sábado, 13 de setembro de 2014

Portugal: ESCOLHER SAIR DO PÂNTANO



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

Em qualquer sociedade com eleições livres, sempre que a corrupção se instala, a avaliação de honestidade passa a ser um valor que se sobrepõe e tende a desvalorizar o debate político – vital para qualquer regime democrático. Contudo, rejeitar a denúncia e abdicar de fazer esse combate público reservando o problema para a esfera dos tribunais permite que o contra-ataque democrático fique circunscrito e reservado a um sector fácil de controlar.

Estando generalizada a ideia de que a corrupção se instalou nas mais altas esferas do regime português – seja pelo julgamento de Vara e afins, seja pelo lento caminho para a prescrição do caso dos submarinos (com corruptores na Alemanha e sem corrompidos em Portugal), a honestidade e a decência devem estar, cada vez mais, instaladas no território do debate político.

Esse enraizamento não é falso nem artificial. É uma resposta ao que as pessoas identificam, justamente, como um problema grave. Evitar fazer esse debate pode ter como consequência a valorização de populismos higienistas de raiz fascizantes ou a generalização de que são todos iguais ilibando o voto naquele que “roubou mas fez” ou permitindo a eleição de quem apenas declara generalidades sobre a matéria.

Não responder, não disputar este território, é um erro político com perigos evidentes. A corrupção é um factor corrosivo da democracia.

A construção de um governo decente composto por cidadãos que passados poucos anos não estejam envoltos em crimes de colarinho branco, que não saltitem entre governo e empresas privadas que tutelam ou que estejam comprometidos com um criterioso estatuto de incompatibilidades e transparência é uma tarefa que os partidos do arco da governação – PS, PSD e CDS –, em mais de 38  anos de governação, têm dado provas de não conseguir fazer.

Escreve ao sábado  

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