Sites
destacam divisão entre "Norte e Nordeste pobres" e "Sul e
Sudeste ricos", comentam que a campanha foi marcada pela troca de
acusações e afirmam que Dilma terá a tarefa de unir o país.
A
apertada vitória da presidente Dilma Rousseff no segundo turno da eleição
presidencial foi manchete nos sites dos principais jornais e revistas europeus
neste domingo e segunda-feira (27/10). Na tentativa de explicar a eleição de
Dilma, a mídia europeia destacou principalmente o apoio que ela recebeu dos
estados menos favorecidos do Norte e Nordeste, em oposição aos do Sul e
Sudeste, mais ricos e industrializados.
Ainda
no fim da noite de domingo, o jornal italiano Corriere della Sera escreveu
que "o quadro eleitoral confirma um país dividido em dois, com Rousseff
dominando o Nordeste pobre do Brasil, onde é mais forte o efeito dos programas
sociais, enquanto é grande a preocupação nas áreas mais ricas, sobretudo no
estado de São Paulo."
O
diário milanês destacou ainda a agressividade da campanha eleitoral: "A
tensão da campanha eleitoral, longa e às vezes violenta, teve repercussões
também no dia decisivo". O jornal deu destaque à afirmação do candidato
tucano, Aécio Neves, de que a campanha eleitoral "ficará marcada como a
mais sórdida já feita".
"Apelo
ao díálogo"
O
jornal francês Le Monde enfatizou a apertada vitória de Dilma e o
apelo ao diálogo proferido pela presidente em seu primeiro discurso após as
eleições. "Este é o resultado mais apertado depois da primeira eleição
presidencial direta, organizada em 1989, após a ditadura militar",
escreveu o diário.
"O
Nordeste votou em Dilma, São Paulo contra ela", afirmou o Le Monde:
"Os 142,8 milhões de brasileiros convocados a votar, num país onde o voto
é obrigatório, estiveram divididos entre os partidários da continuação das
conquistas sociais realizadas pelo Partido dos Trabalhadores (...) e aqueles de
uma alternância [de poder] para relançar a economia."
O
jornal destacou ainda os desafios que Dilma tem pela frente, dando ênfase à
declaração da presidente de que o "diálogo é o primeiro compromisso"
do seu novo mandato, como também à sua intenção de promover uma reforma
política e combater a corrupção.
Divisão
do país
O
diário espanhol El País apontou nesta segunda-feira para a estreita
margem de vantagem de Dilma sobre o adversário, dando destaque à divisão do
país nesta eleição.
"Como
se previa, os mais pobres e atrasados estados do Norte e Nordeste, como Bahia
ou Pernambuco, votaram em peso em
Dilma. Os estados do sul, mais ricos e industrializados e com
uma população com mais recursos, como São Paulo, o estado mais populoso, deram
preferência a Neves." O jornal espanhol disse ainda que, "para
Rousseff, foi decisivo o apoio do estado de Minas Gerais, local de nascimento
de ambos" os candidatos.
O El
País afirmou que nunca uma campanha eleitoral dividiu tanto os brasileiros
e que a primeira tarefa do vencedor será "fechar a ferida aberta durante
as três semanas vertiginosas de uma dura campanha" e que o primeiro
discurso de Dilma após ser eleita "apontou para essa direção
unificadora".
Xingamentos,
acusações e economia
O
primeiro discurso da presidente reeleita também foi manchete no jornal
britânico The Guardian: "Em discurso de vitória, uma radiante
Rousseff disse esperar que o país possa se unir". Segundo o diário, os
eleitores aparentavam estar divididos e confusos "por uma campanha
eleitoral suja, caracterizada por xingamentos, acusações de corrupção,
nepotismo e incompetência".
O The
Guardian também destacou as alusões ao regime nazista feitas por ambos os
lados durante a campanha eleitoral: "Neves comparou o marqueteiro da
campanha do PT, João Santana, ao chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels.
Em resposta, Lula da Silva disse que os social-democratas perseguiam o Nordeste
pobre do Brasil da mesma forma que os nazistas maltratavam os judeus".
O
jornal britânico deu um especial destaque aos desafios que Dilma tem pela
frente, afirmando que "o Brasil entrou em recessão técnica no começo deste
ano" e que "uma indicação-chave de como Rousseff, uma economista
formada, pretende virar esse quadro será a sua escolha do ministro da
Fazenda".
Tecnocrata
com desafios
O
jornal alemão Süddeutsche Zeitung também enfatizou os desafios de
Dilma para unir o país: "A presidente terá de se esforçar para melhor o
mau humor e unir a nação dividida". O jornal bávaro considerou que faltam
à Dilma o "carisma e a popularidade de seu mentor Lula, mas a tecnocrata
Rousseff é vista como uma lutadora".
A
notícia da vitória de Dilma e a divisão do país também foram destaque no site
da revista alemã Der Spiegel nesta segunda-feira. Em sua página de
internet, a principal revista alemã afirmou que "uma rachadura atravessa o
Brasil. Ela passa exatamente ao longo da fronteira geográfica entre os pobres
Norte e Nordeste e os ricos Sul e Sudeste, mas ela também atravessa a
sociedade."
A Spiegel afirmou
ainda que "o Brasil tem quatro anos turbulentos pela frente" e que a
"robusta e autoritária Rousseff tem agora a tarefa de reconciliar o país
dividido".
Carlos
Albuquerque – Deutsche Welle
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