Folha
8, 02 agosto 2014
Confrontos
entre a Polícia Nacional, apoiada por elementos de uma empresa de segurança
privada, e alegados garimpeiros ilegais de diamantes provocaram vários mortos,
ferimentos num agente policial e uma onda de revolta envolvendo 800 pessoas
numa localidade da província da Lunda Norte. A situação é recorrente e resulta
na repressão contra uma população que tem no garimpo artesanal, por falta de
alternativas, a única saída para não morrer à fome. CASA-CE e UNITA já
protestaram contra a repressão das autoridades.
O
caso, confirmado pela Polícia, ocorreu na comuna do Yongo, município de
Xá-Muteba, na província da Lunda Norte, quando elementos da Polícia Nacional,
instruídos por elementos de uma empresa privada de segurança, detectaram um
grupo de pessoas que faziam garimpo de diamantes.
De
acordo com o superintendente-chefe Leonardo Bernardo, do Comando Provincial da
Lunda Norte da Polícia Nacional, ao serem “interpelados”, estes garimpeiros
“insurgiram-se contra as forças policiais”.
“Os
disparos efectuados culminaram com a morte de dois cidadãos [garimpeiros] e
também ferimentos num agente do comando municipal da Polícia Nacional de
Xá-Muteba, que se encontrava a operar na área”, disse o oficial sem, contudo,
explicar porque razão as vítimas foram atingidas pelas costas.
Na
sequência destes confrontos, um grupo com cerca de 800 elementos, entre
garimpeiros, amigos e familiares das vítimas mortais, dirigiu-se a uma esquadra
policial no município do Cuango, transportando os cadáveres e mostrando – em
alguns casos de forma violenta – a sua repulsa pela constante repressão de que
são vítimas.
“Foram
detidos nove indivíduos presumíveis autores da acção de vandalismo. O Comando
Provincial da Polícia Nacional prossegue com as investigações para apurar responsabilidades”,
garantiu o superintendente-chefe Leonardo Bernardo.
Fontes
independentes afirmam que dos tumultos, para além de quatro mortos (dois
segundo a Polícia), resultaram avultados danos no Comando da Policia do
Luzamba, bem como em viaturas da empresa de segurança privada, SOCICLA.
Em
Luzamba e Cuango, a população queimou bandeiras do MPLA, enquanto gritava
“abaixo o regime do MPLA na Lunda Tchokwe! Não queremos mais o MPLA na nossa
terra!”
A
situação de repressão que há muito se arrasta e tende a levar a população a
actos cada vez mais violentos, faz com que os populares se interroguem sobre o
silêncio do Presidente José Eduardo dos Santos, falando mesmo de violência
gratuita na Lunda Tchokwe.
Porque
é que José Eduardo dos Santos não cria uma “comissão intersectorial para
investigar com profundidade a violência e as violações dos direitos humanos
em toda a Nação Lunda Tchokwe? Porque é que a Assembleia Nacional está calada
perante tanta violência?”, perguntam.
O
município do Cuango vive “um cenário de guerra total”, descreve o secretário
regional do Partido de Renovação Social (PRS), Domingos Marcos Kamone.
Acrescentando que, “aqui, no Cafunfo, a tropa está fortemente armada, os seus
elementos andam todos com rádios de comunicação e, inclusive, já fizeram
trincheiras, barricadas no meio da população do bairro”.
“Os
diamantes existem para servir o angolano, em primeiro lugar. Então, o angolano
não pode passar por execuções sumárias por causa de uma riqueza que devia estar
ao benefício dele”, por isso, “não podemos aceitar que as pessoas morram da
forma como estão a morrer aqui na Lunda Norte”, afirma o secretário provincial
da UNITA, Domingos Oliveira.
“Nós
vamos investigar isso”, sublinhou o dirigente da UNITA que pediu
responsabilidades ao regime de Luanda. “Na Lunda Norte estamos a morrer como
animais selvagens”, denunciou Domingos Oliveira.
Para
o secretário provincial da UNITA é incompreensível a alegada perseguição aos
garimpeiros: “seria de bom grado que houvesse um diálogo com os garimpeiros,
caso o Governo se quisesse apoderar da área, porque foi o próprio Governo que
autorizou a exploração artesanal”, concluiu Domingos Oliveira.
A
situação levou também a que o Conselho Presidencial da CASA-CE, reunido em
sessão extraordinária, tomasse uma posição sobre o que considera “mais uma
acção coerciva contra a população indefesa da Região da Bacia do Cuango,
perpetrada com armas de fogo pelas forças combinadas, da Polícia Nacional,
Forças Armadas e da Protecção Mineira, os denominados Bicuares idos do
Município de Xa-Muteba”.
Em
comunicado o Conselho Presidencial da CASA-CE, “depois de analisar com
profundidade a situação e sendo recorrente, deplra e condena com veemência,
mais este acto bárbaro contra os pacatos cidadãos, privados de usufruírem dos
parcos meios que a terra lhes proporciona para escaparem da morte por fome e
miséria, muito por culpa da desastrosa governação que penaliza milhões de
outros angolanos”.
O
Conselho Presidencial “exige às autoridades competentes que trabalhem com a
maior rapidez possível, por forma a encontrarem os responsáveis directos e
indirectos do ocorrido e os autores do hediondo crime, para serem presentes à
Justiça”.
Neste
contexto, a CASA-CE fará deslocar à região da Bacia do Cuango uma delegação,
composta pelos deputados Lindo Bernardo Tito e Leonel Gomes, com a finalidade
de, no terreno poderem apurar a veracidade dos factos.
O
Conselho Presidencial da CASA-CE, “não descarta igualmente a hipótese de levar
o assunto a debate na Assembleia Nacional”.
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