Antonio
Lassance* – Carta Maior
Armínio
Fraga tem em seu currículo ter dado o maior cavalo de pau que a economia
brasileira já viu, quando era presidente do Banco Central.
Concordemos
ou não com a atual política do Banco Central do Brasil, ela tem pelo menos um
elemento positivo: sua condução está a cargo de um servidor de carreira do
próprio BC, Alexandre Tombini. Equivocado ou não, ele não é uma raposa tomando
conta do galinheiro.
Seus
predecessores, Henrique Meirelles e Armínio Fraga, eram cortadores de cebola na
cozinha do sistemafinanceiro internacional. Serviam de bandeja, com os
cumprimentos da casa, os pratos quentes da política monetária, feitos para
agradar o paladar e encher o gigantesco estômago do rentismo com toneladas dedinheiro sangrado
dos cofres públicos, por meio da política de taxas de juros despudoradas.
Armínio
Fraga tem um agravante em relação a Meirelles. Além de ter feito o que o mercado financeiro
dele esperava, sempre esteve à disposição para servir de leão de chácara dos
interesses eleitorais do PSDB no meio das altas finanças.
Mais
uma vez, ele se coloca em público para cumprir esse papel. Em troca, tem uma
nota promissória assinada pelo candidato tucano, Aécio Neves, que promete
levá-lo ao Ministério da Fazenda, caso chova canivete e o PSDB conquiste as
chaves do Planalto.
Fraga
foi o principal responsável pelo cavalo de pau na economia em 2002, quando
levou investidores e empresários ao pânico com o terrorismo criado
contra a perspectiva de uma vitória de Lula.
Nesta
campanha, os movimentos da bolsa e do dólar, que oscilam claramente
ao sabor dos interesses dos especuladores na campanha eleitoral, mandam um
recado claro: se a oposição vencer, eles faturam.
Fraga
tem em seu currículo números acachapantes para mostrar. Sua gestão à frente do
BC deixou a inflação fora da meta, com a projeção anual acima de dois dígitos,
e dólar a quase R$4,00. O risco país, avaliado pelas agências indicava um
Brasil de cócoras.
A
herança maldita recebida em 2003 tem as digitais de Armínio Fraga. E ele está
pronto, mais uma vez, a dar sua contribuição. Suas declarações à imprensa do
mundo inteiro e seus alertas aos grandes investidores internacionais são feitos
sob medida para dar um empurrãozinho e levar o nome do Brasil à lona.
Os
que dizem defender a “independência” do Banco Central, que pregam amor à
responsabilidade com as contas públicas e proclamam seu zelo ao controle da
inflação não se fazem de rogados. Preferem, para o comando da instituição, um
cabo eleitoral do PSDB. Alguém que, em um ambiente movido por expectativas, faz
questão de soltar os lobos para caçar.
O
mundo das finanças não esconde sua satisfação em ter um dos seus como
interlocutor na campanha oposicionista. Aliás, não haveria sequer o menor
escrúpulo em colocar o próprio “Lobo de Wall Street” para cuidar da política monetária.
Quem,
melhor que os lobos, para fazer bem o serviço de glamourizar a ganância,
chamando a isso de responsabilidade fiscal? Quem, melhor que os lobos, para
depenar o país sem ruborizar de vergonha e com a sensação de dever cumprido?
Neste
filme, o PSDB não passa de um reles coadjuvante. É, no muito, um Cavalo de
Troia em cuja barriga estufada se acomodou a tropa do rentismo.
Cada
vez mais esganiçados, os financistas esperam o momento oportuno para
serem expelidos dessas entranhas obtusas, abrir os portões e declarar aberta a
temporada de espólios.
Aécio
finge ser candidato à presidência. Quando prometeu encontrar uma solução para
acabar com o fator previdenciário, foi surpreendido, no dia seguinte, por uma
entrevista de Fraga que alfinetava a todos os candidatos, sem exceção. O garoto
propaganda da alta finança reclamou nunca ter visto uma campanha tão
“populista” – sem poupar ninguém.
No
dia seguinte, Aécio desmentiu a si próprio. Disse que não havia prometido
acabar com o fator previdenciário, e sim, estudar alternativas para ver se
seria possível, quem sabe um dia… e por aí vai.
Ficou
claro quem é que manda?
*Antonio
Lassance é cientista político.
Na
foto: Armínio Fraga /Aécio Neves
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