Verdade
(mz) - Editorial
Decorridos
20 anos de paz, cujos alicerces estremeceram ao longo das duas décadas, as
relações entre a Frelimo e Renamo deterioraram-se. Com o tempo, o rumo que a
democracia tomou pôs a nu a falta de diálogo e fidúcia de que os partidos
políticos enfermam. Activar as kalashnikov para provar que era capaz de parar o
país e forçar o regime a governar com probidade e decoro foi a solução
encontrada pela “Perdiz”. Décadas de paz foram postas em causa e condenou-se a
pátria ao retrocesso.
Entretanto,
ao cabo de 72 rondas de conversações entre o Governo e a Renamo é confortável
voltar-se a ouvir declarações como estas, de uma das partes beligerantes: “do
fundo do meu coração, tudo o que aconteceu durante um ano e meio termina aqui
(...) perdão a todos.” Que estas palavras sejam, efectivamente, um sinal de
sossego e paz de que os moçambicanos estavam despojados. Que seja o reencontro
das famílias que viviam correndo de lés a lés e dos filhos que estavam
separados dos seus pais por causa da guerra.
Os
problemas de que Afonso Dhlakama se queixava, que custaram vida a vários
moçambicanos e resultaram na invalidez de tantos outros são os mesmos que
levaram ao que se cunhou de diálogo político. Nada nos garante que os mesmos
estejam totalmente ultrapassados, até porque a deterioração das relações entre
a Frelimo e Renamo não acabam com o cessar-fogo.
É
que não há confiança e diálogo permanente entre os partidos políticos; por
isso, ninguém e nada nos assegura que a Renamo não terá mais armas escondidas
em parte incerta, pese embora o desarmamento em vista. Foi assim há
décadas... Contudo, criou-se uma oportunidade para se mudar o rumo dos
acontecimentos e vamos dar tempo ao tempo...
Em
Moçambique, não são apenas os partidos políticos que não confiam nas
instituições e na obediência às leis; mas deve reanimar a qualquer pessoa ouvir
o líder de um partido ao qual se atribui as maleficências a que o país esteve
submergido, durante quase dois anos, a comprometer-se com a paz nos seguintes
termos: “não haverá nenhuma violação do cessar-fogo do nosso lado.”
Deste
modo, um dos desafios que se seguem à declaração de cessar-fogo é cultivar-se a
confiança e o dialogo entre as formações políticas. As instituições que velam
pela legalidade e pelo interesse público devem, com afinco, garantir, no
espírito e na letra, a materialização desse acordo. Nada de espírito de
contradição ao que deve ser assumido como sagradas letras.
Às
pessoas que estão em frente de tais estâncias, fica o recado de que devem,
também, assegurar que no pensamento, no ser e na forma de estar estejam em
conformidades com a lei e abdiquem de observar as normas em função das
vontades, dos apetites e dos prazeres dos seus sectários. Apesar do receio que
temos em relação à concretização destes desideratos, estamos cientes de que a
vontade dos homens para o efeito não vai desfalecer diante daqueles que pretendem
transformar Moçambique numa república das bananas.
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