sexta-feira, 29 de agosto de 2014

TIMOR-LESTE SALVA MAPA DEMOCRÁTICO DO SUDESTE ASIÁTICO




Jacarta, 29 ago (Lusa) - A experiência democrática da jovem nação de Timor-Leste tem-se destacado na região do Sudeste Asiático, onde a maioria dos ensaios de democratização ainda sofrem constantes testes de resistência.

Timor-Leste é o único país do Sudeste Asiático que ainda não foi aceite como membro pleno da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), cujo objetivo político principal é "fortalecer a democracia, melhorar a boa governança e o Estado de Direito e promover e proteger os direitos humanos e as liberdades fundamentais".

Metade dos Estados-membros da ASEAN são liderados por monarquias constitucionais ou regimes comunistas e os valores democráticos apregoados são facilmente postos em causa, como a liberdade religiosa ou o direito à manifestação.

Singapura, o único membro que tem tornado públicas as suas objeções à entrada de Timor-Leste na ASEAN, é considerada um regime semi-autoritário.

As disputas e as tensões políticas persistem entre alguns países da região, o que ameaça a estabilidade regional, e os atos eleitorais são frequentemente manchados por problemas de segurança e acusações de fraude.

A Freedom House, que avalia as liberdades políticas e civis em todo o mundo, aponta, no relatório de 2014, como "não livres" os territórios do Brunei, Laos, Mianmar o Vietname e como "parcialmente livres" o Cambodja, as Filipinas, a Indonésia, a Malásia, Singapura, a Tailândia, Timor-Leste e o Vietname.

Nos últimos anos, apenas a Indonésia foi considerada "livre", mas a adoção em 2013 de uma lei que regula as organizações da sociedade civil foi encarada pela Freedom House como uma porta aberta para os governos dissolverem organizações com as quais não concordam.

O maior país do Sudeste Asiático consolidou a sua democracia ao eleger, em julho, Joko Widodo, um homem de negócios que cresceu em bairros de lata, para Presidente da República, mas, num país onde alguns candidatos distribuem notas de rúpias durante os comícios, as acusações de fraude exigiram a intervenção do Tribunal Constitucional.

Muitos destes jovens países têm uma história recente de guerra, colonização e sucessivas violações de direitos humanos, pelo que o patriotismo e o crescimento económico parecem ser mais importantes do que certas liberdades, ao contrário do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, cuja identidade se baseia na democracia.

É o caso de vários jovens do Brunei - país que recentemente adotou algumas leis islâmicas consideradas violações de direitos humanos, como amputação de membros por roubo e apedrejamento até a morte por sodomia -, que defendem a lei e o sultão, mostrando-se gratos pelas condições de vida no seu país.

A um ano do esperado nascimento da comunidade económica das nações do sudeste asiático, onde vivem cerca de 600 milhões de pessoas, vários países da região têm registado um crescimento económico e tecnológico significativo, mas a corrupção e a pobreza continuam a ser preocupantes.

O peso das forças militares na política é outra constante na região, sendo o golpe de estado do passado dia 22 de maio na Tailândia o exemplo mais recente, numa altura em que vários ensaios democráticos do Sudeste Asiático registam contratempos.

Apesar de ser a nação mais recente do bloco, com apenas 12 anos, e da falta de quadros, Timor-Leste é um dos poucos casos que mantém um regime partidário a funcionar.

Os processos eleitorais em Timor-Leste têm sido elogiados pela comunidade internacional, embora tenham existido algumas acusações de compra de votos.

Porém, há receios de que a democracia em Timor-Leste se deixe contagiar pelos males da região, sobretudo desde maio de 2014, quando foi aprovada a nova lei da imprensa que permite a um conselho revogar as licenças dos jornalistas e multá-los.

Tal como os seus vizinhos, Timor-Leste apresenta um grande fosso entre as elites e os mais pobres e casos de corrupção, como o da ex-ministra da Justiça, Lúcia Lobato, que foi condenada a cinco anos de prisão e ao pagamento de 4000 dólares.

Na véspera de celebrar o 15.º aniversário do referendo que abriu a porta à independência, em Timor-Leste a luta continua, agora pelo desenvolvimento.

AYN // EL - Lusa

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