*Chamar
“democracia” a um sistema em que meia dúzia de ditadores “ditam” aos
portugueses em quem é que eles têm “licença” de votar, para eleger deputados é
algo que não compreendo. A democracia é, por definição, o sistema em que o
poder reside nos cidadãos e não apenas numa ou num reduzido número de pessoas.
Miguel
Mota – Público, opinião
A
grande maioria dos portugueses vai continuar a perder ainda mais o seu já baixo
poder de compra
É
certamente normal que qualquer povo deseje sempre melhorar o seu nível de vida.
Isso é o que tem sucedido nos países que podem e sabem ter governos que
desenvolvem a economia e, além de aumentarem a produção, melhoram a
distribuição da riqueza, de forma a diminuir o fosso entre pobres e ricos.
Em
Portugal, desde o governo de Guterres, tem sucedido o inverso e a grande
maioria da população – a chamada “classe média”, que fica entre os indigentes
(pobres) e os de avultados proventos (ricos) – tem visto o seu poder de compra
descer, descida que foi acelerada enormemente desde 2005.
Tem
sido declarado por dirigentes vários que muitos portugueses se endividaram
exageradamente e sem pensar. Daí resultou não serem capazes de cumprir os seus
compromissos, especialmente para com os bancos. O que esses dirigentes escondem
é que, na enorme maioria dos casos, esses portugueses pediram empréstimos que
eram compatíveis com o seu nível de proventos. É óbvio que, ao sofrerem o maior
corte de sempre no seu poder de compra, muitos deixaram de poder cumprir os
seus compromissos.
Não
pretendo dar a ideia de ser uma pessoa que sabe tudo. Mas, perante o que se me
afigura serem erros elementares (alguns verdadeiramente clamorosos), que nem
sempre vejo denunciados e ainda menos acompanhados do que podia e devia ser
feito, algo tenho escrito. E não só sobre matérias em que, por dever
profissional, é minha obrigação ter alguma competência – a investigação
científica, o ensino e a agricultura –, mas até noutras de que não sou especialista
nem nunca pratiquei, como é o caso da política. Chamar “democracia” a um
sistema em que meia dúzia de ditadores “ditam” aos portugueses em quem é que
eles têm “licença” de votar, para eleger deputados é algo que não compreendo. A
democracia é, por definição, o sistema em que o poder reside nos cidadãos e não
apenas numa ou num reduzido número de pessoas. Sendo eu o detentor do poder,
considero que a mais importante liberdade é a de delegar esse poder, para
legislar e governar, em quem eu desejar. Essa era, para mim, na outra ditadura,
a falta de liberdade mais importante, pois, embora os cidadãos se pudessem
candidatar a deputados, os entraves à propaganda e eventuais manipulações
faziam com que apenas fosse eleita a lista da União Nacional. Muito mais importante
do que aquela estúpida censura e falta de liberdade de expressão de que,
obviamente, também não gostava. Aos portugueses chega-lhes a liberdade de
expressão (que inclui o “direito” de insultar e apedrejar) para se considerarem
em democracia. Então ,
se se queixam do Governo que elegeram, só têm de se queixar de não ter eleito
um melhor.
Em
nada incomoda os portugueses só poderem candidatar-se a deputados se estiverem
nos altos postos de um partido, ou se fizerem um novo partido. Nem se fala na
alteração dos Artigos 149.º e 151.º da Constituição, como já propus, para haver
eleições livres.
Ao
que tudo indica, a grande maioria dos portugueses vai continuar a perder ainda
mais o seu já baixo poder de compra. A excepção é a minoria de ricos, que vai
continuar a engordar as suas fortunas, num escandaloso aumento do leque
salarial.
Sem comentários:
Enviar um comentário