Jacarta,
29 ago (Lusa) - Algumas das figuras centrais da história de Timor-Leste em
1999, ano do referendo que decidiu a independência, olham para o
desenvolvimento do mais recente país do Sudeste Asiático com preocupação,
esperando um futuro melhor.
A
jovem nação tem feito progressos, mas alguns especialistas alertam que pode
tornar-se num estado falhado, dado que quase metade da população vive abaixo do
nível de pobreza e só 30 por cento dos timorenses em idade ativa participam no
mercado de trabalho, estando o país dependente das verbas geradas pelo petróleo
e pelo gás.
Xanana
Gusmão, um dos líderes da luta contra a ocupação indonésia de Timor-Leste, tem
reafirmado a sua intenção de abandonar o cargo de primeiro-ministro desde 2012,
mas este mês foi aprovada uma resolução que estabelece um período de transição
para a sua saída até 2017.
Dewi
Fortuna Anwar, que foi secretária de Estado no executivo de Habibie, o
presidente da Indonésia que aceitou a autodeterminação de Timor-Leste, em
declarações à Lusa, entende que o mais importante é "resolver todas as
divisões políticas de forma democrática", pois os Estados falham
normalmente devido a problemas económicos provocados por instabilidade
política.
Apesar
de elogiar a forma como "a democracia está a ser conduzida" e de se
mostrar "otimista", Dewi Fortuna Anwar alerta que Timor-Leste
"precisa de ter uma boa política de desenvolvimento económico" e
resolver os "conflitos sociais", apostando no "desenvolvimento
humano, saúde, educação, ambiente e boa governança".
Para
a antiga governante, a assistência internacional, apesar de ser benéfica,
comporta alguns riscos, como a dependência para a resolução de problemas
nacionais, a inflação e um fosso entre a população local e os estrangeiros,
dado que estes estes auferem salários bem mais altos do que os habitantes
locais.
Francisco
Lopes da Cruz, que foi um defensor da integração de Timor-Leste na Indonésia e
antigo vice-governador do território, diz-se "otimista" quanto ao
futuro do seu país de origem e considera que as autoridades timorenses têm de
fazer do "bem-estar do povo" uma "prioridade".
O
antigo conselheiro dos últimos cinco presidentes indonésios acrescenta à Lusa
que é necessário um plano a longo prazo, "leis muito mais bem
definidas", para, por exemplo, regular o investimento, e mais atividade
económica que gere emprego.
Para
o também antigo embaixador indonésio em Lisboa, Timor-Leste precisa de depender
de um líder como Xanana Gusmão, "porque as coisas ainda não estão bem
estruturadas", "falta unidade" entre os timorenses e há um
potencial de conflito devido ao facto de o poder estar ocupado por
"aqueles que têm mais dinheiro".
Eurico
Guterres, ex-líder da milícia pró-indonésia Aitarak, defende que "todas as
componentes da população de Timor-Leste devem usufruir da venda do
petróleo" e confessa que não consegue imaginar Timor-Leste sem a
Indonésia, pois muitos timorenses vivem, estudam e compram no país vizinho,
onde os preços são mais baratos.
"Estou
muito triste por causa da notícia de que em Timor-Leste houve um
"Xananismo", que todas as áreas da nossa vida são decididas pelo
Xanana. Mesmo em matérias criminais ou conflitos de terra", confessou à
Lusa o também presidente do conselho regional do Partido do Mandato Nacional
(PAN) em Timor
Ocidental , na Indonésia.
Eurico
Guterres foi a única pessoa que esteve detida por causa da violência que se
seguiu ao referendo de 1999 e que fez mil mortos, mas volvidos dois anos o
Supremo Tribunal da Indonésia absolveu-o por falta de provas.
Também
Kiki Syahnakri, que era comandante das forças indonésias antes da saída dos
indonésios de Timor-Leste e que "ama" o país vizinho, se mostra
"preocupado quanto à prosperidade" dos timorenses, até porque as
receitas do petróleo não são "assim tão significativas".
O
antigo responsável militar, que sabe tétum e algumas palavras em português e
que em 2013 lançou o livro "Timor-Leste: A história não contada",
aponta que um dos erros da Indonésia foi não prestar atenção à cultura
timorense e recorda que muitos indonésios tiveram de abandonar as suas
propriedades em Timor-Leste após a independência.
Após
460 anos de colonização portuguesa, Timor-Leste sofreu 24 anos de ocupação
indonésia que fizeram pelo menos 183 mil mortos até 1999, ano em que a consulta
popular determinou a legitimação da independência do país três anos mais tarde.
A
30 de agosto de 1999, mais de 98 por cento dos timorenses votaram na consulta
-- termo imposto pela Indonésia, potência ocupante -- sobre o estatuto de
Timor-Leste. O resultado em massa a favor de um futuro Estado independente
abriu caminho à independência do território, a 20 de maio de 2002.
AYN
// EL - Lusa
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