O
processo de participação cidadã de 9N representa também uma mobilização da
cidadania catalã para denunciar que o governo do Estado espanhol, em nome da
democracia, não deixa exercer a democracia, disse à Lusa a vice-presidente do
parlamento catalão.
"As
pessoas querem expressar-se, mobilizar-se. O povo catalão quer votar e decidir
o que quer e isso é também o novo cariz deste 9N: denunciar que o governo do
Estado, em nome da democracia, não deixa exercer a democracia", disse Anna
Simó, que é também dirigente da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC).
"Vamos
aproveitar também para denunciar às instituições europeias, à comunidade
internacional, que o Governo do Estado, em nome da democracia não deixar exercer
a democracia", explicou a responsável da ERC, o segundo partido no
parlamento (e o primeiro atualmente segundo as sondagens).
A
conversa ocorre num momento de incerteza sobre se haverá ou não consulta dia 9
de novembro, com responsáveis de forças políticas pró-consulta a garantirem que
estarão, nas filas, com o boletim de voto na mão.
"As
pessoas podem opinar. Mas parece que nem isso é do agrado do Governo espanhol.
O presidente da Generalista, perante tantas dificuldades e limitações à
democracia que o Governo espanhol quer colocar, retirou a consulta. Agora
trata-se apenas de que as pessoas possam opinar. Consideramos que o presidente
tem que continuar em frente", afirmou.
Todo
o processo continua marcado por tensão e o pacto político que outrora havia
entre grande parte do arco parlamentar catalão, está hoje muito mais diluído e
até em risco: prova disso o facto da ERC poder votar contra as propostas
orçamentais da CiU, partido do Governo.
Simó
explica que o facto do primeiro modelo de consulta ter sido abandonado pelo
presidente regional catalão, Artur Mas - que anunciou o novo modelo de
"participação cidadã", agora também em risco perante novo eventual
recurso do Governo - alterou a dinâmica, acelerando o passo seguinte: eleições.
"Desde
a extrema-esquerda parlamentar, passando pela esquerda ecosocialista, pela
social-democracia e o centro direita liberal e democrata-cristão no parlamento
- um arco muito plural -, acordamos realizar uma consulta. A unidade estava
aqui", disse.
"De
repente o presidente disse que não continua adiante com esta consulta e
produz-se essa divisão. Já sabíamos que o Governo e o poder de Estado tentaria
bloquear isto como pudesse", afirmou.
Agora,
explicou, esses mesmos grupos políticos estão agora a pedir que haja eleições
"quanto antes" para que os catalães possam decidir sobre um ponto
central: querem ou não independência.
"Depois
do 9N tem que se convocar eleições o quanto antes. Se há uma maioria
parlamentar a favor da independência, declara-se a independência e depois
negoceia-se (com o Estado espanhol)", disse.
"Independência
sim ou não. É o que dizemos que tem que se perguntar nas eleições. E se houver
uma maioria pró-independentista no parlamento da Catalunha, depois das
eleições, a ERC considera que primeiro se declara a independência e depois se
negoceia. Será uma declaração de um parlamento da Catalunha, não uma
proclamação e depois vai-se negociar", afirmou.
Depois
dessa declaração, explica, avançariam "três agendas - a catalã a espanhola
e a internacional" para criar uma comissão interdisciplinar que defina
"que modelo de país" se pretende e para começar a "definir como
se reflete esse modelo de país numa constituição catalã".
"Depois
proclama-se a independência. Que pode depois ser até referendada",
afirmou.
Para
Anna Simó este é um processo irreversível e, cada vez que o Estado espanhol
toma uma decisão contrária, apenas leva a que "mais gente se rebele"
e se junte às filas independentistas.
"O
que move este movimento popular tão amplo, potente e transversal é a vontade de
regeneração e de aprofundamento democrático, de justiça social. Há muita gente
que não é independentista mas que chegou à conclusão que com um sistema
autonómico como se montou e se executa, Catalunha e os catalães, têm
perdido", afirmou.
"Eu
sou independentista desde os 16 anos e por uma questão emocional, de
identidade. Mas também por uma questão social. Porque consideramos que sem
poder gerir os nossos próprios recursos e competências, não poderemos dar às
pessoas que vivem neste país, independentemente de como se sinta, de que língua
fala, não podemos dar-lhes o que necessitam", afirmou.
Simó
insiste que a melhor solução seria um referendo ao estilo escocês onde, se
vencer o 'não' se termina este assunto. Mas nunca alargado a todo o território
espanhol.
"Onde
é que já se viu isso? Os galeses, os ingleses votaram no referendo da Escócia?
Em nenhum lado, em nenhum referendo de autodeterminação, vota o todo pela
parte", afirmou.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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