terça-feira, 3 de junho de 2014

Portugal: ENFIM, O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL FALOU



Mário Soares – Diário de Notícias, opinião

Demorou muito tempo a pronunciar-se. É verdade. Sofreu muitas pressões dos portugueses ligados ao atual Governo, mesmo estando em funções no estrangeiro e não devendo falar, como foi o caso de Durão Barroso e de outros súbditos dos mercados e indiferentes às pessoas.

Seguramente, o Tribunal Constitucional não quis falar antes das eleições, como se compreende, dadas as pressões que sobre ele foram descaradamente feitas por portugueses e alguns estrangeiros.

Contudo, pela terceira vez, voltou a chumbar um Governo que não tem senso nem emenda.

O senhor Presidente da República, que sempre tem protegido o atual Governo, não pode agora continuar a falar da legitimidade de um Governo de coligação que não se entende entre si, não tem senso e é incapaz de acertar com um único Orçamento, que há três anos têm sido sempre chumbados. Seria ignorar o Tribunal Constitucional e expor-se ao ridículo perante o País inteiro, ignorando a Constituição da República, que jurou cumprir, e deixando de ter qualquer respeito pelas pessoas, sobretudo as mais conscientes.

Além disso, está muito próximo de ser um Presidente que tendo ainda dois anos de mandato deixa de ter em breve qualquer poder. Vide a Constituição da República.

Espero, por isso, que o senhor Presidente da República tenha a consciência da situação e não volte a falar da legitimidade de um Governo incapaz, incompetente e desvairado, que chegou ao fim, não se entende na própria coligação, não sabe o que quer nem que futuro o espera. Certo é que não pode deixar de sair sujo, muito sujo, da triste posição em que se encontra.

Se o Presidente da República continuar a desculpar um tal Governo, acabará muito mal.

Se o senhor Presidente da República não falar e à última hora voltar a considerar que o Governo é legítimo - e não ter a coragem de o demitir -, continuará a ser cúmplice desta desastrada coligação, como tem sido até agora, e corre o risco de não poder sair à rua sem ser vaiado pelo povo português, como tem sido inúmeras vezes.

O povo português é um grande povo e não se engana. Viu-se nas últimas eleições, em que a esmagadora maioria não votou apesar do seu apelo nem perdoou ao PS, cujo líder é António José Seguro, ter estado ou à direita ou crítico da direita, conforme as situações. Mas nunca claramente à esquerda, como foi sempre a posição do PS desde que se tornou um partido em 1973, data da sua constituição. E, por isso, perante a crise atual nunca passou dos 30 e poucos por cento. Resultado inaceitável para um partido como o PS, se estivesse realmente à esquerda.

Voltando ao senhor Presidente da República, permito-me insistir: não volte a proteger o Governo. Demita-o! Se o não fizer, não tem desculpa nem perdão. O povo, que é muito consciente e quem mais ordena, nunca lhe perdoará.

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