Martinho
Júnior. Luanda (Continuação – ver anteriores)
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– O esforço do MPLA no sentido de se alcançar a paz no início da década de 90,
mereceu de Savimbi uma resposta ideologicamente agressiva, que por seu turno
teve aceitação em muitos dirigentes de África, em especial daqueles que, nunca
se tendo envolvido na luta contra o colonialismo e o “apartheid”, eram
susceptíveis de manipulação neo colonial, ou por parte de entidades como
Savimbi.
A
ideologia que Savimbi contrapôs à paz possível de Bicesse e Lusaka redundava de
todo o seu percurso profundamente contraditório e era tão a “preto e
branco” quanto lhe foi possível e ao seu entrevistador, o togolês Atutsé
Kokouvi Agbobli, autor de “Combats por l’Afrique et la démocratie”!...
Durante
muitos anos os aspectos essenciais dessa ideologia foram mantidos na seguinte
direcção:“ASSOCIATION FRANCO – AFRICAINE POUR LA RENAISSANCE ET LA DÉMOCRATIE ”(“AFARD”),
com sede no nº 66 da Avenida Champs – Elysées, 75.008, PARIS, http://www.afard-unita.asso.fr/
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– Na síntese-analítica das ideias-força da ideologia protagonizada por Savimbi,
face à oportunidade da paz e da democracia, evidenciava-se:
-
No que diz respeito à geografia político cultural, a UNITA era o “interior” e
o MPLA o “litoral”; por isso a UNITA assumia identidade negro-africana,
integrando o pelotão dos autênticos nacionalistas africanos de autóctones
negros que permanecem no campo, enquanto o MPLA assumia uma cultura
luso-crioula, que fazia discriminação racial e se assumia nas cidades (onde se
presumem mais civilizados).
-
Em relação à composição humana a UNITA identificava-se com o sofrimento do povo
face às elites mulatas e assimilados que compunham o MPLA.
-
Quanto às raças, a UNITA detinha mobilização na maioria negra, enquanto o MPLA
se confinava à primeira linha de mulatos.
-
Quanto à atitude política, Savimbi dizia que nada de paz na humilhação e por
isso estava disposto a servir a causa da liberdade, da independência e da
democracia dos autóctones negros, enquanto o MPLA era anti nacionalista,
sectário e oportunista, procurando uma hierarquização da sociedade (brancos,
mulatos e assimilados) fazendo assim a ligação dos traços coloniais com os neo
coloniais.
-
Por fim e quanto aos apoios, a UNITA tinha-os no campo do nacionalismo africano
autêntico e o MPLA no mundo ibero-americano e nas grandes potências.
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– Para Savimbi o que era importante para fugir à paz possível, era encontrar um
argumento justificativo contraditório que fundamentasse a continuação da guerra
que lhe iria permitir alcançar o poder pela força.
Com
isso ele foi evidenciando o seu carácter autoritário e fascizante.
Como
havia perdido o apoio directo do “apartheid”, foi nessa África retrógrada
que foi buscar justificações e apoios, não se coibindo de, ao utilizar uma
ideologia caracterizada pela divisão, pelo etnicismo exacerbado, pelo racismo e
pela negação do outro, fomentar a dicotomia entre os dois principais sectores
produtivos do país, de forma a melhor se posicionar em relação a dois “lobbies”preponderantes:
o do petróleo que ele indiciava como apoiante do estado angolano e o dos“minerais” (sobretudo
o “cartel de diamantes”), que ele, da (pior) maneira que lhe era possível,
reservava para seu proveito e interesse!
Ao
invés de aceitar a paz que lhe era estendida, Savimbi enveredou uma vez mais
pela guerra e para isso lançou desde uma ideologia, a uma acção oportunista,
que explorava as debilidades do estado angolano em época de transição,
debilidades essas que atingiam profundamente os próprios instrumentos de poder
do estado!
Essa
deliberada subversão, interligar-se-ia a factores de desestabilização externos,
africanos uns, provenientes de fora do continente outros.
O
Zaíre sob a orientação de Mobutu, se antes se coibiu face às iniciativas de paz
na região por parte do Presidente Agostinho Neto, agora nos limites de sua
sobrevivência e pondo em evidência o seu carácter, alinhou com a
desestabilização e na aventura da exploração de imensos recursos minerais para
enriquecimento de uns quantos e para organizar recursos para levar a cabo a
guerra.
Mobutu
foi nessa fase, um aliado inequívoco de Savimbi, fornecendo-lhe o que ele mais
necessitava: a retaguarda onde poderia organizar uma parte de sua logística…
Maurice Tempelsman, um dos mais poderosos “homens de mão” do “cartel
de diamantes”, foi enquanto pôde, um reitor da situação que resvalava para uma
grande crise!
Foto:
Mandela e Savimbi, conformes ao peso do “cartel dos diamantes”: uma
ambiguidade que em 1991/1992 não beneficiou a paz possível em Angola, muito
pelo contrário, sempre a contrariou! Da parte de Mandela a ideia da “terceira
via”contribuiu para a sua posição face ao desenrolar dos acontecimentos em
Angola e na região.
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