Fernando
Dacosta – jornal i, opinião
Enquanto
a língua portuguesa se expande pelo mundo (já é a quinta mais falada), em
Portugal encolhe. Pior: desvaloriza-se. Pior ainda: são os próprios portugueses
a menosprezá-la. Enjoados dos seus elementos identitários, cada vez maior
número deles debita línguas alheias – avassaladoramente o inglês. As avalanches
de tecnocratas, economistas, políticos, intelectuais, gestores, comunicadores
que nos submergem são os que, na snobeira de se dizerem “cidadãos do mundo”,
mais o exibem.
Responsáveis
a falar inglês em actos oficiais (internos) virou, com efeito, pretensiosíssimo
e desrespeitosíssimo; não traduzir títulos de filmes, de peças de teatro, de
livros, de programas televisivos, nem folhetos de instruções de
electrodomésticos, de computadores é ultrajante – como ultrajante se revela a
SATA ao emitir bilhetes electrónicos em inglês; a RTP ao transmitir, a seco,
programas estrangeiros, caso da noite dos Óscares; como cantores ao ignoraram a
sua língua, caso de várias bandas. Amália construiu a sua carreira em
português; Pessoa fez o mesmo.
Escrever
e falar bem era no passado exigência de estatuto cultural; hoje não passa de
excrescência. O património mais valioso que possuímos está a ser grosseiramente
vandalizado, como fazemos, aliás, com tudo o que podia dignificar-nos,
engrandecer-nos. “O novo acordo ortográfico”, alerta a professora Maria do
Carmo Vieira, “impede as pessoas de pensar.” Razão tinha José Craveirinha, que,
em debate lusófono sobre a ameaça do inglês no seu país, ironizou: “Ora, quem
está a ser colonizado por ele não somos nós, são os portugueses. Vejam as
ementas dos restaurantes, as tabuletas públicas, os livros técnicos, as
canções, etc., quase tudo em inglês. Tenhamos é orgulho na nossa língua!”
Escreve
à quinta-feira
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