sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Moçambique: HAJA CONFIANÇA E DIÁLOGO



Verdade (mz) - Editorial

Decorridos 20 anos de paz, cujos alicerces estremeceram ao longo das duas décadas, as relações entre a Frelimo e Renamo deterioraram-se. Com o tempo, o rumo que a democracia tomou pôs a nu a falta de diálogo e fidúcia de que os partidos políticos enfermam. Activar as kalashnikov para provar que era capaz de parar o país e forçar o regime a governar com probidade e decoro foi a solução encontrada pela “Perdiz”. Décadas de paz foram postas em causa e condenou-se a pátria ao retrocesso.

Entretanto, ao cabo de 72 rondas de conversações entre o Governo e a Renamo é confortável voltar-se a ouvir declarações como estas, de uma das partes beligerantes: “do fundo do meu coração, tudo o que aconteceu durante um ano e meio termina aqui (...) perdão a todos.” Que estas palavras sejam, efectivamente, um sinal de sossego e paz de que os moçambicanos estavam despojados. Que seja o reencontro das famílias que viviam correndo de lés a lés e dos filhos que estavam separados dos seus pais por causa da guerra.

Os problemas de que Afonso Dhlakama se queixava, que custaram vida a vários moçambicanos e resultaram na invalidez de tantos outros são os mesmos que levaram ao que se cunhou de diálogo político. Nada nos garante que os mesmos estejam totalmente ultrapassados, até porque a deterioração das relações entre a Frelimo e Renamo não acabam com o cessar-fogo.

É que não há confiança e diálogo permanente entre os partidos políticos; por isso, ninguém e nada nos assegura que a Renamo não terá mais armas escondidas em parte incerta, pese embora o desarmamento em vista. Foi assim há décadas... Contudo, criou-se uma oportunidade para se mudar o rumo dos acontecimentos e vamos dar tempo ao tempo...

Em Moçambique, não são apenas os partidos políticos que não confiam nas instituições e na obediência às leis; mas deve reanimar a qualquer pessoa ouvir o líder de um partido ao qual se atribui as maleficências a que o país esteve submergido, durante quase dois anos, a comprometer-se com a paz nos seguintes termos: “não haverá nenhuma violação do cessar-fogo do nosso lado.”

Deste modo, um dos desafios que se seguem à declaração de cessar-fogo é cultivar-se a confiança e o dialogo entre as formações políticas. As instituições que velam pela legalidade e pelo interesse público devem, com afinco, garantir, no espírito e na letra, a materialização desse acordo. Nada de espírito de contradição ao que deve ser assumido como sagradas letras.

Às pessoas que estão em frente de tais estâncias, fica o recado de que devem, também, assegurar que no pensamento, no ser e na forma de estar estejam em conformidades com a lei e abdiquem de observar as normas em função das vontades, dos apetites e dos prazeres dos seus sectários. Apesar do receio que temos em relação à concretização destes desideratos, estamos cientes de que a vontade dos homens para o efeito não vai desfalecer diante daqueles que pretendem transformar Moçambique numa república das bananas.

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