Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
Em
qualquer sociedade com eleições livres, sempre que a corrupção se instala, a
avaliação de honestidade passa a ser um valor que se sobrepõe e tende a
desvalorizar o debate político – vital para qualquer regime democrático.
Contudo, rejeitar a denúncia e abdicar de fazer esse combate público reservando
o problema para a esfera dos tribunais permite que o contra-ataque democrático
fique circunscrito e reservado a um sector fácil de controlar.
Estando
generalizada a ideia de que a corrupção se instalou nas mais altas esferas do
regime português – seja pelo julgamento de Vara e afins, seja pelo lento
caminho para a prescrição do caso dos submarinos (com corruptores na Alemanha e
sem corrompidos em Portugal), a honestidade e a decência devem estar, cada vez
mais, instaladas no território do debate político.
Esse
enraizamento não é falso nem artificial. É uma resposta ao que as pessoas
identificam, justamente, como um problema grave. Evitar fazer esse debate pode
ter como consequência a valorização de populismos higienistas de raiz
fascizantes ou a generalização de que são todos iguais ilibando o voto naquele
que “roubou mas fez” ou permitindo a eleição de quem apenas declara
generalidades sobre a matéria.
Não
responder, não disputar este território, é um erro político com perigos
evidentes. A corrupção é um factor corrosivo da democracia.
A
construção de um governo decente composto por cidadãos que passados poucos anos
não estejam envoltos em crimes de colarinho branco, que não saltitem entre
governo e empresas privadas que tutelam ou que estejam comprometidos com um
criterioso estatuto de incompatibilidades e transparência é uma tarefa que os
partidos do arco da governação – PS, PSD e CDS –, em mais de 38 anos de
governação, têm dado provas de não conseguir fazer.
Escreve
ao sábado
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