Tímido
mas forte, Abdul Eduardo, oito anos, lembra quando a mãe, embriagada, o
abandonou com o irmão na rua, dias depois de o pai ter sido preso por roubo, e
de ter acabado num infantário no centro de Moçambique.
A
"mamã ia beber quando nos perdemos no meio da multidão na rua", conta
à Lusa Abdul Eduardo, entre lutas de superação e esperança de reencontro, mas
seguro, num sorriso discreto, de que vai "proteger o irmão e cuidar de
outras crianças", quando se formar em medicina.
O
número de crianças abandonadas, incluindo recém-nascidos e deficientes físicos,
órfãos e as que fogem de casamentos forçados e maus-tratos, está a crescer a
cada dia no Infantário Provincial de Manica (IPM), ligado ao Instituto Nacional
da Ação Social (INAS), oriundas de várias províncias moçambicanas.
Atualmente,
43 crianças e jovens, dos 0-18 anos, quase 80% órfãos e abandonados, das
províncias de Sofala e Zambézia (centro) e Inhambane (sul), além da anfitriã
Manica, foram acolhidas no infantário. Outras foram integradas em centros
privados de acolhimento de crianças, sobretudo na "Aldeia da
Criança".
Além
das estatísticas, a realidade sugere uma "degradação da espinha
familiar", segundo Nádia Sabonete, pedagoga do IIPM, e que é provocada
pela miséria, falta de autoestima e hábitos, que concorrem para o
"desespero das crianças".
"O
número dos acolhidos chega a superar a capacidade da instituição", revela
à Lusa Nadia Sabonete, lembrando que cada caso merece um tratamento próprio.
No
infantário, disse, as crianças com idade escolar são redirecionadas para as
escolas públicas dos arredores. Além da assistência psicossocial, também
recebem aulas de ofícios como corte e costura e agricultura.
Entre
empurros para uma pose, Chinene Chiwanga, oito anos, segura firme a sua irmã
menor, frágil e estilosa, e sorri para a câmara fotográfica, distraindo-se por
momentos de perguntar pela mãe, que morreu há um ano quando as três estavam
internadas no hospital distrital de Manica, província com o mesmo nome.
"Quero
ser também enfermeira, porque minha irmã ficou muito doente", disse
Chinene Chiwanga, espalhando simpatia, enquanto passava a mão pela cabeça de um
rapaz acolhido naquele centro, cuja mãe está em reclusão na Penitenciária
Agrícola de Chimoio.
Outra
criança foi abandonada, após a morte da mãe, e cuja família materna se recusou
a entregá-la ao pai, porque este não pagou o lobolo - um ritual tradicional,
que se resume no pagamento de um dote à família da noiva, em dinheiro e ou
gado, para legitimar um casamento.
Estatísticas
governamentais apontam que nos últimos dois anos aumentou o número de crianças,
com certificado de pobreza, na província de Manica, centro de Moçambique, que
geralmente não são referenciadas ao infantário por terem condições de
alojamento.
Em
2012, existiam 7.019 crianças pobres contra 4.808 crianças de 2011, com
atestado de pobreza, concedidos pelos governos distritais, para apoio
alimentar, além de isenção de pagamento de taxas de ação social escolar.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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