em nome da democracia, advogando um pretenso bem-estar para o
povo.
Invariavelmente, os
nossos direitos preexistentes à vida, à liberdade e à propriedade são
infringidos por duas pessoas – o Presidente da República, Armando Guebuza; e o
líder da Renamo, Afonso Dhlakama – e pelos seus sequazes. Guebuza ama a paz mas
apenas nos discursos porque na prática os seus actos contrariam a si próprio.
Ele não faz fé aos ensinamentos que nos tem dado sobre a unidade nacional. Por
acreditar que o nosso inimigo está lá, insiste em ordenar o avanço do Exército
para Gorongosa para transformar Dhlakama num homem igual a um rato encurralado
numa toca.
Neste clima de
cortar à faca em que estamos, não restam dúvidas de que vivemos duas décadas
enganados em relação à nossa própria realidade e não faz sentido, pedra a
pedra, continuarmos a construir um novo dia sem garantia de paz. E Guebuza e
Dhlakama podem libertar-nos desta melancolia, bastando para tal olharem para as
suas cabeças esbranquiçadas e apertarem as mãos. Chega de andarmos aos tiros.
Guebuza reafirma,
de forma ensurdecedora, que apesar da postura belicista da “Perdiz”, o
Executivo está predisposto a encontrar uma solução pacífica para a guerra que
se alastra mas encara o diálogo com Dhlakama como um acto de caridade e não um
assunto de interesse da nação; por isso, promete fundos ao general para se
deslocar a Maputo antes de o mesmo se queixar da falta de meios.
Sabemos que os
impasses nas negociações em curso entre o Governo e a Renamo não passam de um
jogo político e de um entretenimento gratuito. A recente história em relação ao
Pacote Eleitoral é uma das provas disso depois de nos terem deixado meses a fio
receosos e desesperados devido ao rumo que as discussões seguiam. Quantos
diálogos e apelos são necessários para haver paz no país?
Além dos apupos à
Renamo, as Organizações da Sociedade Civil abandonam as suas tocas para apelar
para que Dhlakama pare com a guerra. Aqueles que entendem melhor sobre os
direitos humanos já pedem a intervenção da ONU no sentido de se evitar a
eclosão de mais uma guerra civil iminente. Afinal nós não somos adultos,
sensatos e cientes das nossas acções? E é estranho que nesse processo de
sensibilização o alto magistrado da nação esteja a ser excluído.
Depois das eleições
de 15 de Outubro próximo não sabemos o que será de Dhlakama, mas estamos
convictos de que Guebuza vai deixar de nos dirigir; por isso, que nos devolva a
tranquilidade antes de se ir embora.
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