Martinho Júnior,
Luanda (continuação – ver anteriores)
10 – O Presidente
José Eduardo dos Santos liderou na incessante busca da paz, tendo pela frente
obstáculos como o “apartheid” e as suas sequelas, assim como poderes
retrógrados que existiam em África, que só podiam subsistir em função da
história colonial e do subdesenvolvimento humano que afectava os povos do
continente-berço.
A trilha dessa
etapa tão rude, foi ainda mais difícil que a anterior, pois as conjunturas
externas fizeram-se sentir com todo o seu peso e vigor e as geo estratégias das
potências tendiam muitas vezes a interpretações e acções que prolongavam os
conflitos, estabelecendo seus encadeados de forma manipuladora, engenhosa e
terrivelmente desgastante.
A batalha do Cuito
Cuanavale, que levou à derrota das SADF, reconhecida a nível interno pelo
regime do “apartheid” a 28 de Agosto de 1988, iria abrir a
independência da Namíbia, do Zimbabwe e à democratização da África do Sul, por
tabela de toda a África Austral, mas não inibia oportunistas como Mobutu e
outros dirigentes retrógrados de África, como não inibia Savimbi!
Ultrapassado o
obstáculo do “apartheid” com o corolário dos Acordos de Nova York a
22 de Dezembro de 1988, foi por isso possível às sequelas coloniais e desse
regime, associadas ao regime de Mobutu, transferir a base logística de
retaguarda do sudeste de Angola para norte, influenciando imediatamente quer
nas conjunturas regionais, quer na desestabilização do país, uma vez mais com
recurso da exploração de imensas riquezas naturais a fim de levar a cabo a
guerra.
Essa obstinação foi
realizada apesar dos acordos de G’Badolite, a 22 de Junho de 1989, que
vinculava política e diplomaticamente o próprio Mobutu, que acabou por deixar
que os interesses estranhos à paz se sobrepusessem aos interesses dos povos
africanos!
O Presidente José
Eduardo dos Santos deu prova de paciência, clarividência e persistência, pois
sabia que, com a “implosão” do “socialismo real” e o
enfraquecimento do Não Alinhamento activo e progressista, os impactos da
globalização neo liberal acabavam por criar conjunturas explosivas em África,
conjunturas que quer Mobutu, quer Savimbi, quer outros, oportunisticamente
aproveitavam da maneira mais nefasta e em completo desrespeito para com as mais
legítimas preocupações de paz, democracia, liberdade e solidariedade.
11 – O Presidente
Agostinho Neto havia garantido estrategicamente, no sector de exploração de
petróleo, o lugar que a corporações norte americanos do petróleo haviam ocupado
desde os tempos coloniais.
Essa garantia teve
sempre o seu peso, inclusive mesmo quando os Estados Unidos não haviam
reconhecido Angola, pois alimentava uma contradição básica: enquanto a jovem
nação pretendia estabelecer relações com todos os países, nações e povos do
mundo, só a Guerra Fria, com personagens “ocidentais” do tipo de
Henry Kissinger, ou Frank Charles Carlucci, ou Ronald Reagan, para ilustrar o
carácter de sucessivas administrações republicanas e democratas de então, o
impedia directa ou indirectamente.
A luta contra o “apartheid”,
propiciou a Angola acrescidas credenciais em abono da abertura dos
relacionamentos para com os Estados Unidos: quando o “apartheid” lançou
a 21 de Maio de 1985 a
Operação Argon, os Estados Unidos foram apanhados na armadilha estratégica do“laboratório
de Cabinda”, pois eram os aliados dos norte americanos que procuravam sabotar
Malembo, atacando os interesses das multinacionais norte americanas (e da
SONANGOL) e eram os cubanos como os angolanos que o impediram de armas na mão!
A acção do grupo de
reconhecimento nº 4 das SADF utilizou propaganda da UNITA, com que pretendía
mascarar-se e esse é um facto relevante também a levar em consideração nessa
acção: a UNITA não se coibia que essa propaganda fosse feita nesses termos,
muito menos se coibia em se tornar, desse modo, parte daqueles que,
demonstrando desespero, chegaram ao ponto de atacar Malongo, isto é, intereses
directos norte americanos, implantados de longa data e garantidos pelo governo
de Angola!
Não seria de
estranhar quando mais tarde Savimbi se deciciu a atacar as instalações
petrolíferas do Soio e voltar a ameaçar Cabinda!...
A partir dessa
data, 21 de Maio de 1985, o “ocidente”, sob a égide das administrações de
serviço, começaram a procurar uma saída que tornasse possível quer o fim do “apartheid”,
quer o eventual reconhecimento de Angola, beneficiando da aproximação do final
da Guerra Fria.
A estratégia
angolana para que isso se tornasse possível, com o suporte do Não Alinhamento
activo tendo Cuba como referencia, só tinha de manter a sua posição de
coerência e de princípio!
28 de Agosto de
2014, dia de aniversário do Presidente José Eduardo dos Santos.
Foto: Agostinho Neto e
José Eduardo dos Santos líderes dos Programas Mínimo e Maior do MPLA.
(Continua)
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