quinta-feira, 28 de agosto de 2014

ZARA: NEM IGNORÂNCIA NEM MAU GOSTO




Depois de protestos, a Zara retirou do mercado este pijama infantil (clique na imagem para ampliar). As riscas e a estrela amarela não lembram somente a perseguição dos nazis contra os judeus, evocam explicitamente os campos de concentração. O pijama era o uniforme daqueles condenados à morte. É uma provocação e um insulto.

Perante o escândalo, a empresa pediu desculpa e retirou o produto. Mas ficámos sem qualquer explicação consistente sobre a razão da escolha do produto, que tem forçosamente por passar por várias etapas de estudo de mercado e de aprovação dentro da empresa. O que permitiu que a Zara lançasse este pijama? Porque verdadeiramente é isso que interessa, para percebermos o mundo de hoje.

A explicação mais simples é ignorância e displicência. É difícil de aceitar, porque numa multinacional como a Zara tem de haver quem tenha alguma sensatez ou pelo menos alguma memória. No entanto, não houve quem impedisse a produção e venda deste pijama. Há então outra explicação menos condescendente: poderia ser uma tentativa de criar um facto publicitário, uma polémica. Mas para quê, se a polémica impõe uma imagem negativa da empresa? Ambas as explicações assumem a irresponsabilidade e portanto desvalorizam-na, desculpando-a.

Uma terceira explicação, talvez a mais banal e a mais assustadora, é a que é sugerida pela frase que está à entrada do edifício do Deustsche Bank em Munique: “das ideias nascem mercados”. A indiferença perante a mercadoria aparece assim em relevo, porque das ideias, de toda a ideia, surge um mercado, é criada uma possibilidade de venda. Multiplicar produtos, numa floresta de sinais, é o modo de chegar a toda a gente, perante a indiferença toda a gente. Nas grandes empresas, esta cultura de ideias novas, o frenesim dos mercados novos, permite um margem de actuação que pode ser a explicação para este produto.

Para a Zara, ou para estes ideólogos do Deutsche Bank, talvez um pijama seja um pijama, uma coisa como outra qualquer, mesmo que seja um uniforme de um judeu condenado à morte. É um produto, é uma ideia, é um mercado, é transcendente, é uma divindade: porque é que alguém se havia sequer de incomodar com o que ele é mesmo? Se é essa é a explicação, a indiferença fatal a que se referia o post anterior, então não a podemos desculpar.

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