Estudantes
exigem demissão de chefe do executivo
02
de Outubro de 2014, 04:22
Hong
Kong, China, 01 out (Lusa) -- Os estudantes de Hong Kong fizeram hoje um
ultimato ao chefe do executivo local, Leung Chun-Ying, exigindo que se demita
até quinta-feira, sob pena de ocuparem edifícios governamentais, excluindo
serviços sociais ou de saúde.
Este
ultimato surge após dois meses de protestos, iniciados a 01 de julho -- data em
que se assinala a transferência da soberania de Hong Kong do Reino Unido para a
China - com a marcha anual pela democracia, que este ano reuniu centenas de
milhares de pessoas nas ruas daquela Região Administrativa Especial chinesa.
O
principal mote da marcha foi a reivindicação da democracia plena em Hong Kong e de menos
interferência nos assuntos locais por parte de Pequim, através de uma reforma
eleitoral que consagre o sufrágio universal.
O
protesto seguiu-se à publicação do "Livro Branco" de Hong Kong, em
que o Governo central chinês reafirma o seu controlo e soberania sobre o
território, e ao encerramento da votação num referendo informal de dez dias
sobre a reforma democrática, que contou com a participação de mais de 780 mil
residentes de Hong Kong, quase um quarto dos 3,47 milhões de eleitores
registados em 2012.
O
referendo, que pedia aos residentes da antiga colónia britânica para escolherem
um de três métodos de eleição do próximo chefe do Governo, em 2017, foi lançado
pelo movimento pró-democrata "Occupy Central", nome do distrito
financeiro de Hong Kong.
O
chefe do Governo de Hong Kong é escolhido por um colégio eleitoral formado por
1.200 membros, representativos dos diversos setores da sociedade, dominado por
elites pró-Pequim.
O
aumento do descontentamento para um nível sem precedentes traduziu-se, a 22 de
setembro, num boicote de uma semana às aulas por milhares de estudantes de mais
de 25 universidades e institutos, ao qual se juntaram, dias depois, cerca de
mil estudantes do ensino secundário local.
A
agitação estudantil surgiu uma semana depois de mais de 1.500 ativistas terem
marchado pelas ruas de Hong Kong vestidos de preto, com enormes faixas e
cartazes, por um sufrágio universal genuíno, no primeiro grande protesto desde
que a Assembleia Nacional Popular decidiu, a 31 de agosto, que os aspirantes ao
cargo vão precisar do apoio de mais de 50% de um comité de nomeação para
concorrer à eleição e que apenas dois ou três serão selecionados.
Pequim
prometeu deixar os residentes de Hong Kong escolherem o seu próximo líder em
2017 por voto direto - metodologia que colocaria fim ao atual sistema de
eleição do chefe do executivo, assente no tal comité eleitoral de 1.200 pessoas
- mas com a condição de que os candidatos sejam aprovados por um comité de
nomeação, algo que os pró-democratas contestam, alegando que assim só os
candidatos pró-Pequim terão luz verde.
Ou
seja, a população de Hong Kong exercerá o seu direito de voto mas só depois
daquilo a que os democratas chamam 'triagem'.
Hong
Kong beneficia de liberdades não garantidas no interior da China, incluindo
liberdade de expressão e o direito ao protesto, mas o medo de que que estas
liberdades estejam a ser postas em causa tem vindo a aumentar.
A
reforma proposta por Pequim terá de ser ainda submetida ao Conselho Legislativo
de Hong Kong (LegCo, parlamento) e aprovada por dois terços dos 70 deputados,
sendo que 27, do campo pró-democrata, anunciaram ter-se unido num compromisso
pelo veto.
O
passado fim-de-semana foi marcado por incidentes, com os protestos a
saldarem-se, no sábado, em distúrbios junto à sede do Governo, com 34 feridos e
mais de 70 detenções, e no domingo, no arranque antecipado da campanha de
desobediência civil do grupo Occupy Central, cujo início estava só previsto
para hoje, Dia Nacional da China, e de que resultou já a detenção de cinco
figuras pró-democratas, incluindo três deputados, num protesto junto ao
complexo governamental.
Os
manifestantes, que saíram hoje novamente à rua aos milhares, contam com o apoio
de voluntários que lhes levam alimentos, água e máscaras para fazer frente ao
gás lacrimogéneo, permitindo assim que prossigam com aquele que se começa a
chamar "o protesto dos guarda-chuvas", numa referência ao uso dos
mesmos como 'escudo' face ao lançamento de gás pimenta.
Depois
de jovens macaenses se terem juntado aos protestos pelo sufrágio universal em Hong Kong , o académico
Larry So disse à Lusa que tal participação "vai ter reflexos" no
território, estando o seu Governo atento aos movimentos pró-democracia que
agitam a região vizinha.
"Alguns
jovens de Macau, sobretudo os mais envolvidos com associações pró-democracia,
estão a participar ativamente nos protestos em Hong Kong e a apoiar
estes movimentos. E muitos deles vão trazer essa experiência para Macau",
sustentou o professor do Instituto Politécnico de Macau.
"Eles
[jovens de Macau] estão a aprender com a experiência. No próximo mandato de
Fernando Chui Sai On [reeleito em agosto chefe do executivo macaense] algo vai
passar-se, mas claro que não com a mesma dimensão registada em Hong Kong ",
observou o académico natural da antiga colónia britânica e que reside em Macau
há mais de uma década.
Para
o académico, o Governo de Macau também está atento às movimentações na região
vizinha: "Por isso é que eles não gostam de deixar entrar os ativistas de
Hong Kong quando há manifestações em Macau, como no 1.º de Maio ou no 1.º de
Outubro. É por isso que os colocam na 'lista negra' e os impedem de passar a
fronteira", defendeu.
Para
o ativista de Macau Jason Chao, que tem estado a acompanhar 'in loco' os
protestos mas apenas como 'observador', como frisou, "a luta pela
democracia em Hong Kong
é muito importante para Macau porque, de certa forma, está a guiar o caminho
para a democratização e reforma política no território". "Macau
partilha o mesmo sistema político e vai seguir, mais ou menos, as mesmas
pisadas de Hong Kong", argumentou.
ANC
(DM/FV) // APN - Lusa
Governo
pede a manifestantes para dispersarem pacificamente
O
governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong pediu hoje aos
manifestantes para "dispersarem pacificamente o mais rápido
possível", enquanto a polícia foi vista a transportar caixas com balas de
borracha.
O
anúncio do governo de Hong Kong seguiu-se aos momentos de confronto entre
manifestantes pró-democracia e a polícia frente aos escritórios do Executivo de
Hong Kong.
O
governo disse também que os protestos estão a ter um "sério impacto"
na vida da cidade.
"O
Executivo e a polícia apelam a todos os que se encontram frente às instalações
da polícia e do chefe do governo para não bloquearem os acessos e dispersarem
pacificamente o mais rápido possível", refere um comunicado oficial.
Os
manifestantes que ocupam há cinco dias as ruas do centro da cidade de Hong Kong
exigem respeito pelo sufrágio universal e pedem a demissão do atual chefe do
Executivo, Leung Chun-ying.
De
acordo com a France Press, os manifestantes tentaram impedir que a passagem de
caixas e bidões para o contingente policial que se encontra no local das
manifestações.
Imagens
que estão a circular nas redes sociais e nas estações de televisão mostram as
caixas de madeira com a indicação: "Projéteis de borracha, 38 mm ".
Outras
fotografias mostram os bidões de lata com a inscrição: "1.5 in , CS", uma
possível referência a gás lacrimogéneo, segundo os manifestantes.
O
porta-voz da polícia de Hong Kong, Hoin Chun-tat disse, entretanto, que as
autoridades não vão permitir que os manifestantes cerquem edifícios
governamentais, bloqueiem ruas ou "provoquem distúrbios à ordem
pública".
Os
líderes dos protestos apelaram hoje para que mais pessoas se juntem à
manifestação no centro de Hong Kong.
"Estou
preocupado. A polícia pode usar aa força para dispersar o movimento esta noite.
Toda a gente está a discutir o que fazer a seguir".
A
agitação em Hong Kong
subiu para um nível sem precedentes a 22 de setembro, num boicote de uma semana
às aulas por milhares de estudantes de mais de 25 universidades e institutos,
ao qual se juntaram, dias depois, cerca de mil estudantes do ensino secundário
local.
O
protesto surgiu uma semana depois de mais de 1.500 ativistas terem marchado pelas
ruas de Hong Kong vestidos de preto, com enormes faixas e cartazes, por um
sufrágio universal genuíno, no primeiro grande protesto desde que a Assembleia
Nacional Popular decidiu, a 31 de agosto, que os aspirantes ao cargo vão
precisar do apoio de mais de 50% de um comité de nomeação para concorrer à
eleição e que apenas dois ou três serão selecionados.
Pequim
prometeu deixar os residentes de Hong Kong escolherem o seu próximo líder em
2017 por voto direto - metodologia que colocaria fim ao atual sistema de
eleição do chefe do executivo, assente no tal comité eleitoral de 1.200 pessoas
- mas com a condição de que os candidatos sejam aprovados por um comité de
nomeação, algo que os pró-democratas contestam, alegando que assim só os
candidatos pró-Pequim terão luz verde.
Ou
seja, a população de Hong Kong exercerá o seu direito de voto mas só depois
daquilo a que os democratas chamam 'triagem'.
Lusa,
em Noticias ao Minuto
Pequim
alerta para risco de "caos" e reitera apoio ao líder do Governo
Pequim
advertiu hoje que os protestos pró-democracia em Hong Kong podem empurrar
a cidade para o "caos" e reafirmou o seu "forte apoio" ao
chefe do Governo, CY Leung, cuja demissão é exigida nas ruas pelos
manifestantes.
"O
Governo central vai continuar firme e inabalavelmente a apoiar medidas e
políticas tomadas pelo líder CY Leung e pela polícia da Região Administrativa
Especial na gestão destes protestos, ilegais de acordo com a lei", diz um
editorial publicado na primeira página do Diário do Povo, jornal do órgão
central do Partido Comunista Chinês, num tom alarmista.
"Se
os assuntos não forem lidados de acordo com a lei, a sociedade de Hong Kong vai
cair no caos", refere o mesmo artigo.
O
jornal descreve os manifestantes -- que pedem sufrágio universal pleno e a
demissão de CY Leung -- como estando "egoisticamente" a perturbar a
ordem social de uma forma que "prejudica a estabilidade social e a
prosperidade económica de Hong Kong".
Desde
que a escalada dos protestos no passado domingo, Pequim tem manifestado o seu
apoio total às autoridades da antiga colónia britânica e expressado a sua
oposição ao que designa de "atos ilegais".
Pequim
tem vindo a censurar no interior da China informação relacionada com os
protestos em Hong Kong ,
os quais têm levado nos últimos dias milhares de pessoas para as ruas.
Esta
semana as autoridades chinesas detiveram uma dezena de ativistas em todo o país
e interrogaram 60 outros que expressaram o seu apoio às manifestações
pró-democracia em Hong Kong ,
de acordo com organizações de defesa dos direitos humanos, como a Amnistia.
Isso
"só vem sublinhar a razão pela qual tantas pessoas em Hong Kong temem o
crescente controlo de Pequim nos assuntos internos da sua cidade", disse
William Nee, investigador da Amnistia na China, num comunicado citado pela
agência noticiosa AFP.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
Ex-Governador
britânico de Hong Kong diz que diálogo tem de substituir gás lacrimogéneo
O
último governador britânico de Hong Kong instou, na quarta-feira, a um
"diálogo genuíno" no âmbito dos protestos pró-democracia, afirmando
que Pequim renegou as suas promessas de permitir à sua Região Administrativa
Especial decidir sobre os seus próprios assuntos.
"Penso
que temos de ver o diálogo substituir o gás lacrimogéneo e o gás pimenta",
disse Chris Patten, durante um programa radiofónico da BBC, numa alusão aos
incidentes de domingo.
Neste
sentido, defendeu que "de modo a salvar a face de Pequim e do Governo de
Hong Kong, a coisa certa a fazer é partir para um novo período de consulta,
fazendo uma auscultação genuína".
Os
residentes de Hong Kong contestam a recusa de Pequim em garantir pleno sufrágio
universal nas próximas eleições para o chefe do Executivo, em 2017.
O
último governador inglês disse ainda que no quadro dos acordos sino-britânicos
que antecederam a transferência de soberania de Hong Kong para a China, em
1997, ficou "absolutamente claro que o ritmo da democratização é um
assunto da competência do Governo de Hong Kong".
Pequim
anunciou, a 31 de agosto, anunciou que os aspirantes ao cargo de chefe do
Executivo de Hong Kong vão precisar de reunir o apoio prévio de mais de metade
dos membros de um comité de nomeação, controlado pelo governo central chinês,
para poderem concorrer à próxima eleição e que apenas dois ou três candidatos
serão selecionados.
Os
residentes da antiga colónia britânica poderão exercer o sufrágio universal mas
só depois daquilo que os democratas designam de 'triagem'.
Isto
quando a China tinha prometido à população de Hong Kong, cujo chefe do Governo
é escolhido por um colégio eleitoral composto atualmente por cerca de 1.200
pessoas, que poderia escolher diretamente o seu líder no ano de 2017.
As
propostas de Pequim constituem "uma violação às promessas que as próprias
autoridades chinesas fizeram a Hong Kong. Eles disseram que este tipo de
assuntos cairia na esfera da autonomia do Governo de Hong Kong e agora estão a
renegar isso", afirmou Patten, defendendo, por isso, serem legítimas as
razões de protesto dos residentes da antiga colónia britânica.
"A
ideia de que tudo isto está a ser atiçado por agitadores externos é um insulto
a todas estas pessoas de Hong Kong, muitas delas bastante jovens, que se
levantam por aquilo que lhes foi prometido".
Toda
esta situação tem sido "muito, muito mal gerida", disse.
"Claro
que o facto de estar a ser mal gerida leva-nos a questionar se as autoridades
chinesas ou aqueles que os representam no Governo de Hong Kong levaram
realmente a sério a Declaração Conjunta Sino-Britânica como deveriam",
apontou.
Sobre
uma eventual resposta violenta por parte da China às manifestações que têm
juntado milhares de pessoas há vários dias em Hong Kong , Patten disse
não acreditar numa repressão de contornos semelhantes à de Tiananmen, em 1989.
"Não
acredito que a liderança chinesa seja tão louca", comentou, sublinhando
que "a China está preocupada com a sua relação com o resto do mundo e com
a sua imagem (...). Não acredito que façam uma coisa tão estúpida como enviar o
exército".
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