Francisco Louçã – Público, em Tudo Menos Economia
Depois
de protestos, a Zara retirou do mercado este pijama infantil (clique na imagem
para ampliar). As riscas e a estrela amarela não lembram somente a perseguição
dos nazis contra os judeus, evocam explicitamente os campos de concentração. O
pijama era o uniforme daqueles condenados à morte. É uma provocação e um
insulto.
Perante
o escândalo, a empresa pediu desculpa e retirou o produto. Mas ficámos sem
qualquer explicação consistente sobre a razão da escolha do produto, que tem
forçosamente por passar por várias etapas de estudo de mercado e de aprovação
dentro da empresa. O que permitiu que a Zara lançasse este pijama? Porque
verdadeiramente é isso que interessa, para percebermos o mundo de hoje.
A
explicação mais simples é ignorância e displicência. É difícil de aceitar,
porque numa multinacional como a Zara tem de haver quem tenha alguma sensatez
ou pelo menos alguma memória. No entanto, não houve quem impedisse a produção e
venda deste pijama. Há então outra explicação menos condescendente: poderia ser
uma tentativa de criar um facto publicitário, uma polémica. Mas para quê, se a
polémica impõe uma imagem negativa da empresa? Ambas as explicações assumem a
irresponsabilidade e portanto desvalorizam-na, desculpando-a.
Uma
terceira explicação, talvez a mais banal e a mais assustadora, é a que é
sugerida pela frase que está à entrada do edifício do Deustsche Bank em
Munique: “das ideias nascem mercados”. A indiferença perante a mercadoria
aparece assim em relevo, porque das ideias, de toda a ideia, surge um mercado,
é criada uma possibilidade de venda. Multiplicar produtos, numa floresta de
sinais, é o modo de chegar a toda a gente, perante a indiferença toda a gente.
Nas grandes empresas, esta cultura de ideias novas, o frenesim dos mercados
novos, permite um margem de actuação que pode ser a explicação para este
produto.
Para
a Zara, ou para estes ideólogos do Deutsche Bank, talvez um pijama seja um
pijama, uma coisa como outra qualquer, mesmo que seja um uniforme de um judeu
condenado à morte. É um produto, é uma ideia, é um mercado, é transcendente, é
uma divindade: porque é que alguém se havia sequer de incomodar com o que ele é
mesmo? Se é essa é a explicação, a indiferença fatal a que se referia o post
anterior, então não a podemos desculpar.
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