quinta-feira, 28 de agosto de 2014

DESBRAVANDO A LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA! – IV



Martinho Júnior, Luanda (continuação – ver anteriores)

10 – O Presidente José Eduardo dos Santos liderou na incessante busca da paz, tendo pela frente obstáculos como o “apartheid” e as suas sequelas, assim como poderes retrógrados que existiam em África, que só podiam subsistir em função da história colonial e do subdesenvolvimento humano que afectava os povos do continente-berço.

A trilha dessa etapa tão rude, foi ainda mais difícil que a anterior, pois as conjunturas externas fizeram-se sentir com todo o seu peso e vigor e as geo estratégias das potências tendiam muitas vezes a interpretações e acções que prolongavam os conflitos, estabelecendo seus encadeados de forma manipuladora, engenhosa e terrivelmente desgastante.

A batalha do Cuito Cuanavale, que levou à derrota das SADF, reconhecida a nível interno pelo regime do “apartheid” a 28 de Agosto de 1988, iria abrir a independência da Namíbia, do Zimbabwe e à democratização da África do Sul, por tabela de toda a África Austral, mas não inibia oportunistas como Mobutu e outros dirigentes retrógrados de África, como não inibia Savimbi!

Ultrapassado o obstáculo do “apartheid” com o corolário dos Acordos de Nova York a 22 de Dezembro de 1988, foi por isso possível às sequelas coloniais e desse regime, associadas ao regime de Mobutu, transferir a base logística de retaguarda do sudeste de Angola para norte, influenciando imediatamente quer nas conjunturas regionais, quer na desestabilização do país, uma vez mais com recurso da exploração de imensas riquezas naturais a fim de levar a cabo a guerra.

Essa obstinação foi realizada apesar dos acordos de G’Badolite, a 22 de Junho de 1989, que vinculava política e diplomaticamente o próprio Mobutu, que acabou por deixar que os interesses estranhos à paz se sobrepusessem aos interesses dos povos africanos!

O Presidente José Eduardo dos Santos deu prova de paciência, clarividência e persistência, pois sabia que, com a “implosão” do “socialismo real” e o enfraquecimento do Não Alinhamento activo e progressista, os impactos da globalização neo liberal acabavam por criar conjunturas explosivas em África, conjunturas que quer Mobutu, quer Savimbi, quer outros, oportunisticamente aproveitavam da maneira mais nefasta e em completo desrespeito para com as mais legítimas preocupações de paz, democracia, liberdade e solidariedade.

11 – O Presidente Agostinho Neto havia garantido estrategicamente, no sector de exploração de petróleo, o lugar que a corporações norte americanos do petróleo haviam ocupado desde os tempos coloniais.

Essa garantia teve sempre o seu peso, inclusive mesmo quando os Estados Unidos não haviam reconhecido Angola, pois alimentava uma contradição básica: enquanto a jovem nação pretendia estabelecer relações com todos os países, nações e povos do mundo, só a Guerra Fria, com personagens “ocidentais” do tipo de Henry Kissinger, ou Frank Charles Carlucci, ou Ronald Reagan, para ilustrar o carácter de sucessivas administrações republicanas e democratas de então, o impedia directa ou indirectamente.

A luta contra o “apartheid”, propiciou a Angola acrescidas credenciais em abono da abertura dos relacionamentos para com os Estados Unidos: quando o “apartheid” lançou a 21 de Maio de 1985 a Operação Argon, os Estados Unidos foram apanhados na armadilha estratégica do“laboratório de Cabinda”, pois eram os aliados dos norte americanos que procuravam sabotar Malembo, atacando os interesses das multinacionais norte americanas (e da SONANGOL) e eram os cubanos como os angolanos que o impediram de armas na mão!

A acção do grupo de reconhecimento nº 4 das SADF utilizou propaganda da UNITA, com que pretendía mascarar-se e esse é um facto relevante também a levar em consideração nessa acção: a UNITA não se coibia que essa propaganda fosse feita nesses termos, muito menos se coibia em se tornar, desse modo, parte daqueles que, demonstrando desespero, chegaram ao ponto de atacar Malongo, isto é, intereses directos norte americanos, implantados de longa data e garantidos pelo governo de Angola!

Não seria de estranhar quando mais tarde Savimbi se deciciu a atacar as instalações petrolíferas do Soio e voltar a ameaçar Cabinda!...

A partir dessa data, 21 de Maio de 1985, o “ocidente”, sob a égide das administrações de serviço, começaram a procurar uma saída que tornasse possível quer o fim do “apartheid”, quer o eventual reconhecimento de Angola, beneficiando da aproximação do final da Guerra Fria.

A estratégia angolana para que isso se tornasse possível, com o suporte do Não Alinhamento activo tendo Cuba como referencia, só tinha de manter a sua posição de coerência e de princípio!
  
28 de Agosto de 2014, dia de aniversário do Presidente José Eduardo dos Santos.

Foto: Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos líderes dos Programas Mínimo e Maior do MPLA. 

(Continua)

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