Filipe
Paiva Cardoso – jornal i
Comissão
Europeia traça retrato do Portugal pós-troika: é o 4.º pior país na protecção
ao desempregado, a desigualdade cresceu e já tem 25,3% da população em risco de
pobreza
Ler
o documento de trabalho que apoia as recomendações da Comissão Europeia para Portugal,
ontem divulgado, é um exercício curioso. Por um lado, o documento defende que o
programa de ajustamento português respondeu a uma prioridade, a defesa dos mais
desfavorecidos. Porém, avançando algumas páginas, o mesmo documento mostra que
os mais desfavorecidos foram e são dos mais penalizados pelo ajustamento. Mas
depois, e no mesmo documento, Bruxelas volta a pedir ao governo que corte mais
nos salários em Portugal - que são 50% da média da UE.
O
documento europeu ontem divulgado começa por reflectir na situação portuguesa,
salientando que "as medidas adoptadas no contexto do Programa [de
ajustamento] foram concebidas com o objectivo de minimizar o impacto nos mais
desfavorecidos". No entanto, também nestas metas o programa foi uma desilusão.
Diz Bruxelas: "A crise económica e financeira teve implicações negativas
para a pobreza e a desigualdade no país", realçando depois que "o
total de desempregados não cobertos por benefícios sociais continua um dos mais
altos da UE, em resultado de políticas mais restritas de acesso aos benefícios
depois das reformas de 2010 e 2012".
Mais
à frente, a Comissão Europeia entra em detalhes sobre os efeitos do ajustamento
cuja prioridade era defender os desfavorecidos: "Em 2012, 25,3% da
população estava em risco de pobreza ou exclusão social"; "a
percentagem de população com privações graves subiu 0,3 pontos e chegou a 8,6%
em 2012"; "estima-se que a pobreza tenha continuado a crescer em
2013"; "o sistema de protecção social está caracterizado por uma alta
taxa de não cobertura de de- sempregados, que, estando em 42,3%, é a quarta
mais alta depois de Itália, Grécia e Bulgária"; "o limiar de acesso
ao rendimento social de inserção foi reduzido em 2010 e depois em 2012,
reduzindo a cobertura que dava a famílias grandes - especialmente desde
2011".
Tudo
somado, a conclusão de Bruxelas é simples: "Estes indicadores evidenciam a
necessidade de esforços sustentados em Portugal para que o país consiga cumprir
as metas da 'Europa 2020', que prevê a redução do total de pessoas em risco de
pobreza e de exclusão social."
Agora,
e não obstante o diagnóstico sobre o Portugal que existe no final do programa
de ajustamento, a Comissão Europeia não muda um milímetro ao seu discurso. No
mesmo documento Bruxelas volta a salientar a urgência de "flexibilizar
ordenados" em Portugal, leia- -se, reduzi-los.
Ou
seja, a Comissão Europeia não atribui a situação ao programa de assistência.
"Apesar dos esforços do Programa para aliviar o impacto social da crise, o
aumento do desemprego teve implicações negativas na pobreza e na
desigualdade", conclui, recomendando por isso mais uma fuga para a frente,
ou seja, mais austeridade e reformas laborais - ou seja, baixar os ordenados.
Desemprego.
Quebra de 0,2 pontos leva a nova festa no governo
PSD/CDS até
falaram na maior descida de todos os tempos
Primeiro
o champanhe para celebrar a falsa saída da troika do país. Depois, festa na
coligação por só ter perdido por 2 pontos para o PS nas europeias. Agora, nova
festa graças à descida de 0,2 pontos percentuais na taxa de desemprego em
Portugal de Março para Abril.
Ontem
calhou a vez à evolução do desemprego:o Eurostat oficializou uma taxa de
desemprego de 14,6% em Portugal, que compara com os 14,8% de Março e os 17,3%
de Abril de 2013. Reside aqui a razão dos foguetes lançados pelo PSD/CDS:
“Estamos a liderar a redução do desemprego”, clamou o ministro Adjunto e do
Desenvolvimento Regional, PoiaresMaduro. “Foi a maior queda desde 1984” , exaltaram por seu
turno no partido dePortas. Pena a redução teórica do desemprego deAbril de 2013
para Abril deste ano não se ter devido inteiramente à criação de novos empregos
na economia. Segundo os dados do INE – mais detalhados –, de 2013 para 2014 a população
desempregada no país caiu de 927 mil indivíduos para 788,1 mil, o que
aparentemente indicaria o aparecimento de 139 mil empregos no país.
Porém,
se nestas contas tivermos em atenção também a evolução da população empregada,
notamos que no período só mais 72 mil pessoas arranjaram emprego, o que
implica que a restante queda do desemprego se deveu à emigração, à desistência
ou à reforma.
Os
dados do Eurostat ontem oficializados mostram ainda que, apesar da evolução
positiva, Portugal continua a ser a quinta economia europeia com o maior nível
de desemprego, o que, conjugado com o facto de também ser o quarto país com
pior protecção ao desemprego (ao lado), deixa antever a situação frágil em que
a economia se encontra.
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