Candidata
à reeleição acusa rival ambientalista de inconsistência ao mudar de posição
diversas vezes. Presidente, por sua vez, é alvo de ataques envolvendo
escândalos da Petrobras, com tucano cobrando mais "indignação".
A
uma semana do primeiro turno, foi realizado neste domingo (28/09) o penúltimo
debate entre presidenciéveis antes do pleito. A candidata à reeleição Dilma
Rousseff (PT) entrou em confronto direto com seus principais adversários:
Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
Na
primeira oportunidade, Dilma acusou Marina de mudar de opinião constantemente e
perguntou sobre o seu voto, como senadora, em relação à CPMF. Durante a
campanha, Marina declarou diversas vezes ter votado a favor da criação do
imposto quando era do PT, apesar da orientação contrária do partido. A situação
era mencionada pela candidata como exemplo de que ela não faria "oposição
pela oposição".
"A
senhora mudou de partido quatro vezes, mudou de posição em problemas de extrema
importância, como a homofobia, o pré-sal e a CLT [Consolidação das Leis do
Trabalho]. Qual foi o seu voto como senadora em relação à CPMF?",
perguntou Dilma.
A
fala da presidente seguiu a estratégia do PT usada durante a campanha, de colar
na ambientalista a imagem de inconsistente e pouco confiável. Marina lembrou
que a votação do imposto passou por várias etapas e que, em determinado
momento, ela votou pela criação da CPMF.
"Mudei
de partido para não mudar de ideais e de princípios", respondeu. Dilma
manteve o ataque, afirmando que a ambientalista havia votado contra a criação
do imposto e que "atitudes como essa produzem insegurança".
"Eu
não entendo como a senhora pode esquecer que votou quatro vezes contra a CPMF.
Me estarrece que a senhora não se lembre disso", atacou a candidata à
reeleição.
Marina
assegurou ter sido coerente na votação e disse que o PT "deturpava"
informações.
Bancos
públicos
Em
outra pergunta a Marina, Dilma insistiu na estratégia de desconstrução.
"Não se pode mudar de posição de um dia para o outro", disse. E
acusou Marina de querer enfraquecer os bancos públicos.
A
pessebista classificou a afirmação como "boato" e prometeu manter o
crédito para a agricultura e o programa Minha Casa, Minha Vida.
"Nós
vamos fortalecer os bancos. A Caixa e o BNDES têm uma função importante, o que
nós não vamos permitir é que os recursos sejam destinados a meia dúzia de
empresários", respondeu. Marina também defendeu uma maior transparência no
crédito.
Além
de Dilma, outros candidatos criticaram Marina por suas supostas
inconsistências. Em outro momento do debate, Luciana Genro (PSOL) declarou que
a ambientalista "cede às pressões do agronegócio, banqueiros e
reacionários do Congresso".
Etanol
Quando
foi a vez de Marina perguntar a Dilma, a candidata criticou a política do
governo em relação ao etanol, classificando-a como "fracasso".
"O
setor de álcool e combustível tem pago um alto preço no seu governo. Setenta
usinas foram fechadas, cerca de 40 estão em recuperação judicial, 60 mil
empregos foram perdidos, o que aconteceu para que você mudasse o rumo da
política, causando tanto prejuízo econômico e desemprego?"
A
petista argumentou que, em seu governo, a política de etanol foi baseada em
subsídios e na desoneração de impostos. "Nós criamos uma série de medidas
para reforçar o setor", respondeu.
Corrupção
e Petrobras
Durante
todo o debate, os recentes escândalos de corrupção na Petrobras foram usados
por diversos candidatos para atacar a atual presidente. Aécio foi o primeiro a
abordar o tema, em pergunta ao candidato Pastor Everaldo (PSC).
"As
nossas empresas públicas e instituições foram tomadas por um grupo político que
as usa para se manter no poder", disse o tucano. Em outro momento, Aécio
cobrou de Dilma mais indignação com o escândalo da Petrobras.
"Não
há um sentimento de indignação, não vejo em momento algum a senhora dizendo
'não é possível que tenham feito isso nas minhas barbas sem eu saber o que
estava acontecendo'", criticou.
Dilma
também trouxe o assunto à tona, ao acusar Aécio de querer privatizar a
Petrobras e de usar os escândalos de corrupção para enfraquecer a estatal.
O
tucano negou a versão da petista: "Eu vou reestatizá-la [a Petrobras], vou
tirá-la das mãos desse grupo político que tomou conta dessa empresa há doze
anos", disse.
Aécio
também mencionou o desvio de dinheiro da estatal, protagonizado pelo ex-diretor
Paulo Roberto Costa. "Apenas a denúncia do diretor nomeado pelo seu
governo, apenas o que ele assume que foi desviado, permitiria que 450 mil
crianças estivessem na creche, permitiria a criação de 50 mil casas do Minha
Casa, Minha Vida", atacou.
Por
ter sido mencionada por outros candidatos, que abordaram a corrupção na
Petrobras, Dilma foi concedida direito de resposta. A atual presidente disse
que ela foi a única candidata a apresentar propostas para o combate da
corrupção, como a de tornar crime a prática de caixa dois.
"Quem
demitiu o Paulo Roberto fui eu. E foi a Polícia Federal [PF], no meu governo,
que investigou todos esses ilícitos", afirmou. Ela ressaltou ainda ter
dado autonomia à PF para prender o ex-diretor.
Aécio
rebateu que essa é uma prerrogativa constitucional. "Ela não tem que
autorizar a PF a prender ninguém."
Política
externa
A
presidente também foi fortemente criticada por seu discurso na abertura da
Assembleia-Geral da ONU. Pastor Everaldo, em pergunta a Aécio, destacou que
Dilma defendeu "não combater os terroristas" do "Estado
Islâmico".
Aécio
também condenou as palavras de Dilma na ONU. "A presidente protagonizou um
dos mais tristes episódios da política externa brasileira. Ela foi lá para
fazer elogios ao seu governo, fez um discurso eleitoral. E para a perplexidade
de todos, inclusive diplomatas, ela defendeu o diálogo com terroristas que
estão decapitando pessoas."
O
tucano ainda concordou com o Pastor Everaldo, que afirmou que os petistas
“fazem terrorismo, ao difundir a ideia de que todos os candidatos pretendem
acabar com o Bolsa Família. "O terrorismo também está aqui no Brasil, o PT
diz que os adversários irão acabar com o Bolsa Família mas não vão. Ao PT
interessa administrar a pobreza. Nós vamos superar a pobreza", disse
Aécio.
O
debate, organizado pela TV Record, reuniu sete presidenciáveis: Dilma Rousseff
(PT), Marina Silva (PSB), Aécio Neves (PSDB), Pastor Everaldo (PSC), Luciana
Genro (PSOL), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB).
Marina
Estarque – Deutsche Welle
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