segunda-feira, 2 de junho de 2014

Pobreza aumenta abandono de crianças no centro de Moçambique




Tímido mas forte, Abdul Eduardo, oito anos, lembra quando a mãe, embriagada, o abandonou com o irmão na rua, dias depois de o pai ter sido preso por roubo, e de ter acabado num infantário no centro de Moçambique.

A "mamã ia beber quando nos perdemos no meio da multidão na rua", conta à Lusa Abdul Eduardo, entre lutas de superação e esperança de reencontro, mas seguro, num sorriso discreto, de que vai "proteger o irmão e cuidar de outras crianças", quando se formar em medicina.

O número de crianças abandonadas, incluindo recém-nascidos e deficientes físicos, órfãos e as que fogem de casamentos forçados e maus-tratos, está a crescer a cada dia no Infantário Provincial de Manica (IPM), ligado ao Instituto Nacional da Ação Social (INAS), oriundas de várias províncias moçambicanas.

Atualmente, 43 crianças e jovens, dos 0-18 anos, quase 80% órfãos e abandonados, das províncias de Sofala e Zambézia (centro) e Inhambane (sul), além da anfitriã Manica, foram acolhidas no infantário. Outras foram integradas em centros privados de acolhimento de crianças, sobretudo na "Aldeia da Criança".

Além das estatísticas, a realidade sugere uma "degradação da espinha familiar", segundo Nádia Sabonete, pedagoga do IIPM, e que é provocada pela miséria, falta de autoestima e hábitos, que concorrem para o "desespero das crianças".

"O número dos acolhidos chega a superar a capacidade da instituição", revela à Lusa Nadia Sabonete, lembrando que cada caso merece um tratamento próprio.

No infantário, disse, as crianças com idade escolar são redirecionadas para as escolas públicas dos arredores. Além da assistência psicossocial, também recebem aulas de ofícios como corte e costura e agricultura.

Entre empurros para uma pose, Chinene Chiwanga, oito anos, segura firme a sua irmã menor, frágil e estilosa, e sorri para a câmara fotográfica, distraindo-se por momentos de perguntar pela mãe, que morreu há um ano quando as três estavam internadas no hospital distrital de Manica, província com o mesmo nome.

"Quero ser também enfermeira, porque minha irmã ficou muito doente", disse Chinene Chiwanga, espalhando simpatia, enquanto passava a mão pela cabeça de um rapaz acolhido naquele centro, cuja mãe está em reclusão na Penitenciária Agrícola de Chimoio.

Outra criança foi abandonada, após a morte da mãe, e cuja família materna se recusou a entregá-la ao pai, porque este não pagou o lobolo - um ritual tradicional, que se resume no pagamento de um dote à família da noiva, em dinheiro e ou gado, para legitimar um casamento.

Estatísticas governamentais apontam que nos últimos dois anos aumentou o número de crianças, com certificado de pobreza, na província de Manica, centro de Moçambique, que geralmente não são referenciadas ao infantário por terem condições de alojamento.

Em 2012, existiam 7.019 crianças pobres contra 4.808 crianças de 2011, com atestado de pobreza, concedidos pelos governos distritais, para apoio alimentar, além de isenção de pagamento de taxas de ação social escolar.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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